Autoridades caribenhas participam de missão ministerial organizada pelo IICA com foco na cooperação Sul-Sul
Ministros e vice-ministros de Agricultura de 11 nações do Caribe participaram, entre 12 e 16 de março, em Brasília (Brasil) e Buenos Aires (Argentina), de reuniões para o intercâmbio de experiências com gestores públicos e pesquisadores.
A missão, composta por autoridades de Antígua e Barbuda, Dominica, São Cristóvão e Nevis, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia, Bahamas, Guiana, Haiti, Jamaica, República Dominicana e Suriname, foi liderada pelo diretor geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero. Representantes da Comunidade do Caribe (Caricom), da Organização dos Estados do Caribe Oriental (OECS) e do Instituto Caribenho de Pesquisa e Desenvolvimento da Agricultura (Cardi) também participaram das visitas técnicas, assim como o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Brasil, Caio Rocha.
Em um painel realizado na sede do IICA Brasil, em Brasília (DF), no dia 12, foi possível debater aspectos da cooperação Sul-Sul entre Brasil e Caribe, bem como políticas públicas nacionais adotadas para a agricultura familiar e sua relação com a segurança alimentar e nutricional.
“Nossa proposta é construir pontes entre os países e as regiões da América, principalmente o Caribe, que vivencia problemas muito sérios que põem em risco a viabilidade das nações. Entendemos que no Brasil há um acúmulo de conhecimento, boas práticas e tecnologias que poderiam ser direta ou indiretamente adaptadas às condições dos países caribenhos”, destaca Otero, ao pontuar que se trata de um processo gradual, mas que a filosofia de transformar juntos, em redes de parceria, é um princípio fundamental da cooperação Sul-Sul.
“Vemos esta missão como o primeiro passo importante para o fortalecimento da cooperação entre os países da Organização dos Estados do Caribe Oriental (OECS), os governos da Argentina e do Brasil e o IICA. Esta iniciativa nos oferece uma plataforma sobre a qual podemos aprofundar a cooperação Sul-Sul e compartilhar conhecimentos e habilidades”, disse Beverly Best, chefe de Cooperação para o Desenvolvimento e Mobilização de Recursos da OECS.
“Como a maioria dos agricultores dos países da OECS é de pequeno porte, estamos diante de uma enorme oportunidade para colaborarmos, para aprendermos com algumas boas práticas que aqui existem e para compartilharmos os avanços alcançados na agricultura”, acrescentou Best.
A OECS é composta por Antígua e Barbuda, Dominica, Granada, Montserrat, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia, São Cristóvão e Nevis, Anguilla, Martinica e Ilhas Virgens Britânicas. A população total desse conjunto de países é 1,8 milhões de habitantes.
Conhecendo boas práticas
Com o objetivo de conhecer os resultados de pesquisas para o aperfeiçoamento e a tropicalização da produção de hortaliças com foco na agricultura familiar, o grupo de autoridades do Caribe também visitaram, em Brasília, a Embrapa Hortaliças.
Como os países caribenhos são muito suscetíveis a fenômenos meteorológicos extremos, entre outros efeitos das mudanças climáticas, há consequências negativas para a produção de alimentos. Sendo assim, a programação contemplou uma visita a uma câmara de crescimento vegetal, um equipamento que auxilia a pesquisa na simulação de diferentes variáveis climáticas (temperatura, umidade, intensidade luminosa e concentração de oxigênio no ar), com intuito de desenvolver plantas mais resistentes. “A partir da projeção de cenários climáticos adversos, é possível selecionar os materiais genéticos mais adaptados ao estresse hídrico ou mais tolerantes às altas temperaturas”, exemplifica o pesquisador Ítalo Guedes, da Embrapa Hortaliças.
Nos campos experimentais da Unidade de Pesquisa, os ministros e representantes caribenhos também observaram o cultivo protegido e o cultivo hidropônico de hortaliças, que viabilizam a produção mesmo diante de condições ambientais desfavoráveis, como chuvas excessivas, ou escassez de recursos naturais como água e solo. “Estamos buscando implementar tecnologias para o cultivo protegido de hortaliças no nosso país, não somente por causa da insegurança alimentar, mas em especial porque enfrentamos problemas como degradação do solo e baixa disponibilidade de terra”, comenta Colette Blanchet, da diretoria de cooperação técnica internacional do Ministério da Agricultura do Haiti, ao ressaltar o interesse em tecnologias simples que permitam produzir mais alimento com menor uso da terra.
