Brasília, 5 de agosto de 2025 (IICA) — Os produtores agropecuários devem se envolver ativamente no debate global sobre o futuro da agricultura, aproximar-se mais dos consumidores e mostrar o trabalho que estão realizando em prol de uma maior produtividade e sustentabilidade, sustentou o Presidente da Associação Argentina de Produtores em Semeadura Direta (AAPRESID), Marcelo Torres.
O produtor e dirigente agropecuário concedeu uma entrevista ao programa Agro América, transmitido pelo canal de TV brasileiro AgroMais, a poucos dias do Congresso da AAPRESID de 2025. O evento reunirá em Buenos Aires, Argentina, destacadas referências locais e estrangeiras para debater e projetar os temas-chaves do futuro, quanto à ciência e à produção, com foco na transformação agrícola e nos cenários de inovação.
Agro América é um programa transmitido pelo canal brasileiro de TV Agro Mais, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, cuja produção é fruto de uma parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A transmissão apresenta a atualidade do setor agropecuário e da ruralidade nos países membros do IICA, com o objetivo de promover a troca de experiências e uma discussão sobre os desafios e as oportunidades da América Latina e do Caribe na área de desenvolvimento agropecuário e rural.
Pelo segundo ano consecutivo, o Congresso da AAPRESID contará com uma participação de destaque do IICA — no âmbito de uma parceria estratégica entre as duas instituições — que incluirá uma seção especial na grade de painéis magnos, uma mostra fotográfica e um side event direcionado às agtechs.
Manuel Otero, Diretor Geral do IICA; Kip Tom, produtor agropecuário, ex-Embaixador dos Estados Unidos e Vice-Presidente de Políticas Rurais do America First Policy Institute; Jack Bobo, Diretor Executivo do Instituto Rothman para Estudos sobre Alimentação, da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA); e Rattan Lal, Prêmio Mundial da Alimentação 2020 e referência mundial em ciências do solo, serão algumas das figuras que participarão dos espaços conjuntos com o IICA no Congresso, que será realizado entre 6 e 8 de agosto.
Torres elogiou o trabalho do IICA, por seu papel na articulação entre os atores dos setores público e privado e por ter criado um espaço de interação entre ciência, produtores e empresas de tecnologia das Américas.
“O IICA — apontou — tem um olhar continental centrado na cooperação e conta com uma conexão direta com as políticas públicas, que o tornaram um ator fundamental para o posicionamento de nossas cadeias produtivas. Nossa parceria com o IICA já é muito forte atualmente, e tem muito futuro”.
Lavoura zero
Durante a entrevista televisiva, Torres contou que a AAPRESID foi fundada em 1989, a partir da preocupação que os produtores argentinos vinham mostrando pelos graves problemas de erosão hídrica que padeciam em seus campos. “Então começamos a pensar em deixar de lavrar os solos, prática que já existia em outros países. Assim, por meio da permanência e da utilização dos resíduos do cultivo anterior, conseguimos reverter o processo de erosão e deterioração dos solos”, explicou.
Hoje, a AAPRESID é uma organização de referência regional e mundial, que tem mais de 35 anos de história desenvolvendo sistemas de produção que regeneram o solo e o ambiente. Conta com cerca de 1.800 parceiros distribuídos por quase 11 milhões de hectares que aplicam a melhor tecnologia, conhecimento e inovação em rede.
“Desde a época em que começamos com a semeadura direta, passaram-se muitos anos e outras tecnologias começaram a convergir. Atualmente a vemos como um sistema que inclui o rodízio de cultivos de inverno e de verão, além do emprego de cultivos de serviços ecossistêmicos, que permitem que o campo esteja verde e vivo por todo o ano e servem para controlar ervas daninhas e fixar carbono. O produtor assumiu a liderança das mudanças. Estamos evoluindo e aprendendo permanentemente”, disse Torres.
“Nossas prioridades — acrescentou — são duas: que os produtores assumam as rédeas do seu próprio desenvolvimento, apostando na inovação e no chamado permanente à ciência e à tecnologia para nos adaptarmos aos distintos ambientes e distintos climas que a Argentina tem”.
Ao mencionar os principais desafios que os produtores associados à AAPRESID enfrentam, Torres falou da necessidade de aprofundar a digitalização e construir indicadores mais sólidos de sustentabilidade.
Precisamente com essa última finalidade, revelou que a AAPRESID está trabalhando na elaboração de uma plataforma na qual os campos de todos seus associados estarão georreferenciados.
“Temos — disse — imagens de satélites e mapas de produtividade, mas precisamos integrá-los com a georreferenciação. Isso servirá para fazer prescrições variáveis de fertilização ou de densidade de semeadura. Os dados que precisamos para fazer a nossa análise de campanhas são praticamente os mesmos que servem para certificar a pegada hídrica ou a pegada de carbono. Ou seja, as mesmas informações, ordenadas em uma plataforma, servirão para produzir melhor e nos fornecerá os indicadores que muitos consumidores demandam”.
Torres também fez um apelo para que os produtores se envolvam nos debates públicos e na comunicação da realidade da atividade agropecuária: “A nossa instituição participa habitualmente de congressos internacionais onde se discute o presente e o futuro da atividade agropecuária. Temos visto uma evolução, talvez depois da pandemia. Hoje, as discussões se tornaram um pouco mais racionais. Antes se pensava que a agricultura orgânica seria a solução de todos os problemas, mas hoje se reconhece mais o papel central da ciência, valoriza-se o sistema de semeadura direta, que usa menos combustíveis fósseis e libera menos carbono na atmosfera”.
“O importante — concluiu — é que o produtor se sinta parte dos processos e possa comunicar a realidade do processo produtivo aos consumidores. Muitas vezes, as organizações de produtores conversam entre si. Devemos compreender que, para elevar a comunicação, é preciso trabalhar com a indústria, que é quem transforma as matérias primas.
Não pode acontecer de o produtor se sentir alienado da discussão pública. Hoje o mundo enfrenta um desafio extremamente complicado: aumentar a produção de alimentos com menor impacto no ambiente. Nesse cenário, os países do continente devem estar juntos, pois enfrentamos desafios muito parecidos. Devemos nos posicionar como um bloco regional, e nisso o IICA está desempenhando um papel insubstituível”.
Assista ao programa completo do AgroMais aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=wPH6cpwPUlI
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