Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.
São José, 9 de outubro de 2025 (IICA) — O desafiador contexto global — com mudanças geopolíticas, fenômenos climáticos extremos e transformações ecológicas — exige a elaboração de uma nova geração de políticas públicas para os sistemas agroalimentares, concordaram especialistas de organismos internacionais que se reuniram na sede central do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), na Costa Rica.
Na abertura de um Diálogo Hemisférico, composto por uma série de sessões de discussão e intercâmbio regional durante dois dias, foram divulgadas experiências transformadoras de políticas públicas agroalimentares nas Américas que já estão sendo executadas e gerando resultados e que podem ser escaláveis.
Participam do evento altas autoridades — diretores, funcionários e responsáveis pela elaboração, implementação e avaliação de políticas no hemisfério — da Parceria Bioversity-CIAT, do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do IICA. Também participam representantes do setor privado e da academia.
Os participantes enfatizaram a importância de utilizar a ciência por todo o processo de geração de novas políticas públicas e indicaram que a nova fronteira da tecnologia atualmente permite não só produzir mais, mas também ser mais sustentáveis e inclusivos. Indicaram também o desafio representado pelo enfraquecimento do sistema multilateral de comércio, embora destacando a oportunidade representada pelo sistema internacional de financiamento verde, criado pelos tratados ambientais.
Otero ressaltou o protagonismo da região na segurança alimentar global, pois responde por uma a cada três toneladas de alimentos exportados mundialmente.
Durante a jornada de abertura do diálogo, foi apresentada a publicação interinstitucional A transição para uma nova geração de políticas públicas para os sistemas agroalimentares, resultado de dois anos de trabalho coletivo sobre o tema.
Olhando para o futuro
O Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, proferiu o discurso de boas-vindas aos participantes e enfatizou que a convocação para o Diálogo Hemisférico demonstra que o Instituto está olhando para o futuro. “Somos uma instituição resiliente. Atravessamos muitas crises que nos deixaram mais fortes. Esta semana o IICA completou 83 anos, e já estamos falando sobre o caminho para o centenário, que será em 2042”, observou.
Otero ressaltou o protagonismo da região na segurança alimentar global, pois responde por uma a cada três toneladas de alimentos exportados mundialmente.
“As Américas aparecem em qualquer análise das perspectivas da segurança alimentar global, particularmente a América Latina e o Caribe. Temos uma grande liderança atual que será consolidada no futuro, mas tal roteiro depende de nós. Para isso, precisamos de uma nova narrativa que reflita a verdadeira cara do setor como parte da solução, uma nova geração de políticas e novas lideranças. O IICA está trabalhando em tudo isso”, explicou.
Hugo Chavarría, Gerente do Programa de Inovação e Bioeconomia do IICA, foi o moderador da primeira sessão, na qual se discutiu por que e para que é necessária uma nova geração de políticas públicas. Nesse sentido, advertiu que hoje o setor agropecuário é cobrado por múltiplos objetivos: “Antes, cobrava-se apenas uma maior produtividade; hoje, também se pede sustentabilidade e inclusão, com abordagens diferentes que complicam o cenário. No entanto, há uma grande quantidade de experiências em nossa região que demonstram que isso é possível”, afirmou.
Ao revisar os destaques da publicação A transição para uma nova geração de políticas públicas para os sistemas agroalimentares, o especialista do Instituto, Joaquín Arias (que também é o coordenador do Observatório de Políticas Públicas para os Sistemas Agroalimentares — OPSAa, do IICA), ressaltou que o cenário atual mostra que 295 milhões de pessoas, em 53 países do mundo, enfrentam insegurança alimentar aguda e, na América Latina e no Caribe, são 19,7 milhões de pessoas.
A publicação foca, entre outras questões, na necessidade de transitar de subsídios generalizados, que acabam se tornando incentivos perversos, a pagamentos condicionados a desempenhos e resultados mensuráveis. Também reflete a necessidade de fazer mudanças estruturais na governança para avançar para um sistema multissetorial e de atores múltiplos.
Héctor Peña, economista do Banco Mundial, mencionou a necessidade de um maior investimento em bens e serviços públicos. “Nos últimos 20 anos, o Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário da região caiu de 2,6% para 1,6%. Como referência, na OCDE, ele está em torno de 6,1%”, explicou Peña, acrescentando que “já não é algo sustentável que as políticas públicas sejam elaboradas sem diálogo entre os setores público e privado”.
“Hoje dizem que devemos produzir mais com menos, mas é preciso ressaltar que devemos produzir melhor”, disse Valeria Piñeiro, do IPFRI, que considerou que a inovação deve ser incorporada em três frentes complementares: política, tecnológica e institucional.
“Também devemos discutir como podemos avançar coletivamente em uma narrativa coerente do setor, com os diversos atores, para ligar a evidência à prática e levá-la à realidade”, acrescentou.
Nelson Larrea, do CAF, explicou que a instituição financeira se propôs ser o banco verde da América Latina e do Caribe: “Nós nos propusemos que, em 2026, pelo menos 40% da nossa carteira tenha elementos de sustentabilidade muito claros. Além disso, temos uma estratégia de sustentabilidade agropecuária, com uma meta para alcançar, até 2030, 8,5 bilhões de dólares em financiamento para o setor”.
Joaquín Arias, Coordenador do Observatório de Políticas Públicas para os Sistemas Agroalimentares do IICA; Jeimar Tapasco, Pesquisador da Parceria Bioversity-CIAT; Héctor Peña, Economista Especializado em Políticas Agropecuárias do Banco Mundial; Pedro Martel, Chefe da Divisão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do BID; Nelson Larrea, Executivo Principal do CAF em Liderança em Sustentabilidade Agropecuária; Valeria Piñeiro, Economista Sênior do IFPRI; e Hugo Chavarría, Gerente do Programa de Inovação e Bioeconomia do IICA.
Jeimar Tapasco, da Parceria Bioversity-CIAT, falou dos cientistas e seu papel de informar os formuladores de políticas públicas. “Muitas vezes — afirmou —, a ciência toma partido diante de alguns temas, coisa que não deveria fazer. Quando os dados são analisados e os resultados não coincidem com as teorias anteriores, é necessário mudar as teorias, não os dados”.
Martín Pinheiro, Diretor Geral Emérito do IICA, também participou, observando que as mudanças geopolíticas que estão ocorrendo são muito profundas e que é muito difícil saber como vão seguir. “Um dos dados mais importantes para o setor agropecuário — afirmou — é o enfraquecimento do multilateralismo, em geral, e da Organização Mundial do Comércio (OMC), em particular. Consequentemente, há um ressurgimento dos acordos bilaterais e multilaterais para regular o comércio internacional. Isso requer uma diplomacia comercial muito ativa”.
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