Na estação de adubação orgânica, a comitiva acompanhou as etapas do processo de compostagem com base no aproveitamento de resíduos orgânicos que se transformam em adubos para as lavouras de hortaliças. Esse assunto despertou o interesse do grupo, especialmente porque os países não tem amplo acesso aos fertilizantes minerais, geralmente importados e, com isso, enfrentam dificuldades na nutrição de plantas. Por fim, o grupo concluiu a visita com uma ida ao campo de batata-doce, uma cultura rústica pouco dependente de insumos agrícolas e amplamente adaptada às condições tropicais e à agricultura familiar.
As autoridades ainda visitaram a Central de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) para conhecer a logística de distribuição e comercialização dos alimentos e detalhes do programa de aquisição de alimentos (PAA), que se tornou exemplo de política pública para a compra de produtos da agricultura familiar.
Acordo de cooperação
No Brasil, último encontro da missão caribenha foi uma cerimônia que marcou o compromisso do governo brasileiro para auxiliar 11 países da região do Caribe na área de segurança alimentar e nutricional. Para isso, foi firmado um protocolo de cooperação internacional entre o IICA e o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), assinado pelo ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, e o diretor geral do IICA, Manuel Otero. O acordo prevê a troca de informações, tecnologias e métodos para o fomento da agricultura familiar.
Agenda na Argentina
Na capital Buenos Aires, a delegação do IICA participou de uma reunião para a troca de conhecimentos com membros da comissão de Agricultura do Senado da Argentina. No encontro, as autoridades caribenhas manifestaram interesse em estreitar laços com o país sul-americano com o objetivo de incorporar informação e inovação, principalmente na área de tecnologia aplicada à produção agropecuária.
A agenda das autoridades caribenhas incluiu uma reunião com o presidente da Comissão de Agricultura do Senado, Alfredo De Ángeli, e uma visita ao Centro Nacional de Pesquisas Agropecuárias do Institutro Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta), na qual percorreram núcleos especializados em Recursos Naturais, Clima, Água e Agricultura Familiar acompanhados por Juan Balbín, titular da entidade. Balbín explicou longamente aos ministros sobre a atividade do Inta e sua interação com os setores privado e acadêmico. As autoridades do Caribe também se reuniram com o ministro da Agroindústria da Argentina, Luis Miguel Etchevehere, e com o secretário de Relações Exteriores, Daniel Raimondi.
A autoridade responsável pela área de Integração Comercial e Econômica da Comunidade do Caribe (Caricom), Desiree Field-Ridley, explicou que a agricultura é um dos setores-chave da região, mas não tem crescido no grau necessário e esperado. “Por isso, estamos buscando um tipo de auxílio que nos permita receber o apoio necessário para essa atividade. O trabalho do IICA é muito importante para isso, e vemos que podemos obter ações de cooperação do Brasil e da Argentina. A agricultura deve ser um negócio que traga a juventude e investidores e deve unir tecnologia e investimentos”, afirmou.
Barton Clarke, diretor-geral do Instituto de Pesquisa Agrícola e Desenvolvimento do Caribe (Cardi), sublinhou a importância das políticas públicas da Argentina e do Brasil para o desenvolvimento de uma agricultura fortemente vinculada ao comércio global.
“Esta lição é muito importante para nós. Se faz necessário investir na pesquisa para inovar. Os países do Caribe são todos pequenos e enfrentam problemas de desemprego, de pobreza, de altos custos de energia, e agricultura tem um papel fundamental para ajudá-los a resolver questões sociais e econômicas. Temos de construir capacidades para a pesquisa no Caribe, para investigações estratégicas, que possam ajudar a criar inovações e propriedade intelectual. Agradeço ao IICA por organizar esta visita e a cooperação entre os países, para que possamos estreitar os nossos laços e avançar em alianças”, completou Clarke.
O ministro de Agricultura de São Cristóvão e Nevis, Alexis Jeffers, enfatizou o “grande apoio do IICA no Caribe” e convocou seus colegas a aprofundar a cooperação para “eliminar a pobreza, capacitar os jóvens e mitigar os efeitos da mudança climática para que a região possa atingir seu potencial de desenvolvimento”.
Antes de regressarem a seus países, os ministros e representantes do Caribe visitaram, em San Nicolás, a Expoagro, a exposição agroindustrial em campo aberto mais importante da Argentina. Ali seguiram um percurso especialmente preparado para eles pelos organizadores dessa mostra.
Confira também a galeria animada de imagens do evento no Brasil: https://youtu.be/yZiVH-xs7SU
IICA
Com informações da Embrapa Hortaliças