
São José, 28 de abril de 2025 (IICA) – Umeeda Switlo, uma empreendedora serial nascida em Uganda que se refugiou no Canadá e encontrou o seu lugar no mundo em Belize, onde transformou uma planta que crescia de maneira silvestre, a cúrcuma, em importante fonte de renda para centenas de cultivadores, e sua filha Nareena Switlo, com quem fundou a empresa Naledo, foram homenageadas como Líderes da Ruralidade das Américas pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
As duas componentes dessa poderosa equipe diretora rural, mãe e filha, receberão em reconhecimento por seu trabalho, o prêmio “Alma da Ruralidade”, que faz parte de um projeto do IICA para dar visibilidade a homens e mulheres que deixam marca e fazem a diferença no campo do continente americano, personalidades-chaves para a segurança alimentar e nutricional e para a sustentabilidade da região e do planeta.
A história de Umeeda é um relato de resiliência e decisão. Juntamente com sua família, precisou fugir de Uganda e entrar como refugiada no Canadá em 1972. Estudou Biologia Marinha e Toxicologia Ambiental, abriu diversas empresas (de organização de shows a creches para crianças) até que seu trabalho a levou para Belize. Trata-se de um programa de apenas nove meses de duração que resultou em um manual sobre empreendedorismo para jovens e relatórios de possibilidades de negócios que foram entregues a autoridades do país centro-americano.
Naquela visita a Toledo, o distrito mais ao sul e menos povoado do país, a curiosidade levou Umeeda a descobrir nos campos da região como uma planta muito importante para a gastronomia indiana crescia de maneira abundante e silvestre: a cúrcuma ou açafrão.
A variedade chegou à região de maneira curiosa, pela mão de trabalhadores originários da Índia, que buscavam uma vida nova no território que ainda então se chamava Honduras Britânica.
Certamente esses trabalhadores chegaram nos barcos com seus pouquíssimos pertences e algumas sementes de cúrcuma, para poder acrescentar à comida local um toque de sabor do seu lar de origem. As sementes se tornaram “independentes” e rapidamente se difundiram pela região. Ainda hoje ocupam grandes faixas de campo em Belize, junto a plantações de produtos agrícolas típicos do país, como o cacau e a pimenta-do-reino.
Em 2014, durante aquela estadia em Toledo, Umeeda entendeu que esse recurso “não estava sendo aproveitado” e que era colhido apenas em pequenas quantidades para a preparação de uns poucos pratos de comida local que levam cúrcuma. Para estabelecer sua qualidade, a empreendedora enviou algumas plantas para serem submetidas a uma série de testes e os resultados a impactaram. Ela se mostrou ser, assegurou, “a melhor cúrcuma do mundo”, com uma concentração altíssima de curcuminoides.
Umeeda preparou um relatório sobre o assunto e regressou ao Canadá. “Depois, percebi que o governo havia arquivado a proposta, então voltei com uma pequena soma em dinheiro para começar a minha própria empresa”.
Normalmente a cúrcuma é processada em pó, como o utilizado no preparo de muitos dos diversos tipos de curry, parte essencial da comida indiana. Tem uma longa vida útil e pode ser transportado, o que agrega o valor da conveniência. A produção e exportação da cúrcuma em pó é controlada basicamente pela Índia e Bangladesh, mas “algo ainda melhor podia ser feito”, pensou Switlo. E isso era a pasta de cúrcuma.
“Adicionamos suco fresco de limão, óleo de coco prensado a frio e pimenta-do-reino para preparar uma pasta que é a primeira do tipo no mundo”, descreve, orgulhosa. A Curcuma longa, nome científico da planta, é conhecida por sua raiz com atributos anti-inflamatórios e antioxidantes. Mas as linhas da Truly Turmeric, a marca da Naledo, empresa de mãe e filha Switlo, incluem não só a pasta para usos culinários, como também produtos de beleza, inclusive óleos para a pele e sabonetes. No site on-line da Naledo, também é possível encontrar sucos tentadores de cúrcuma com menta, gengibre ou canela, por exemplo.
Um produto “maravilhoso”
Desde que Umeeda fundou a Naledo em Punta Gorda, no distrito de Toledo, em 2016, a empresa cresceu e agora conta com cerca de 350 pequenos produtores da região, que a abastecem com a matéria-prima para seus cremes e sucos. Nareena se uniu à companhia logo após uma visita de sua mãe a Vancouver, onde chegou com “uma pequena embalagem de pasta de cúrcuma” que a fez exclamar “Uau! Isso é maravilhoso!”. A jovem antropóloga deixou de lado o emprego que ocupava nessa época e se envolveu cem por cento com o projeto.
