Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

Mudança climática

Os países das Américas pedem ao IICA que lidere diálogos para o consenso no posicionamento da agricultura nas negociações globais sobre o clima

Tiempo de lectura: 3 mins.

Ministros e secretários da agricultura das Américas se reuniram antes da Cúpula de Chefes de Estado e de Governo, que se realizará na próxima semana em Los Angeles, para traçar um caminho que fortaleça o setor agropecuário nas negociações climáticas globais.

Collage Min

São José, 2 de Junho de 2022 (IICA) – Ministros e secretários da agricultura das Américas decidiram fortalecer o perfil do setor agropecuário nas discussões globais sobre mudança do clima e encarregaram o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) de coordenar esse processo, que deverá chamar a atenção para os benefícios de uma ação climática mais determinada na segurança alimentar e nutricional, na sustentabilidade, na conservação e na gestão hídrica.

Cerca de 20 ministros e secretários, além de altos funcionários representando 32 países, aprovaram uma declaração na Reunião das Américas sobre Mudança do Clima e Agricultura, com o título de “A caminho da Cúpula das Américas 2022 e para além”.

A Declaração indicou que as atuais condições globais aumentaram a conscientização sobre a fragilidade da segurança alimentar e nutricional no plano global e sobre a necessidade de maior produtividade agrícola sustentável, sobretudo em razão dos crescentes riscos climáticos.

A reunião ministerial foi realizada na antessala da Cúpula das Américas, que reunirá os Chefes de Estado e de Governo da região na próxima semana em Los Angeles.

Os ministros e os secretários participantes concordaram em que o atual cenário de crises superpostas – pandemia da Covid-19, conflito bélico na Europa e mudança do clima – representa uma ameaça para a segurança alimentar, e expressaram na Declaração a necessidade de se dispor de apoio e cooperação técnica internacionais por intermédio do IICA.

Quanto às mensagens a serem apresentadas à Conferência das Partes 27 (COP-27) da Convenção Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, que se realizará neste ano no Egito, os ministros e secretários da agricultura das Américas solicitaram ao IICA que as elabore, tendo como base o consenso regional alcançado na preparação para a Cúpula das Nações Unidas sobre os Sistemas Alimentares de 2021.

Na ocasião, o continente manteve uma posição unificada – construída em um extenso debate coordenado pelo IICA – que apresentou os produtores agropecuários e os trabalhadores dos sistemas alimentares como um elo imprescindível e central, ressaltando-se que, sem produção agropecuária, não há matérias-primas para serem transformadas em alimentos.

Conforme acordado, as mensagens a serem apresentadas à COP-27 deverão ser aprovadas em uma Conferência Ministerial prevista para setembro, na qual também se fará um chamado a um apoio público e privado mais forte em inovação, financiamento e desenvolvimento de capacidades para se aumentar a resiliência da produção diante da mudança do clima.

Ampla participação

Participaram da reunião, entre outros, o Secretário da Agricultura dos Estados Unidos, Thomas Vilsack, e os Ministros da Argentina, Julián Domínguez, do Chile, Esteban Valenzuela, da Guatemala, José Ángel López Camposeco, da Guiana, Zulfikar Mustapha, do Panamá, Augusto Valderrama, e do Peru, Javier Fernando Arce, e o Vice-Ministro da Agricultura da Costa Rica, Edgar Mata.

A abertura do encontro coube a Jean Marcel Fernandes, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil – país que exerce a presidência da Junta Interamericana de Agricultura (JIA) – e do Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.

“Limitar os efeitos adversos da mudança do clima é vital para se garantir a segurança alimentar para o futuro. Com inovação e ciência, podemos demonstrar que a agricultura pode ajudar a mitigar a mudança do clima e a melhorar a renda dos agricultores. A pesquisa e o desenvolvimento devem continuar avançando para encontrar soluções, e as políticas eficazes devem ser compartilhadas”, disse Vilsack. “Devemos unir as nossas vozes para defender a agricultura. No Egito, esperamos poder mostrar todos os nossos avanços na abordagem à mudança do clima”, acrescentou.

Mustapha observou que a agricultura na Guiana e no Caribe está apanhando da mudança do clima, em especial devido a fenômenos relacionados com a água. “Em alguns países”, observou, “temos secas e em outros, inundações. São muitas as medidas que podemos tomar para aumentar a resiliência, mas precisamos de financiamento para torná-las possíveis”.

“Somente unindo esforços poderemos abordar de maneira conjunta a transformação do setor agrícola para enfrentarmos a mudança do clima”, disse o guatemalteco López, que revelou que no país centro-americano as perdas pela variação climática têm sido quantificadas em até 3,4% do produto interno bruto (PIB).

Domínguez, o ministro argentino, falou de todas as transformações realizadas na agricultura do continente para se cuidar do meio ambiente.

“Fez-se muito para produzir mais com menos. Ainda há muito a ser feito, e estamos convencidos de que o caminho é longo, mas não compartilhamos a visão de alguns setores que sustentam que estamos diante de um sistema malsucedido. Reafirmamos o princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas e priorizamos a adaptação à mudança do clima”, afirmou.

Domínguez também observou que os países desenvolvidos não têm cumprido o compromisso de aportar 100.000 dólares anuais para financiar a ação climática dos países em desenvolvimento.

