São José, 14 de agosto de 2025 (IICA) – A agricultura das Américas precisa urgentemente de mais financiamento internacional para aprofundar sua transformação para uma maior produtividade, sustentabilidade e resiliência ante os eventos climáticos extremos.
Isso foi o que advertiram os especialistas que participaram na abertura de um seminário internacional sobre financiamento para o agro, organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e acompanhado por mais de 250 pessoas em todo o continente.
O seminário, que ocorre de forma virtual durante três jornadas, definiu o financiamento como um eixo vital e transformador para os sistemas agroalimentares.
O debate abordou tanto o funcionamento dos principais mecanismos de financiamento oferecidos por fundações privadas e agências de cooperação como as oportunidades que oferece o capital privado para escalar projetos agrícolas sustentáveis na região. Foi explorado também o papel dos mecanismos internacionais de financiamento climático e dos bancos multilaterais para apoiar a transição da agricultura para modelos sustentáveis e resilientes ao clima.
Participaram da abertura o Ministro de Agricultura, Silvicultura, Pesca, Transformação Rural, Indústria e Trabalho de São Vicente e Granadinas, Saboto Caesar; o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero; o Subdiretor Geral, Lloyd Day; o economista e assessor do IICA, Eugenio Díaz-Bonilla e os especialistas do Instituto Federico Sancho e Fernando Schwanke.
O Ministro Saboto deu detalhes sobre a realidade que vivem os agricultores no seu país, que tem somente 110.000 habitantes e a necessidade imperiosa de financiamento pela sua vulnerabilidade aos desastres naturais.
“Definitivamente é um tema de primeira importância. O financiamento é crucial para os pequenos estados insulares. O primeiro passo é conseguir que todos os atores no nível global entendam qual é o impacto do clima no aumento de custos da produção agropecuária. Os produtores estão reajustando todos os cálculos de custos e renda pelos eventos climáticos”, disse Saboto.
“Ao final do dia, os países do Caribe somente podemos falar de cortar a nossa dependência nas importações de alimentos e expressar nossa soberania alimentar se temos financiamento”, adicionou.
O Ministro chamou a atenção sobre a necessidade de que existam orçamentos específicos para a recuperação do agro ante a eventualidade de desastres naturais, porque os fundos gerais de ajuda são destinados prioritariamente à assistência humanitária ou à questão de moradia.
“Agradeço ao IICA por este apelo à ação. O organismo é muito consciente de que o financiamento público não vai ser suficiente e tem o prestígio e a experiência técnica para envolver instituições do setor privado”, concluiu.
Eventos extremos
“Precisamos de mais e melhor financiamento. A América precisa de entre 30 e 40 bilhões de dólares para transformar os sistemas agroalimentares, mas hoje estamos longe. Menos de 5% do financiamento climático global está destinado à agricultura, apesar de que é uma fábrica que produz a céu aberto e, consequentemente, é um dos setores mais afetados pelos eventos extremos do clima”, disse Manuel Otero.
“Sem recursos suficientes vai ser difícil inovar, melhorar a infraestrutura e fortalecer a resiliência da agricultura ao clima”, advertiu o Diretor Geral do IICA.
Otero contou sobre o trabalho que o IICA vem realizando para construir pontes de confiança entre todos os atores comprometidos com a transformação da agricultura e da ruralidade.
“Estamos enfrentando com responsabilidade, junto a doadores e financiadores, os desafios comerciais, a reaparição de pestes e doenças que pareciam erradicadas e os eventos extremos. São muitos os desafios e por isso devemos contar com mais e melhor financiamento”, assegurou.
Eugenio Díaz Bonilla explicou detalhadamente o financiamento disponível, quem pode acessá-lo e para que tipo de projetos e realizou uma análise dos fluxos financeiros na agricultura.
Explicou, neste sentido, que o fluxo principal de dinheiro vem do consumo, que recebem todos os operadores das cadeias de valor dos sistemas agroalimentares, e logo explicou com detalhes a composição dos fluxos externos como os fundos internacionais para o desenvolvimento, os orçamentos públicos e o sistema bancário.
Díaz-Bonilla precisou que hoje existe uma multiplicidade de fundos internacionais de financiamento climático, mas eles estão adjudicando pouco dinheiro, apesar de que na última COP, no Azerbaijão, o compromisso de financiamento para os países em desenvolvimento foi elevado de 100 para 300 bilhões de dólares anuais.
“A agricultura precisa melhorar a sua produtividade e estão disponíveis as tecnologias para isso. É imprescindível que exista uma plataforma integrada para unir produtores, investimentos e tecnologias”, declarou.
Federico Sancho explicou o funcionamento do Fundo Hemisférico para a Resiliência e Sustentabilidade da Agricultura (FoHRSA), iniciativa criada pelo IICA por pedido dos ministros de Agricultura dos países das Américas.
Como primeiro passo concreto, seis projetos estratégicos foram aprovados com um investimento inicial de 2 milhões de dólares em capital catalítico contribuído pelo IICA. O investimento tem como objetivo responder às ameaças urgentes e fortalecer a sustentabilidade e a inovação dos sistemas agroalimentares.
Os projetos em questão abordam questões como o combate do fungo Fusarium na produção de cana-de-açúcar em Belize, a qualidade das sementes no Caribe, a erradicação do verme do gado (Cochliomyia hominivorax) no México e na América Central e a inovação da gestão hídrica na Argentina e no Chile.
O FoHRSA está dando seus primeiros passos e se propõe contar com um capital de 500 milhões de dólares em 2030, composto por 450 milhões do setor público e filantrópico e outros 50 milhões de investimentos do setor privado.
Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int