O encontro permitiu introduzir o tema dos biocombustíveis como eixo medular para a transição energética no âmbito do G20, considerado o maior foro de cooperação mundial e que terá sua Cúpula de Chefes de Estado e de Governo nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro.
Foz do Iguaçu, 14 de outubro de 2024 (IICA). Empresários, representantes da indústria, diretores de câmaras, reguladores e autoridades públicas das Américas destacaram o enorme potencial da região para promover o desenvolvimento dos biocombustíveis líquidos e contribuir para a mitigação da mudança do clima, no âmbito da reunião de ministros de energia do G20, em Foz do Iguaçu, Brasil.
Isso ocorreu em um evento onde se debateu o papel dos biocombustíveis na descarbonização do transporte e se discutiu sobre os avanços legislativos, o impacto ambiental, a saúde das bioenergias e as perspectivas da indústria automotiva. Incluiu também uma mesa de diálogo público-privado com representantes das Américas, Japão e Indonésia que serviu para o intercâmbio de experiências, dado o interesse que os biocombustíveis despertam na Ásia como ferramenta para a descarbonização.
Organizado pela União de Açucareiros Latino-Americanos (UNALA), a Coalizão Pan-Americana de Biocombustíveis Líquidos (CPBIO) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), com apoio da União da Indústria da Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) do Brasil, da companhia Toyota, da Associação de Produtores de Biocombustíveis do Brasil (APROBIO) e da União de Etanol de Milho (UNEM) desse sul-americano.
O encontro permitiu introduzir o tema dos biocombustíveis como eixo medular para a transição energética no âmbito do G20, considerado o maior foro de cooperação mundial e que terá sua Cúpula de Chefes de Estado e de Governo nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro. O G20 reúne as maiores economias do mundo e, este ano, é presidido pelo Brasil.
Participaram do diálogo como oradores Pietro Adamo Sampaio Mendes, Secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil; Rafael Chang Miyasaki, CEO da Toyota para a América Latina e o Caribe (ALC); Marcela Braga Anselmi, Gerente de Meio Ambiente e Transição Energética da Associação Nacional de Aviação Civil (ANAC) do Brasil; Wesley Montero, da Platts; Evandro Gussi, da UNICA; Guillherme Nolasco, da UNEM; e Julio Minelli, da APROBIO.
Também estiveram presentes Federico Pinedo, sherpa argentino no G20, membros de corpos diplomáticos e de câmaras de empresas e representantes da sociedade civil.
Resposta para cada região
O CEO da Toyota para a ALC explicou que a empresa automotiva trabalha pela descarbonização do setor de transporte promovendo o uso sustentável dos biocombustíveis líquidos na região e com uma visão global, inclusive, no final do evento, exibiram três veículos que já são comercializados no Brasil com tecnologias que permitem o uso do etanol como único combustível ou em combinação com a eletricidade.
“Precisamos abordar o combate à mudança do clima, e a Toyota já começou. Reduzimos as emissões em 176 milhões de toneladas de dióxido de carbono desde 1997. O nosso inimigo são os fósseis, e quais seriam os combustíveis para substituí-los? A resposta é diferente para cada região, pois as condições são diferentes: rodovias, clima, tipo de usuários e, inclusive, o comportamento dos motoristas. Entendemos que o nosso compromisso é oferecer variedade, e há muitos caminhos para a neutralidade de carbono”, disse Chang Miyasaki.
O executivo considerou que a América Latina tem grandes vantagens comparativas para combinar tecnologias, e que o protagonismo dos biocombustíveis é prático, acessível e sustentável.
Chang acrescentou que a eletrificação pode ser uma boa solução para outras regiões, mas não para a América Latina. “É difícil pensar que em nossa região teremos estações de recarga disponíveis para todo mundo. Em uma cidade como Madrid, onde as distâncias são curtas, a eletrificação é uma solução, mas não é assim em outras partes. A nossa visão é promover a combinação de várias tecnologias — inclusive, no hemisfério norte, está ocorrendo um retrocesso em eletrificação do transporte, tanto no âmbito da demanda como de políticas públicas”, disse.
Por sua vez, Marcela Braga de Anselmi aprofundou nos avanços que o Brasil está fazendo em combustíveis sustentáveis de aviação (SAF).
“A nossa região tem uma grande oportunidade com os SAF, por sua disponibilidade de biomassa com potencial de ser certificada como sustentável. No Brasil, contamos com uma grande tradição na produção de biocombustíveis desde a década de 1970, mas a aviação é mais complexa. Deve-se promover uma demanda estável, a partir da obrigação de as linhas aéreas fazerem uma transição energética, mas sem fazer com que os preços subam e resulte na diminuição do transporte aéreo em nossos países”, comentou a especialista da ANAC.
Também explicou as implicações positivas para o desenvolvimento dos SAF pela chamada Lei de Combustível do Futuro, recentemente assinada pelo Parlamento brasileiro, onde disse que existe uma política nacional de SAF que dispõe de recursos federais para financiar pesquisas em matérias-primas e rotas tecnológicas.
“Hoje, no Brasil, o grande desafio é atrair investimentos privados nessa matéria”, complementou Evandro Gussi, Presidente e CEO da UNICA, que ponderou sobre o poder de convocação do IICA para congregar todos os atores.
“O nosso objetivo é reduzir as emissões, devemos apelar para tudo o que estiver disponível. Entendemos que a bioenergia não é a solução para tudo, mas é uma solução que está pronta, que tem custos acessíveis e uma tecnologia já dominada”, acrescentou.
Segundo Gussi, é possível reduzir até 90% das emissões, com o etanol de cana. “Temos uma indústria sólida com tecnologia que pode ser compartilhada, especialmente com países de ambientes tropicais, mais de dois milhões de pessoas trabalham no Brasil no setor, de modo direto ou indireto. Essa é uma revolução não só ambiental mas também social e econômica”, destacou.
Enquanto Guillherme Nolasco, da UNEM, contou que o setor de etanol de milho vem se consolidando no Brasil e que existe uma grande cadeia de negócios graças ao círculo virtuoso da produção de alimentos, energia e biomassa. “A produção de biocombustíveis para nossos países é uma maneira de cumprir as obrigações da transição energética, mas também de incentivar o arraigamento do homem de campo, de atrair investimentos e gerar empregos, que é a melhor maneira de tirar as pessoas da pobreza”, argumentou.
Atualmente o Brasil processa 18 milhões de toneladas de milho para produzir bioetanol e subprodutos alimentícios, especialmente grãos destilados de alto conteúdo proteico.
Por sua vez, Julio Minelli, da APROBIO, enfatizou que os biocombustíveis devem ser olhados como energias e como uma cadeia de agregação de valor. “Quando temos a possibilidade de ver cidades do interior, onde novos postos de trabalho são gerados, fica claro que isso constitui uma oportunidade de desenvolvimento para as cidades”, afirmou, dado que a indústria desempenha um papel social, pois uma característica diferenciada do biodiesel brasileiro é que cerca de 30% da matéria-prima vêm da agricultura familiar.
“Os agricultores familiares têm, por parte dos industriais, a garantia de compra antecipada e prestação de assistência técnica para melhorar a produtividade e a inclusão em toda a economia”, concluiu.
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