O compromisso aconteceu em uma reunião de altas autoridades para fortalecer a integração, organizada pela Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Buenos Aires, 15 de dezembro de 2022 (IICA) – Mais de 20 ministros, vice-ministros e altos funcionários da agricultura da América Latina e do Caribe trocaram experiências e ideias com funcionários de organismos internacionais e acordaram intensificar os esforços de cooperação no combate à insegurança alimentar na região.
O compromisso aconteceu em uma reunião de altas autoridades para fortalecer a integração, organizada pela Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A América Latina e o Caribe estão vivendo um contexto econômico, social e ambiental complexo, derivado da crise pós-pandemia de Covid-19, que engloba a secular desigualdade social, os efeitos da mudança do clima e do conflito entre Rússia e Ucrânia e as sucessivas crises econômicas e inflacionárias que têm acentuado a fome e a insegurança alimentar.
Nesse panorama, os representantes dos países consideraram que a integração regional é muito importante para o enfrentamento da insegurança alimentar que afeta milhões de latino-americanos e caribenhos. O problema tem efeitos muito graves para os que dele padecem e se associa a níveis de pobreza, condições de vulnerabilidade e desigualdades sociais.
Para se alcançar a segurança alimentar – disseram os participantes – se requerem sistemas agroalimentares mais inclusivos, eficientes, resilientes e sustentáveis que proporcionem dietas saudáveis para toda a população.
A reunião aconteceu de maneira presencial e virtual em Buenos Aires, Argentina, país que exerce a presidência Pro Tempore da CELAC.
O Chanceler argentino, Santiago Cafiero, abriu a atividade com o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero e o Diretor Geral Adjunto e Representante Regional de FAO, Mario Lubetkin. Também participaram Zulfikar Mustapha, Ministro da Agricultura da Guiana; Laura Suazo, Secretária de Agricultura e Pecuária de Honduras; Gustavo Martínez Pandiani, Coordenador da Presidência Pro Tempore da CELAC; Jorge Solmi, Secretário de Coordenação Federal Agropecuária da Argentina; e Fernando Camargo, Representante do IICA na Argentina.
“A CELAC, o IICA e a FAO formam um só bloco para trabalhar em problemas regionais profundos, que precisamos continuar abordando. Necessariamente é assim. Não há soluções mágicas. Temos que continuar abordando-os com integração, inteligência e multilateralismo solidário”, disse Cafiero.
O Ministro das Relações Exteriores e Culto da Argentina acrescentou: “Avalizar um multilateralismo solidário é trabalhar coordenadamente com todas as instituições e com o mesmo objetivo: buscar sociedades mais justas, que possam se desenvolver plenamente e que reduzam, no caso da América Latina e do Caribe, os hiatos de acessibilidade que postergam grandes populações de nossos territórios”.
Manuel Otero explicou que existe uma longa tradição de colaboração entre os países da região nos temas de agricultura e alimentação. “Avançamos muito”, observou, “nessas décadas. A América Latina e o Caribe representavam em torno de 9% da produção agropecuária mundial em 1961 e hoje já passam dos 13%. Como comparação, a União Europeia representa 9% e os Estados Unidos e o Canadá, 11%. Além disso, nossa região é a principal exportadora líquida global. Portanto, o que fizermos em nossa região será crucial para a segurança alimentar do planeta”.
“Não obstante”, acrescentou, “também sabemos que em nossa região há grandes desigualdades entre países e dentro dos países. Já vínhamos sofrendo por um conjunto de problemas há diversos anos, aos quais ultimamente se somaram a guerra na Europa e a desaceleração da economia mundial por mudanças nas políticas macroeconômicas nos países desenvolvidos. Tudo isso levou ao aumento dos diferentes indicadores de desnutrição e insegurança alimentar”.
Otero felicitou a CELAC, atualmente sob a presidência da Argentina, “por ter decidido atualizar esses esforços à luz das novas e difíceis circunstâncias. Este vai ser o tema de análise e aprendizado conjuntos e, é de se esperar, de ação coletiva posterior por parte dos países envolvidos”.
Da urgência à oportunidade
Martínez Pandiani focou no fato de os países da região compartilharem o diagnóstico de que existe um sentido de urgência em matéria de segurança alimentar, que pode ser transformado em oportunidade, devido à grande produtividade agropecuária da América Latina e do Caribe.
“Quando conseguirmos superar essa etapa crítica, marcada pelas novas condições do cenário internacional, teremos uma grande oportunidade, porque somos a região que produz boa parte das proteínas que o mundo consome e demanda”, disse Martínez Pandiani, que informou que, ao se incluir neste ano a segurança alimentar no centro da agenda da Presidência Pro Tempore da CELAC, buscou-se a FAO e o IICA, “que têm a expertise e são os organismos que mais sabem do tema”.
O diplomata considerou que o caminho é a unidade na diversidade: “Temos que nos perguntar como fazemos para que cada um, com sua própria realidade, consiga se integrar em um sistema solidário de cooperação técnica e política. A resposta chegará se nos animarmos a inovar e a sair das receitas clássicas, que se foram pela janela com a nova situação internacional”.
Lubetkin sustentou que é possível mitigar os efeitos da crise: “Gostaria de fazer um reconhecimento à vontade dos governos, das organizações, da academia, do setor privado e da sociedade civil para posicionar o setor agroalimentar no centro das agendas de desenvolvimento e responder ao triplo desafio de combater a fome, a pobreza e a desigualdade”.
O alto funcionário da FAO lembrou que, “entre 2019 e 2021, o número de pessoas que passaram fome na América Latina e no Caribe aumentou de 43,3 milhões para 56,5 milhões, o que significa um aumento de 30%. Esse aumento da fome e da insegurança alimentar pode ter consequências irreversíveis para o desenvolvimento sustentável de nossos países, afetando suas dimensões econômica, social e ambiental. Essa situação é um paradoxo, considerando-se que a América Latina e o Caribe produzem alimentos para mais de 1,3 bilhões de pessoas, ou seja, o dobro de sua população”.
O ministro guianense Zulfikar Mustapha exortou a que se atue sem mais delongas em prol do objetivo de erradicar a fome até 2030. “Precisamos atuar juntos já e fazer muito mais para que o mundo alcance o segundo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, afirmou.
“Deve ficar claro”, ressaltou, “que a solução existe. O que se requer é vontade política e financiamento para que as novas ideias possam ser transformadas em ação. Necessitamos compartilhar experiências, aprofundar a cooperação bilateral e promover também compromissos multilaterais. Trata-se de aprender do outro para sermos melhores e construirmos resiliência contra a crise e contra a mudança do clima, que nos afetam a todos”.
Laura Suazo, primeira mulher a responder pela área da agricultura em Honduras e Presidente do Comitê Executivo do IICA, exortou a que se diga não à fome no mundo. “Não há nenhuma justificação para ela continuar existindo”, afirmou.
“O direito ao alimento é fundamental para que as crianças possam estudar e os adultos, trabalhar. É o direito à esperança do pobre de poder mudar sua situação. Evidentemente, estamos fazendo algo errado na América Latina, porque somos a maior região exportadora líquida de alimentos no mundo. É tempo de mudar”, concluiu.
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