Iniciativa que une pesquisadores e guardiões de sementes já registra aumento da produtividade do milho de 3 para 5 toneladas por hectare através de metodologias participativas, promovendo segurança alimentar e sistemas agroecológicos mais resilientes.
O Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), instituições de pesquisa, sociedade civil e agricultores do Brasil, da Argentina e da Bolívia lançaram em Sergipe, estado do Nordeste brasileiro, o projeto de cooperação trinacional Raízes Agroecológicas, no âmbito do Programa Global para Pequenos Produtores de Agroecologia e Transformação de Sistemas Alimentares Sustentáveis (GP-SAEP, sigla em inglês).
O objetivo é oferecer acesso a sementes adaptadas como uma estratégica para garantir segurança alimentar, renda e resiliência produtiva. A iniciativa une ciência, saberes tradicionais e experiências locais para desenvolver variedades de sementes mais produtivas, resistentes às pressões climáticas e adaptadas aos sistemas agroecológicos.
Os eventos de apresentação do projeto aconteceram, entre os dias 1º e 5 de setembro, na sede da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Aracaju, capital do estado de Sergipe, e nos municípios de Itabaianinha e Riachão do Dantas, com visitas de campo aos sistemas agroecológicos em Sergipe, no Nordeste do Brasil.
O projeto trinacional é financiado pelo FIDA através da União Europeia e o governo da Bélgica, que destinou 4 milhões de euros, e executado pelo IICA no Brasil e Argentina em parceria com instituições de referência.
Com previsão de durar três anos, o Raízes Agroecológicas beneficiará diretamente cerca de 5.000 pequenos produtores agroecológicos, sendo 1.200 na Argentina, 2.600 no Brasil e 1.200 na Bolívia. Entre os beneficiários, espera-se que 50% sejam mulheres, 30% pertencentes a povos indígenas e 15% jovens, promovendo um impacto amplo e inclusivo.
A iniciativa também prevê intercâmbios técnico-científico entre os países integrantes e a gestão do conhecimento para ampliar a visibilidade dos resultados e apropriação de metodologias.
Segundo o especialista em gestão de projetos no IICA Brasil, Caio Ribeiro Lourenço, o diferencial do projeto é a união de múltiplas parceiras com contribuições para o campo através da ciência cidadã e participação ativa dos agricultores.
“É muito significativo ver os produtores trabalhando lado a lado com as instituições agrícolas, desenvolvendo soluções técnicas e fortalecendo a agroecologia. Acreditamos que esta iniciativa tem um enorme potencial para impulsionar outros projetos semelhantes e, quem sabe, inspirar políticas públicas que ampliem e fortaleçam as ações que já acontecem, apoiando os camponeses que compreendem profundamente o valor da produção de alimentos saudáveis. Por isso, a importância da cooperação também com a Argentina e a Bolívia”, afirma.
No Brasil, a Embrapa exerce a liderança técnica do projeto, em parceria com o Movimento Camponês Popular (MCP), através da Associação de Camponesas e Camponeses do Estado de Sergipe (ACCESE); na Argentina, o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA); e na Bolívia, o Instituto Nacional de Inovação Agropecuária e Florestal (INIAF), em parceria com a Fundação para a Promoção e Pesquisa de Produtos Andinos (PROINPA) e o Centro de Investigação e Promoção do Campesinato (CIPCA).
De acordo com Rikke Oliveira, especialista técnica Global Líder em Posse de Terra e Recursos Naturais, também Gerente do Projeto (FIDA), o tema das mudanças climáticas tem impacto crescente sobre os pequenos agricultores em todo o mundo.
“Não há nenhuma área que se escape desses efeitos. Por isso, projetos como este, onde estamos inovando ao conectar instituições científicas aos produtores, são muito importantes. Temos que focar e perseguir sempre o caminho da construção de autonomia das famílias no campo, empoderando-as para elevar a renda e enfrentar as mudanças climáticas”, explicou.
No evento de lançamento do projeto, a chefe-geral da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Tereza Cristina de Oliveira, destacou a importância da conservação dos recursos genéticos e da soberania alimentar: “Sem sementes não há alimento”.
Para Ana Maria dos Santos Guimarães, Dirigente Nacional do Movimento Camponês Popular (MCP), o programa simboliza um marco para a defesa da autonomia camponesa: “As sementes são um direito e, por isso, lutamos por poder escolher o que comer e o que plantar. Nesse projeto, vamos aprender mais sobre o nosso solo, o alimento que produzimos e como a ciência pode estar ao lado do povo”, afirma.
Cooperação Sul-Sul – O workshop de lançamento também discutiu a cooperação Sul-Sul, permitindo que experiências e práticas fossem compartilhadas diretamente nas visitas de campo. Um destaque foi o primeiro corredor agroecológico, localizado em Riachão do Dantas/SE, na comunidade Tanque, cuja implantação começou entre março e abril de 2025, durante uma missão do FIDA destinada ao início do projeto.
O intercâmbio de experiências entre Brasil, Bolívia e Argentina demonstrou que a troca de conhecimentos de comunidades rurais aliada a metodologias participativas é fundamental para consolidar sistemas produtivos sustentáveis, fortalecer a autonomia dos agricultores e ampliar a capacidade de adoção de práticas inovadoras em diferentes regiões.