Juntas, decidiram, por exemplo, que não precisavam de uma extensão muito grande de terra, mas do espaço suficiente para montar sua fábrica. Saíram percorrendo os campos vizinhos e recrutando produtores para o projeto. Todo sob um lema muito claro, porque a Naledo é, sobretudo, uma empresa com consciência social e ambiental, explicam mãe e filha: os carregamentos de cúrcuma são pagos no mesmo dia e as matérias-primas devem ser orgânicas, nunca tratadas com químicos.
Enquanto desenvolviam sua relação com seus fornecedores, Umeeda e Nareena descobriram que “muitas empresas que adquirem produtos agrícolas em Belize faziam os produtores esperar trinta, sessenta ou noventa dias até depositar seus pagamentos”, um costume que “cria uma grande pressão” sobre as receitas econômicas das famílias rurais.
Também em harmonia com essas convicções, a Naledo contrata muitas mulheres. De fato, afirmam que toda a equipe de gestão é feminina. No entanto, Umeeda aproveitou a entrevista para fazer um comentário “controverso”, como ela mesma o descreveu.
Atenta aos problemas sociais de seu segundo país de adoção, a empreendedora contou que agora está trabalhando para favorecer os homens, uma vez que muitos jovens de Belize estão em situação de risco, devido aos altos índices de criminalidade, e poderiam se beneficiar de um emprego fixo.
“Nós — ressalta Umeeda — sempre tivemos em mente que somos uma empresa com consciência social, que queremos exercer o maior impacto possível na comunidade e no meio ambiente”. Por exemplo, acrescenta, “somos uma empresa muito particular em Belize, pois usamos apenas potes de vidro, controlamos os resíduos e estamos certificadas por nosso nível de envolvimento com as comunidades locais”.
A conversa com essas notáveis mulheres empreendedoras também percorreu outros temas inspiradores. A Naledo, apontaram, engajou-se ativamente na luta contra o corte de madeira de espécies indígenas nas florestas de Belize e, para cada 100 libras de cúrcuma que adquirem dos produtores locais, plantam uma árvore de espécie regional.
Além disso, destacam que cerca de sessenta por cento das propriedades rurais das quais compram a cúrcuma são administradas por uma mulher. Muitos estudos acadêmicos, ressalta Nareena, “confirmam que, quando uma mulher é empoderada, quando lhe são oferecidos educação e acesso ao financiamento, é muito provável que sua família melhore e que a sua condição socioeconômica se eleve”.
“Apoiar as mulheres é apoiar as famílias”, prossegue a antropóloga residente no Canadá. E Umeeda acrescenta, depois de recordar a ajuda recebida do IICA e finalmente conseguir um certificado vital para poder exportar, que o Instituto “está fazendo uma diferença no mundo, ao apoiar produtoras como nós”, que então transmitem os benefícios dessa assistência.
Nareena, por sua vez, dedicou algum tempo para destacar a importância de divulgar os valores da ruralidade. “Há uma tendência em todo o mundo — observou — de pensar que viver em zonas rurais não é tão bom quanto viver em zonas urbanas, ou que ter uma profissão relacionada à tecnologia é melhor do que ser fazendeiro”.
No entanto, graças a esses anos de contato com os pequenos produtores de Belize, “pude descobrir um conhecimento de gerações sobre como trabalhar na terra, algo que é muito impressionante”. A jovem empreendedora afirmou que “se alguém trabalha em uma área rural, mas não é originariamente de lá, isso muda a sua mentalidade, você se sente inspirado pelo conhecimento dessa gente”. Pois, “só porque alguém não sabe programar um computador, isso não significa que essa pessoa não seja brilhante”, concluiu.
Um reconhecimento mais importante do que um Oscar
No final da entrevista, Umeeda pediu um momento para alertar que, embora mãe e filha compartilhem “uma história muito interessante, nem tudo é cor de rosa” no mundo da produção agrícola, “existem muitos obstáculos”. E destacou em especial a falta de financiamento para adquirir equipamentos. “Faltam mais equipamentos e treinamento para usá-los, para poder processar nossos produtos agrícolas” — observou. “Depois vem o resto: a ajuda para desenvolver ações de marketing ou de promoção, e tudo o mais”.
Como exemplo, Switlo contou que têm em vista um possível contrato milionário com duas gigantes dos Estados Unidos (Costco e Trader Joe’s), mas que não podem concretizá-lo “porque precisamos de financiamento para obter o maquinário que nos permita produzir mais potes dos nossos produtos por dia”.
Entretanto, disse, “eu amo trabalhar com os produtores” de pequenos lotes em Belize, “inspecionar os cultivos, aprender, ensinar e escrever artigos sobre a agricultura no país”. É “muito emocionante, da mesma forma que receber um prêmio que reconhece isso: para mim — completou —, é mais importante do que um Oscar”.

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