O ministro chileno Valenzuela enfatizou a necessidade de acordos amplos para a sustentabilidade. “O Chile é um país que tem pontos fortes, mas também dependemos do intercâmbio com outros países das Américas. A segurança alimentar é alcançada com um intercâmbio sustentável, sem armadilhas e sem discriminações”.

O ministro peruano Arce ressaltou as dificuldades enfrentadas pela produção de alimentos devido à carência de insumos básicos, como os fertilizantes, e lembrou que no seu país se declarou emergência no setor agropecuário para se garantir as atividades produtivas que asseguram o abastecimento.

“A pandemia da Covid-19 e agora a invasão da Ucrânia pela Rússia criaram um cenário altamente perigoso pelo aumento dos preços dos combustíveis, dos alimentos e dos transportes marítimos. Estamos saindo de quase três anos em que a ruralidade foi fortemente afetada, o que nos obriga a nos revestirmos de valentia e sabedoria. O alimento é vida; o alimento é paz”, observou o ministro panamenho Valderrama.

O vice-ministro costarriquenho Mata observou que o setor agropecuário fez muito, embora ainda restem coisas por fazer. “Não temos conseguido comunicar as nossas realizações frente à mudança do clima”, admitiu.

Jean Marcel Fernandes, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, observou: “Temos múltiplas crises globais superpostas. Então, é mais importante que nunca a unidade da nossa região para construirmos um futuro com inclusão social, resiliência e preservação do ambiente. A Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU posicionou fortemente a agricultura como parte da solução para o desenvolvimento sustentável e, além disso, reconheceu a multiplicidade de caminhos existentes para a sustentabilidade. Estamos diante de um cenário cada vez mais desafiador, e a COP-27 será outra oportunidade para se falar da verdadeira situação agrícola”.

O vice-ministro paraguaio, Marcelo González Ferreira, destacou as realizações do país sul-americano na redução do desmatamento e em boas práticas agrícolas. “Queremos continuar avançando e posicionar o Paraguai com maior visibilidade por aquilo que vem fazendo”, afirmou.

Andrés Pareja, Subsecretário do Ministério da Agricultura e Pecuária do Equador, exortou a que se cuide dos meios de vida dos produtores. “No Equador”, disse, “vimos a importância de uma agricultura forte, porque foi o setor que manteve a economia na tona durante a pandemia”.

Sol Ortiz, Diretora Geral de Mudança do Clima do México, enfatizou as realizações do setor agropecuário. “Se queremos produzir mais com menos e ser mais amigáveis com o meio ambiente, temos que impulsionar a inovação, a tecnologia e o financiamento climático”, observou.

Ángelo Quintero Palácio, Diretor de Inovação da Colômbia, valorizou o trabalho articulado dos países da região e desejou “que o IICA nos convoque para apresentarmos posições claras na próxima COP-27”.

“Estamos em um tempo crucial para a agricultura e a segurança alimentar, expostas a uma superposição de crises diversas que as coloca no topo da agenda global. Os nossos produtores e outros atores relevantes dos sistemas agroalimentares estão na linha de frente e expostos a riscos crescentes, entre os quais os mais importantes são aqueles associados à mudança do clima, dos quais ninguém no planeta pode desviar o olhar”, disse, por sua vez, Manuel Otero.

“Precisamos trabalhar agora”, concluiu, “e de maneira coletiva para pavimentar o caminho que permita aprofundar a transformação dos nossos sistemas agroalimentares de maneira sustentável nos próximos anos. Estamos no IICA para acompanhar, para facilitar e para apoiar essa caminhada, reconhecendo que os países são os mandantes do IICA e que tempos de crise também são tempos de cooperação”.

 

Mais informações:

Gerência de Comunicação Institucional

comunicacion.institucional@iica.in

 

Compartilhar

Notícias relacionadas

Lima, Perú

December 13, 2024

Funcionários de países membros da CAN fortalecem capacidades relacionadas ao comércio agroalimentar com apoio do IICA

A atividade, realizada na Sede da Secretaria Geral da Comunidade Andina de Nações, em Lima, teve como objetivo analisar os principais mecanismos e instrumentos que favorecem o comércio internacional agroalimentar e a integração econômica regional na CAN, como um meio para alcançar uma participação mais efetiva em foros internacionais e ações conjuntas para fortalecer os sistemas agroalimentares e facilitar o acesso a mercados regionais e internacionais.

Tiempo de lectura: 3mins

San José, Costa Rica

December 10, 2024

A produção global de biocombustíveis líquidos cresceu 50% em uma década, liderada pelos EUA e pelo Brasil e tendo a Argentina e o Canadá como outros grandes atores, revela nova edição do Atlas do IICA

A nova edição do Atlas centra-se em biocombustíveis como bioetanol, biodiesel e combustíveis sustentáveis de aviação, a partir de fontes bibliográficas complementadas com dados estatísticos sobre matérias-primas, tendências de produção e políticas regulatórias.

Tiempo de lectura: 3mins

San José, Costa Rica

December 11, 2024

Alunos de Limón, Costa Rica, ganham segunda edição do Desafio Minecraft Education para a Agricultura organizado pela Microsoft e pelo IICA

No desafio, os alunos receberam no vídeo game Minecraft um desenho inicial, caracterizado por um mundo com problemas de seca, erosão de solos, deslizamentos, contaminação de água, escassez de árvores e animais, entre outras situações devastadoras.

Tiempo de lectura: 3mins