As duas organizações capacitaram funcionários de ministérios da agricultura de nações da América Latina e do Caribe no uso de ferramentas baseadas em informações satelitais, de acesso livre, para facilitar a tomada de decisões sobre segurança alimentar e resiliência do setor agrícola na região.
São José, 12 de junho, 2023 (IICA) – Uma centena de funcionários que trabalham com a geração de estatísticas sobre agricultura de mais de 10 países da América Latina e do Caribe ampliaram suas capacidades no uso de ferramentas digitais, em especial a teledetecção, com o objetivo de melhorar as estimativas agropecuárias nacionais e o monitoramento de impactos climáticos extremos sobre a agricultura nessa região.
Isso aconteceu em um seminário técnico organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e pelo NASA Harvest, que é o Programa de Agricultura e Segurança Alimentar da NASA, dirigido por pesquisadores da Universidade de Maryland.
O NASA Harvest tem como missão facilitar a adoção de observações via satélite da Terra por organizações públicas e privadas, com vistas a impulsionar a segurança alimentar, a agricultura e a resiliência humana e ambiental, a partir de informações baseadas em ciência para a tomada de decisões de governos e produtores.
No encontro, denominado “O uso de ferramentas digitais nas estatísticas agrícolas nacionais e no monitoramento dos impactos de eventos climáticos extremos”, especialistas do NASA Harvest apresentaram as principais ferramentas disponíveis para esses fins e que são de acesso livre aos países da região: Global Agriculture Monitoring System, AGMET Tool, CROP Monitor e Global Crop Monitor.
Essas plataformas oferecem informações sobre condições, desenvolvimento e saúde dos cultivos, área cultivada, alertas antecipados e situação e condições agroclimáticas que podem afetar a produção em países vulneráveis à insegurança alimentar, na busca de se reforçar as ações e a aplicação de políticas em matéria agrícola, de intervenção humanitária e de segurança alimentar, entre outras.
“A variedade é muito ampla, há muitíssimos satélites e sensores com diversas resoluções e o potencial que existe para temas agrícolas e de mudança do clima é muito grande”, assegurou Estefania Puricelli, Economista Agrícola e Codiretora de Mercados e Comércio do Departamento de Ciências Geográficas da Universidade de Maryland.
“Gerar esses espaços de intercâmbio é sumamente importante, há muita heterogeneidade no uso dessas ferramentas nos diversos países e pode haver muita cooperação entre eles. Os que estão mais avançados podem colaborar com os que estão começando ou em fases intermediárias, porque as regiões são semelhantes, da mesma forma que suas limitações. Tentamos ouvir suas necessidades para poder trabalhar a partir daí”, acrescentou Puricelli.
No seminário, também se abordou a importância estratégica das estimativas para a economia e as finanças dos países, a formulação de políticas e a segurança alimentar global.
“O IICA considera estratégico para seus 34 países membros o uso de dados espaciais para o monitoramento da agricultura – por exemplo, com relação ao impacto de questões climáticas ou qualquer outra variável, buscamos apoiá-los para que possam melhorar suas capacidades em matéria de estatísticas agrícolas”, disse Federico Bert, responsável pelo Programa de Digitalização Agroalimentar do Instituto.
“Há muitas ferramentas disponíveis e é essencial homogeneizar critérios nos países, bem como as normas de uso das aplicações disponíveis”, acrescentou.
O seminário do IICA-NASA Harvest foi levado a cabo no âmbito da Semana da Agricultura Digital 2023, um espaço promovido pelo Instituto para o diálogo e a ação coletiva, que tem como objetivo impulsionar a digitalização agroalimentar dinâmica e inclusiva nas Américas.
Faz parte de uma série de trabalhos em áreas prioritárias da agenda de transformação dos sistemas agroalimentares, por meio dos quais o IICA busca dar forma a uma parceria continental para a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável.
Necessidades comuns
No encontro de dois dias, foram apresentados casos da Argentina, do Equador e de El Salvador no uso de ferramentas digitais de teledetecção e sobre sistemas de estatísticas agropecuárias.
Os representantes dos organismos oficiais de cada país dedicados a esses temas concordaram em que existe a necessidade comum de maior financiamento, de desenvolvimento de capacidades para se ter acesso às ferramentas tecnológicas disponíveis e melhorar seu uso e de maior conexão com os tomadores de decisões a fim de assegurar mais apoio e investimentos nessas áreas.
“A incorporação intensiva das tecnologias digitais nos permitiu reduzir significativamente a incerteza sobre estimativas agrícolas. Existe uma demanda crescente por esse tipo de produtos, em particular dos organismos vinculados ao monitoramento ambiental”, observou Fernando Monti, do Escritório de Estimativas Agrícolas da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina.
“Saber com o que nós, os países, podemos contar, é muito útil, e são necessárias parcerias para termos acesso a imagens de satélites, o que se deve, em muitos casos, às restrições financeiras. Dispor de melhores ferramentas e capacitação é de muita utilidade para o monitoramento de cultivos”, complementou Sergio Rafael López, Diretor da Unidade de Informações Geográficas, Estratégicas e de Gestão de Irrigações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Alimentação da Guatemala.
Carlos Castellón, da Divisão de Estatísticas Agropecuárias do Ministério da Agricultura e Pecuária de El Salvador, resgatou a importância de se avançar em matéria de “capacitações para trazer mais conhecimentos para os órgãos e ampliar a pesquisa em novas ferramentas tecnológicas” a fim de aumentar o uso da teledetecção no agro.
Blanca Simbaña, Analista da Direção Geral de Geração de Geoinformações Agropecuárias da Coordenação Geral de Informações Nacionais Agropecuárias do Equador, ressaltou a necessidade de se dispor de “orçamento para comprar imagens de satélites da mais alta resolução e poder, assim, gerar informações geográficas oportunas e determinar a cobertura de cultivos em locais onde as propriedades são muito pequenas ou quando as semeaduras são superescalonadas”.
Em adição a esse evento, o IICA, o NASA Harvest e a FAO elaborarão um relatório com a análise do uso atual de ferramentas de teledetecção para as estimativas agrícolas nos países da região. Sua finalidade será oferecer informações de referência sobre a situação e as experiências no tema aos formuladores de políticas e organismos internacionais, entre outros.
“O relatório será uma foto, esperamos que com a maior quantidade possível de pixels, sobre a situação de cada país e como se pode aproveitar com maior eficiência as plataformas tecnológicas disponíveis na região”, concluiu Federico Bert, do IICA.
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