
São José, 7 de abril de 2025 (IICA) — Linden Stewart recorda ter cruzado pela primeira vez com uma abelha quando tinha apenas sete anos de idade. Aos quatorze, já as criava por hobby. E, com o passar do tempo, terminou se tornando a grande referência da apicultura na Guiana.
Por seu trabalho em prol da consolidação do setor em seu país e pela contínua divulgação do conhecimento prático sobre as abelhas, Stewart foi homenageado como um dos “Líderes da Ruralidade das Américas” pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Stewart receberá o reconhecimento “Alma da Ruralidade”, parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural implementada para dar visibilidade aos homens e mulheres que deixam marca e fazem a diferença nos territórios rurais do continente e que são essenciais para a sustentabilidade ambiental do planeta e a segurança alimentar e nutricional.
Falar com esse apicultor é um verdadeira jornada de aprendizado, não só pelo mundo das abelhas, do mel e da polinização, mas também da geografia da nação sul-americana e segmentos de uma história de vida em Georgetown. Stewart compartilha com orgulho os passos que o levaram a se transformar no guia dos que se dedicam à apicultura na Guiana.
Para começar, Linden explica a origem do tipo de abelha que predomina atualmente no país. É que, quando Stewart começou a se conectar com esses insetos, a variedade mais presente era a popular abelha italiana, ativa e apreciada em todo o mundo. Mas, fazendo um pouco de história, recorda que “em 1976, 1977 ou 1978, os apicultores da zona de Pomeroon (no nordeste do país) reportaram ter detectado um padrão de conduta diferente nas abelhas” da região. “Eles se queixavam de que eram mais agressivas, e não sabiam o que estava acontecendo”.
O que se passava era que, lentamente, as abelhas africanizadas haviam migrado do Brasil, bem como da Venezuela e do Suriname, para o território da Guiana. Como se sabe, trata-se de uma classe de abelhas híbridas surgidas do cruzamento entre subespécies africanas e outras europeias que se destacam por ser mais defensivas e agressivas do que, por exemplo, as italianas.
Seguindo o relato especializado de Stewart, as abelhas africanizadas encontraram na Guiana colônias fracas em números, e não demoraram muito para se apropriar das colmeias, cruzar com as espécies locais e “tomar conta” do país. Naqueles anos, antes de entender a nova situação — relatou Stewart —, os apicultores ainda “se aproximavam de seus colmeias como se estivessem habitadas por abelhas italianas, sem os preparativos nem as roupas adequadas”.
Por alguma razão, as autoridades da época “fizeram muito pouco” para conter o avanço das africanizadas e, como consequência, “agora não há mais abelhas italianas na Guiana”, observou o especialista. “Tivemos que nos adaptar e aprender como manejar essas abelhas”, continuou Stewart. Finalmente “conseguimos, depois de percorrer cada canto do país e desenvolver um programa de treinamento”.

Agora, com a vantagem da retrospectiva, ninguém realmente sente falta das italianas: as abelhas africanizadas, diz Stewart, são mais resistentes a pragas e doenças. Os criadores do país praticamente não precisam se preocupar com ácaros ou parasitas, como os temíveis varroa, ou os devastadores colapsos de colônias, problema conhecido como CCD (Colony Collapse Disorder), o misterioso desaparecimento massivo de abelhas operárias que leva à queda de colmeias inteiras.
Stewart aproveita a conversa para destacar que essas grandes vantagens da apicultura na Guiana devem ser verificadas periodicamente, uma tarefa de revisão que também envolve o IICA.
Cumprindo as expectativas da família… mas com vocação
Voltando à sua própria história, Stewart compartilhou alguns detalhes do início da sua carreira profissional, pintando cenas da vida cotidiana do final dos anos 1970 em Georgetown, quando os rapazes e as moças “deviam fazer o que os pais mandavam”.
Eles, recordou, sugeriram que se formasse como bibliotecário e encadernador, e o jovem Linden obedeceu, concluindo os dois anos do curso de aprendizado. O que os seus pais não sabiam era que, ao mesmo tempo, mantinha em segredo algumas colmeias em um prédio abandonado, quando a apicultura ainda era apenas um hobby para ele.
Depois, também por imposição de uma família em que muitos de seus membros haviam passado pelas fileiras das forças de segurança da Guiana, Stewart se alistou no serviço penitenciário. Depois de quatro anos nesse ofício e de experimentar outros empregos, chegou o momento de se dedicar integralmente às abelhas, por volta de 1990. “Comecei com três colmeias e nunca mais parei”, declarou.
Atualmente, além das colmeias e de suas atividades docentes, Stewart está à frente de um serviço de remoção de abelhas. “Viajamos para as dez regiões da Guiana”, onde cuidam de colônias que se formam em casas, construções abandonadas, fazendas, locais públicos, árvores ou veículos deixados às margens das estradas.
Para compreender melhor esse trabalho, há algum tempo Stewart publicou um vídeo hipnotizante no YouTube onde podemos vê-lo, juntamente com um colaborador, resgatando abelhas que formaram sua comunidade… dentro de um pneu velho!
Com muita delicadeza, os favos da colmeia improvisada na borracha são removidos um a um e as abelhas são transferidas para uma caixa especial de madeira. No vídeo, podemos aprender o grande truque: assim que a abelha rainha é encontrada e passada para a caixa, o restante da colônia a segue sem hesitar.
Quando se trata de colônias removidas em edifícios habitados ou residências, “cobramos uma tarifa e fornecemos uma garantia de que (as abelhas) não voltarão”.

