A maca é uma planta originária do Peru com milhares de anos de história. Alguém a batizou de “superalimento” pelo fato de, desde a época dos incas, ter sido muito valorizada e usada para diversos finalidades, da promoção da fertilidade ao combate da insônia.
São José, 18 de maio de 2022 (IICA) – A peruana Haydée Anccasi, empreendedora que cultiva, industrializa e comercializa a maca, planta milenar originária do seu país, foi reconhecida como um dos “Líderes da Ruralidade” das Américas pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
O prêmio, denominado “Alma da Ruralidade”, é parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural para prestar o devido reconhecimento a homens e mulheres que deixam rastro e fazem a diferença no campo do continente americano, fundamental para a segurança alimentar e nutricional e para a sustentabilidade ambiental do planeta.
Haydée cresceu falando a língua quéchua em uma comunidade camponesa do departamento de Huancavelica. Seu pai lhe transmitiu o respeito pela mãe terra – a Pachamama na mitologia inca – e a paixão pela agricultura. Mais tarde, ela cursou estudos universitários em Lima e visitou o departamento de Junín, onde conheceu o cultivo da maca, que só cresce nos Andes centrais, a mais de 4.000 metros de altitude.
Depois disso, fundou a Farinka Organics, empresa que dá sustento a 32 famílias que cultivam, com cuidado especial pelo meio ambiente, esse verdadeiro superalimento, foco hoje de atenção em muitos países do mundo por suas excepcionais qualidades nutritivas.
O Prêmio Líderes da Ruralidade é um reconhecimento para os que atendem a um duplo papel insubstituível: ser avalistas da segurança alimentar e nutricional e, ao mesmo tempo, guardiões da biodiversidade do planeta por meio da produção em qualquer circunstância. O reconhecimento, além disso, tem a função de incentivar exemplos positivos para as zonas rurais da região.
Haydée Anccasi, a mulher que se fortaleceu com a adversidade
“Sou uma mulher andina, peruana, nascida entre as montanhas e as quebradas do departamento de Huancavelica. Venho de uma família camponesa numerosa e humilde. A minha língua originária é o quéchua, e cresci em contato com a mãe terra, a água, o vento e as árvores, em harmonia com a natureza. Os meus pais e os meus avós me ensinaram a trabalhar na agricultura, e desde muito menina sou apaixonada pelos nossos grãos andinos”.
Quem conta com paixão a sua história de vida é Haydée Anccasi. Hoje, depois de ter percorrido um longo caminho desde as suas origens, essa mulher é a gerente geral e a face visível do empreendimento Farinka Organics, que se define como uma empresa socialmente responsável, dedicada à produção, transformação e comercialização de maca orgânica e de seus derivados. A Farinka está sediada no lugar de origem dessa planta, a mais de 4.000 metros acima do nível do mar, no departamento peruano de Junín.
A maca é originária do Peru com milhares de anos de história. Alguém a batizou de “superalimento”, pelo fato de, desde a época dos incas, ter sido muito valorizada e usada para diversos finalidades, da promoção da fertilidade ao combate da insônia. No entanto, foi caindo aos poucos no esquecimento até que, na década de 1980, o seu cultivo praticamente desapareceu.
Haydée conheceu o potencial nutritivo e saudável da maca em uma viagem a Junín. Fundou então a Farinka Organics, que hoje dá trabalho a 32 famílias de agricultores. Com esse empreendimento, Anccasi cumpriu o seu sonho de valorizar e divulgar um cultivo ancestral que atualmente é comercializado em Lima, Cajamarca, Loreto, Ayacucho, Arequipa, Cusco e em outras partes do Peru, e vem despertando o interesse de consumidores de diversos países. Em fevereiro de 2020, Haydée viajou para a cidade de Nuremberg, na Alemanha, a fim de participar de uma feira de alimentos e abrir novos mercados, embora as conversas posteriores tenham sido prejudicadas pela pandemia da Covid-19.
A Farinka Organics realiza todo o processo, do plantio ao processamento com que se obtém o produto final de qualidade, comercializado sob diversas apresentações, de acordo com o mercado de destino. A tarefa é levada a cabo integralmente em Junín, com o que a Farinka gera trabalho na agregação de valor e desempenha um papel social relevante.
“A maca é um produto do nosso Peru profundo, com o qual estamos revalorizando os nossos ancestrais. Nós a semeamos e cuidamos dela durante nove meses, como se fosse uma gravidez, e depois secamos o grão ao sol por 100 dias. Assim, a maca conserva os seus nutrientes naturais. Eu consumo maca diariamente há 17 anos, e graças a isso não uso açúcar”, diz Haydée.
Quando ela fala das propriedades da maca, o seu entusiasmo contagia: “É um produto de alta qualidade que ajuda o nosso sistema imunológico. Te dá inteligência e energia porque tem magnésio, zinco e selênio. Cresce somente no Peru, sendo como que a nossa bandeira. Você pode tomá-la como uma vitamina. Com a maca, você dorme profundamente e na manhã seguinte acorda feliz”.
Um longo caminho de regresso à casa
Haydée é a terceira de 11 irmãos e foi criada em uma comunidade camponesa. O seu pai, de quem, quando menina, se lembra cantando em quéchua e fazendo oferendas à Pachamama, que na mitologia inca é a mãe terra, exerceu forte influência sobre ela em uma infância cheia de carências.
“Descalça, eu levava as lhamas e as alpacas para pastar na Puna, junto com meus irmãos, em temperaturas abaixo de zero. Cozinhávamos à lenha, e o meu pai se levantava às 3 da manhã sem usar relógio, guiando-se pela luz da lua, para trabalhar no campo, onde dava duro o dia todo. A nossa educação foi muito difícil, porque não tínhamos livros. Muitas vezes, só comíamos um pouco de favas e cevada. Desde pequena, eu sonhava em visitar Lima e outros países, mas isso parecia inalcançável. Essas dificuldades me fizeram mais forte”, diz ela.
Haydée estudou na Universidade Nacional de Educação Enrique Guzmán y Valle, conhecida como La Cantuta, em Lima. Ali, na capital, conheceu seu esposo, aluno da Universidade de San Marcos. Em seguida, voltou para Huancavelica, onde não conseguiu vaga para ensinar e se dedicou a vender quinoa e outros produtos nativos nos mercados e nas ruas. Conheceu a maca, o seu cultivo e os seus benefícios em uma viagem a Junín, local de origem do seu marido, com quem hoje tem duas filhas. Os seus sogros cultivavam a maca e lhe ensinaram os seus segredos, e ela decidiu levar sementes para plantar em Huancavelica.
A morte do pai foi um divisor de águas na vida de Haydée, que finalmente decidiu se envolver com a maca com “alma, coração e vida”, como ela relata, parafraseando a conhecida canção peruana.
“Farinka”, relembra, “surgiu em honra e memória do meu amado pai, Felix Anccasi Ramírez, como um legado de amor e sacrifício que ele nos deixou. Quando ele morreu, por um câncer de pulmão, eu o chorei nas montanhas. Estava cansada de vender as plantas no varejo, sem processamento, e um dia em um sonho ele me disse que começasse um negócio novo, para dar trabalho às pessoas da comunidade. Assim nasceu a empresa que tem no nome as suas iniciais, F.A.R., mais a palavra inka, porque ele era como um inca”.
“A maca peruana é energia, é saúde e tem grande potencial de ser consumida em todo o mundo”, finaliza Haydée, “porque conecta as pessoas com a terra”.
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