Foi o que disse Fadel Ndiame, Vice-Presidente da Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA), organização engajada na transformação agrícola de 11 países africanos para melhorar a renda dos produtores e a segurança alimentar.
Brasília, 25 de março de 2021 (IICA). A Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA), que opera em 11 países desse continente visando a uma transformação agrícola que aumente a renda dos produtores e melhore a segurança alimentar, identificou o modelo de agricultura tropical do Brasil e a sua liderança em exportações nos setores de carne e soja, recuperação de solos e reflorestamento como as áreas em que África pode obter cooperação da América Latina e do Caribe para se desenvolver.
A colocação foi feita por Fadel Ndiame, Vice-Presidente da AGRA, na sua participação na Semana Internacional de Agricultura Tropical, organizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) para compartilhar experiências de pesquisadores e empreendedores no uso sustentável de tecnologias voltadas para a adaptação do setor agrícola às condições climáticas e ambientais do trópico.
Neste sentido, o representante da AGRA, organização fundada em 2006 sob a liderança do ex-Secretário Geral da ONU Kofi Annan, com o objetivo de catalisar uma transformação agrícola inclusiva na África, aumentando a renda e melhorando a segurança alimentar de 30 milhões de lares agrícolas em 11 países, expressou interesse em estabelecer uma cooperação sul-sul com a América Latina e o Caribe, especialmente no tocante ao modelo de agricultura tropical do Brasil, à recuperação de solos, à liderança nas exportações dos setores de carne e soja e ao reflorestamento.
“Estamos muito interessados em oportunidades de cooperação sul-sul na recuperação de milhões de hectares de solos ácidos, na exploração de modelos de desenvolvimento, como o modelo tropical do Brasil que é muito diverso do nosso. Interessa-nos o intercâmbio de conhecimento sobre como o Brasil se transformou em um dos cinco exportadores de alimentos mais importantes, especialmente nos setores de carne e soja, explorando as oportunidades no trabalho de reflorestamento, recuperação de terras e serviços ecossistêmicos”, afirmou Ndiame, um sociólogo com mais de 30 anos de experiência em políticas e programas de agricultura e desenvolvimento econômico.
O líder africano também identificou como outro ponto de colaboração a experiência da Embrapa no desenvolvimento de pesquisa no cerrado, o segundo maior bioma (conjunto de ecossistemas que têm semelhanças de clima, fauna e flora) do Brasil. Trata-se de uma savana de clima tropical com a maior biodiversidade do mundo (5% dos animais e das plantas de todo o planeta).
O cerrado é também um importante manancial de água no país, pois nele estão as principais nascentes que alimentam oito das 12 regiões hidrográficas da nação. Além disso, o seu solo, que pode armazenar grande quantidade de carbono, teve a sua produtividade na agricultura e na agropecuária enormemente aumentada, apesar da baixa fertilidade natural, graças aos avanços tecnológicos.
Na Semana Internacional da Agricultura Tropical, também se acolheram subsídios para a consolidação de uma posição convergente das Américas na Cúpula sobre os Sistemas Alimentares convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o final de setembro em Nova York.
Ndiame disse que a Cúpula será o pilar para avançarmos na sustentabilidade e promovermos dietas mais saudáveis, mas que cada país e continente deverá traçar a sua própria rota para um sistema alimentar sustentável.
O setor agrícola na África
No encontro, o Vice-Presidente da AGRA reexaminou o papel fundamental do setor agrícola na economia dos países africanos. Ele ressaltou que o setor emprega entre 60% e 80% da população – ou seja, cerca de 54% da população ativa no continente – e que os pequenos agricultores produzem em torno de 80% dos alimentos.
Comentou ainda que, no ano anterior, mesmo com a pandemia da Covid-19, o setor cresceu 5%, mas que esses esforços deverão ser redobrados porque 250 milhões de pessoas na África atualmente sofrem de subnutrição, embora esses índices tenham sido reduzidos em diferentes nações.
“Para 2050, um dos objetivos é que possamos aumentar a produção de alimentos em cerca de 350%. Produzir melhor, mais e de modo sustentável é o nosso slogan”, acrescentou.
A seu ver, para se alcançar essa meta são necessários maior investimento público, fortalecimento da institucionalidade, estruturas regulatórias e de políticas mais robustas, melhoria da infraestrutura, mais pesquisa e inovação, bem como acesso a tecnologias e digitalização para otimizar o desempenho da produtividade e atrair os jovens para a atividade agrícola.
“São desafios que enfrentamos com outras ameaças, como a mudança do clima e a seca que afetam consideravelmente os pequenos produtores, a degradação da terra, o acesso precário a financiamento, os altos custos operacionais envolvidos nos serviços, a infraestrutura e o arcabouço de políticas que muitas vezes ficam debilitados. Com digitalização, investimento em infraestrutura e tecnologias, cremos que a África pode dar um grande salto, adquirir e compartilhar experiências com outros países, que é o que os outros fizeram, para se chegar a uma cooperação sul-sul e a África poder sem dúvida a começar a crescer”.
O líder da AGRA concluiu assegurando que, devido à sua extensão de terras, o continente africano terá pela frente grandes oportunidades para a transformação sistêmica da agricultura, pois “ainda temos espaços vazios e o entorno correto para fomentar a produção”, bem como “recursos não explorados, recursos hídricos e depósitos importantes de nutrientes-chave (potássio, fosfatos, zinco) que podem ser utilizados nessa transformação”.
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