Sabedoria ambiental
Durante os fins de semana, Stewart se ocupa de suas próprias colmeias. “Eu as visito somente aos sábados ou domingos, pois as abelhas não precisam ser tratadas o tempo todo, não é como criar frangos”, que precisam de controle contínuo. O que precisa, sim, de atenção é o entorno das colônias: “visitamos a área e observamos os tipos e a qualidade das árvores — explica —, buscamos aprender sobre essas espécies, assegurar que haja água fresca e corrente perto das colmeias e em que momento as plantas florescem”.
Trata-se, diz, de entender e desenvolver a ecologia e a acessibilidade, questões fundamentais para produzir e coletar mel.
A questão da proximidade da água é vital, uma vez que as abelhas a utilizam para gerir a temperatura interna da colmeia. Quando faz calor, por exemplo, saem em busca de água e a levam para a comunidade para que evapore no interior. “É muito trabalho” que as abelhas empenham para manter uma colmeia saudável, ressalta Stewart.
O apicultor da Guiana ressaltou também que as abelhas africanizadas são diferentes das italianas não só pela sua maior agressividade, mas também pelo modo como polinizam e buscam comida. Se o alimento perto da comunidade for inadequado, elas se aventuram mais longe para buscar comida. Depois, voltam à colmeia, mostram o que encontraram e, se for conveniente, toda a colônia se mudará para mais perto da nova fonte de alimentos.
Todas essas “são as coisas que se deve aprender” para ser um bom apicultor de abelhas africanas, afirma Linden. Elas também se multiplicam mais rápido e são mais propensas a formar enxames.
Ensinando
Para assegurar que todo esse conhecimento passe para as próximas gerações, desde 2019 Stewart ensina apicultura na Guyana School of Agriculture. “Parte da aula — relata — é explicar a importância das abelhas”. E a tarefa começa com um exercício simples: o professor pede à classe que aqueles que “amam as abelhas” levantem a mão. E nas turmas, que geralmente são formadas por cerca de trinta estudantes (inclusive várias mulheres), “se forem vistas cinco mãos levantadas, é muito”.

Stewart começa a abordar isso com muitas atividades de campo, com os alunos visitando regularmente fazendas com colmeias para aprender o básico sobre a criação de abelhas, inclusive a captura dos insetos em estado selvagem e a fabricação das caixas para as colônias.
“Em apenas uma semana — assegura Stewart —, todos os alunos da turma amam as abelhas”. (Vídeos de algumas dessas aulas práticas também podem ser assistidos no canal do apicultor no YouTube).
Além dessas expedições, acrescenta, “o que faço para que apreciem as abelhas é explicar que elas são responsáveis pela segurança alimentar, uma vez que um terço da comida que consumimos diariamente depende da polinização”, uma atividade que o especialista não hesitou em indicar como “mais importante” do que a produção de mel.
Os humanos, continuou, “não podem sobreviver com os cinco por cento de plantas que se autopolinizam”. E, por outro lado, “não teríamos árvores que absorvem o dióxido de carbono”.
Com todos esses argumentos, é fácil acreditar na afirmação de Stewart de que muitos estudantes do seu curso na Guyana School of Agriculture decidem se dedicar à apicultura. Também contribui o fato de que, conforme apontou o especialista, atualmente na Guiana “a demanda por mel é maior do que a oferta, não precisamos exportar e o mercado local voltou a ser muito lucrativo”.
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