
São José, 9 de maio de 2025 (IICA) — Os secretários de agricultura do México, Julio Berdegué, e de Honduras, Laura Suazo, concordaram que os governos e os organismos internacionais devem desempenhar um papel central para ajudar as organizações de pequenos produtores agropecuários da América Latina e do Caribe a navegar por esses tempos de incerteza.
Em um encontro realizado na sede do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Berdegué e Suazo disseram que devem ser criadas políticas públicas adequadas para atenuar o impacto das turbulências no comércio internacional.
O Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México e a Secretária de Estado de Agricultura e Pecuária de Honduras se apresentaram de maneira virtual em uma conferência hemisférica na qual foram discutidos os alcances, os desafios e o futuro das organizações de pequenos produtores agrícolas como entidades de negócios na região.
O encontro de dois dias de duração foi organizado pelo Instituto Tata-Cornell para Agricultura e Nutrição, o Banco Mundial, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o FONTAGRO e o IICA.
Participaram representantes da agricultura familiar, ministros e vice-ministros de agricultura do continente, autoridades e pesquisadores de organismos internacionais, profissionais e formuladores de políticas. Entre outros temas, foram debatidos quais são os fatores sociais e econômicos que favorecem ou dificultam o desenvolvimento das organizações de pequenos produtores e quais são os impactos econômicos, sociais e ambientais de seu trabalho.
O objetivo é estabelecer um foro permanente de diálogo sobre os desafios e oportunidades enfrentados pelas associações de pequenos produtores na América Latina e no Caribe, disse Leslie Verteramo, do Instituto Tata-Cornell, que tem sede na Universidade de Cornell, no estado de Nova York.
Mudança de cenário
“Há 40 anos — disse Berdegué — nós que estamos próximos da agricultura familiar tivemos que enfrentar uma mudança brutal nas condições econômicas, sociais e políticas da nossa região. Vínhamos de um mundo com uma forte presença do Estado para promover e proteger os pequenos produtores, mas no início dos anos 1980 uma tempestade nos atingiu, e esse arcabouço desapareceu vertiginosamente. A semelhança entre esses anos e hoje é evidente: tudo o que dávamos por certo está chegando ao fim. De um dia para o outro, literalmente”.
Alertou, nesse sentido, que o maior desafio é ainda não estar claro qual é o cenário que se aproxima: “Hoje sabemos o que está terminando, mas, pelo menos eu, não sei o que está sendo construído. E, sinceramente, não sei se alguém sabe. Algo nascerá, porque a natureza e as sociedades não toleram vazios por muito tempo, mas não sabemos que forma terá”.
Berdegué considerou que, antes da década de 1980, as organizações de agricultores familiares estavam integralmente articuladas com o Estado e que, depois, prepararam-se para competir nos mercados.
“Agora — apontou — precisamos capacitar as lideranças das organizações para navegar pela incerteza. E encontrar políticas públicas que proporcionem um mínimo de estabilidade às organizações ao receberem choques que afetem suas receitas. Os agricultores familiares não podem absorver 10 ou 20% de aumento em seus custos. Creio que se aproxima uma época em que será preciso priorizar a produção para o mercado interno”.
No final de sua exposição, o Secretário de Agricultura do México, que destacou sua estreita relação com o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, resumiu as três necessidades mais urgentes que as organizações de pequenos produtores enfrentam: ter acesso a informações de primeira qualidade que permitam orientar a tomada de decisões de forma muito ágil; contar com o apoio de governos, ONG e organismos internacionais que pensem em mecanismos que amorteçam os choques; e prestar muito mais atenção à produção para o mercado interno, pelo menos para os produtos essenciais à segurança alimentar.
“Vivemos tempos muito singulares, muito particulares. A agricultura familiar e suas organizações devem encontrar seu próprio caminho em um novo mundo que está prestes a nascer”, concluiu.
Por sua vez, a exposição de Berdegué foi elogiada pelo Diretor Geral do IICA, que observou que a construção dos novos tempos depende “da liderança que decidamos exercer, sabendo que são tempos difíceis”.
“Frente às tormentas, temos que relançar o comércio intrabloco, dentro do continente, que hoje representa apenas 14% de tudo o que a região exporta. Outro tema central é que sabemos que há uma nova fronteira do conhecimento, a qual está se distanciando cada vez mais. Por isso os nossos sistemas nacionais de pesquisa precisam estar interconectados. Devemos ser autocríticos e redirecionar algumas agendas; ser pragmáticos perante esses contextos de tamanha incerteza. O IICA está aqui para somar esforços”, afirmou Otero.
Mudar vidas
A Secretária Suazo, que foi apresentada pelo Subdiretor Geral do IICA, Lloyd Day, considerou que o principal desafio das organizações de pequenos produtores é sobreviver, ganhar os mercados e fazer com que os lucros retornem para suas cooperativas e empresas e, por fim, convertam-se em recursos que mudem suas vidas.
“Estamos trabalhando em uma nova política de desenvolvimento rural, na qual os produtores agrícolas, inclusive mulheres e jovens, sejam prioridade. Por anos, temos assumido que os jovens, por serem jovens, têm seu caminho assegurado, mas não é bem assim”, apontou.
A primeira mulher responsável pela área de Agricultura e Pecuária em Honduras observou que as novas políticas públicas devem abordar bem claramente o contexto atual e o novo papel dos agricultores. “Deve ser dada a máxima atenção à conquista da segurança alimentar. Na América Central e no Caribe, somos as regiões com maior pobreza e limitações históricas”.
“Em nosso caso — disse —, há 70 anos foi realizada uma reforma agrária que deu lugar a várias cooperativas, mas ainda estamos com mais de 50% da população na pobreza. Então, estamos fazendo algo errado”.
Suazo observou que o paternalismo constante do Estado com os pequenos produtores deve ser evitado, mas enfrentar as limitações como a falta de acesso ao crédito e a ausência de seguros agrícolas.
“Países como o nosso devem incentivar cadeias de valor que gerem maiores receitas do que as matérias-primas. Também devemos focar na compra massiva de insumos que reduzam o custo de produção e em vendas massivas que permitam negociar no mercado mais do que uma simples recuperação de custos”, alertou.
A Secretária de Estado também mencionou a importância do investimento público: “É essencial dispor de rodovias em bom estado. Em Honduras, temos mais de 1400 projetos de pavimentação. É um caos, porque a pavimentação está acontecendo por todos os lados, mas trará efeitos positivos para os agricultores”.
“Também devemos contar com o setor privado — concluiu — e com a sociedade civil. Precisamos de todos. A agricultura une todos os atores de um país”.
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