O estudo conclui que a região pode se consolidar como líder na promoção da segurança alimentar e do avanço rumo à sustentabilidade mediante boas práticas no uso dos solos.
São José, 29 de abril de 2022 (IICA) – O emprego das principais metodologias para medir as reservas de carbono do solo e as emissões de gases de efeito estufa no campo, o uso da terra e o sequestro potencial de carbono mediante a adoção de práticas de gestão sustentável são fundamentais para se alcançar a sustentabilidade.
Um estudo desenvolvido pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e pelo Centro de Gestão e Sequestro de Carbono da Universidade Estadual de Ohio (C-MASC), intitulado “Sequestro de carbono no solo mediante a adoção de práticas de gestão sustentável: potencial e oportunidade para os países das Américas”, apresenta uma síntese de conhecimentos relacionados com o potencial de sequestro de carbono para os solos das Américas.
O trabalho foi conduzido por um grupo de peritos liderados por Carlos Eduardo Cerri, da Faculdade de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), Brasil, e por Rattan Lal, Diretor do Centro de Gestão e Sequestro de Carbono (C-MASC) da Universidade Estadual de Ohio.
O estudo tem como objetivo orientar os novos protocolos destinados a frear a degradação das terras e a promover a saúde do solo e o sequestro de carbono no solo do continente americano.
O uso intensivo dos solos para atender à crescente demanda de alimentos, fibra e energia ocasiona perdas de carbono do solo e aumenta, por consequência, as emissões de gases de efeito estufa (GEI). Por essa razão, é vital dispor-se de práticas sustentáveis de sequestro de carbono no solo e de agendas políticas bem encaminhadas a serem adotadas nos níveis regionais e nacionais para ajudar a mitigar a mudança do clima e fortalecer a segurança alimentar.
Uma das conclusões principais do documento são as práticas de gestão sustentável promissoras que poderiam ser adotadas nas Américas, como a lavoura zero, os cultivos de cobertura, as emendas orgânicas, a restauração de pastos mediante sistemas silvipastoris e de cultivo-gado-floresta integrados, e o reflorestamento, entre outros.
Com a adoção em grande escala de apenas duas práticas de gestão sustentável, recuperação de pastos e lavoura de conservação, a acumulação potencial de carbono no solo dos países das Américas aumentaria cerca de 2,68 Pg C (equivalente a 9,8 PgCO2) em 20 anos. Esse volume representa 7,9% das emissões anuais totais mundiais líquidas antropogênicas de gases de efeito estufa devidas à agricultura e 4,1% das emissões globais devidas à agricultura, à silvicultura e a outros usos da terra. Em termos financeiros, o potencial de sequestro de carbono estimado na publicação vai de centenas de bilhões a mais de um trilhão de dólares norte-americanos, que poderiam beneficiar os produtores e os países da região.
Em conformidade com o estudo, pequenas mudanças nas reservas de carbono podem ter impactos consideravelmente positivos na atmosfera e na mudança do clima. Estimativas recentes mostram que o carbono do solo representa 25% do potencial de soluções baseadas na natureza, 40% das quais consistem em proteger o carbono existente no solo e 60%, em reconstruir as reservas esgotadas, o que situa os sistemas agroalimentares como um ponto fundamental para a manutenção da segurança alimentar e climática global.
Outra conclusão substantiva do estudo é a constatação de que a região das Américas tem uma grande contribuição a dar à mitigação da mudança do clima e à identificação de estratégias de adaptação. Foram mostradas múltiplas opções para as práticas de gestão sustentável que poderiam ser adotadas na região para o sequestro de carbono e a mitigação da mudança do clima, a produção de alimentos e outros benefícios ambientais, levando-se em conta as preferências sociais e os contextos econômicos diferentes.
Para se alcançar esse sequestro potencial de carbono no solo é preciso estabelecer agendas técnicas e políticas nacionais e internacionais bem orientadas para fomentar e subvencionar a implementação de medidas práticas e aplicáveis em saúde dos solos e sequestro de carbono. Além disso, as diretrizes sobre monitoramento, verificação e comunicação dos resultados são fundamentais para se avaliar a eficácia dessas medidas.
A análise é parte do programa Solos Vivos das Américas, lançado em 2020 pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e pelo Centro de Gestão e Sequestro de Carbono da Universidade Estadual de Ohio (C-MASC), liderado pelo reconhecido Prêmio Mundial de Alimentação (2020) Rattan Lal e por Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.
A coordenação do estudo foi do Diretor de Cooperação Técnica do IICA, Federico Villarreal. Compartilham a autoria do documento Mauricio Cherubin e Junior Damian, da Universidade de São Paulo, e Francisco Mello, Coordenador da Secretaria Técnica da LiSAm, liderada pela Direção de Cooperação Técnica do IICA.
O programa se constitui de uma extensa rede a que pertencem governos, organizações internacionais, universidades, setor privado e organizações da sociedade civil, que unirão esforços para frear a degradação da terra e, assim, fomentar a saúde do solo e o sequestro de carbono, entre outros benefícios.
Os governos de Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, El Salvador, México, Peru e Uruguai, bem como as empresas Bayer, Syngenta e PepsiCo, além de mecanismos de cooperação técnica e associações de produtores, já são membros dessa coalizão que enfrenta a degradação de um recurso fundamental para a saúde e a vida.
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Site da iniciativa Solos Vivos das Américas