A Quinta Edição do Foro Permanente de Ministras, Vice-Ministras e Altas Funcionárias das Américas (FOPEMA), organizado pelo IICA, registrou esse consenso, entre outros, na reunião de que participaram mais de 75 líderes de alto nível, entre as quais ministras e vice-ministras dos ministérios da agricultura e da mulher.
São José, 22 de outubro 2024 (IICA) – A produção de estatísticas e dados sobre o trabalho de cuidados não remunerado é fundamental para a visibilização do importante papel desempenhado pelas mulheres rurais nos sistemas agroalimentares da região, afirmaram ministras, vice-ministras e altas funcionárias das Américas reunidas na sede central do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) na Costa Rica.
A Quinta Edição do Foro Permanente de Ministras, Vice-Ministras e Altas Funcionárias das Américas (FOPEMA), organizado pelo IICA, registrou esse consenso, entre outros, na reunião de que participaram mais de 75 líderes de alto nível, entre as quais ministras e vice-ministras dos ministérios da agricultura e da mulher.
As participantes concordaram quanto à necessidade urgente de se dispor de dados para analisar com precisão as disparidades de gênero que afetam as mulheres rurais, as quais, além de ser pilares na produção de alimentos, assumem a maior parte do trabalho de cuidados.
O foro incluiu um apelo aos países da região a que promovam políticas públicas que reconheçam e valorizem o trabalho de cuidados realizado principalmente por mulheres rurais, com o objetivo de reduzir as desigualdades, promover a equidade de gênero nos sistemas agroalimentares e assegurar que as mulheres tenham acesso mais amplo a oportunidades trabalhistas formais e participação em instâncias decisórias.
Do evento participaram, entre outras autoridades, Laura Suazo, Secretária da Agricultura e Pecuária de Honduras; Cindy Quesada, Ministra da Mulher da Costa Rica; Alejandra Mora, Secretária Executiva da Comissão Interamericana de Mulheres (CIM), Cindy Rodríguez Mendoza, Vice-Chanceler de Honduras; Citlalli Hernández Mora, Secretária da Mulher do México; Niurka del Carmen Palacio, Ministra da Mulher do Panamá; Viviana Mesquita, Subsecretária de Mulheres Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil; Xochitl Torres Small, Subsecretária do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA); Nancy Andrea Moreno Lozano, Secretária-Geral do Ministério de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Colômbia; Justine Hendricks, Chefe Executiva do Farm Credit Canada; e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.
A Secretária Laura Suazo abordou o tema da quantificação da participação das mulheres rurais nos sistemas agroalimentares das Américas e a importância de sistemas de cuidados com enfoque territorial. “É fundamental ter números precisos para desenhar políticas efetivas que promovam a igualdade de gênero e o desenvolvimento sustentável em nossas comunidades rurais”, afirmou.
Em sua intervenção, a Ministra Quesada destacou a necessidade de colocar as mulheres rurais no centro da agenda das políticas públicas. “Não podemos continuar fazendo política pública dentro de um escritório. É crucial entender as realidades e as necessidades das mulheres rurais para a formulação de políticas efetivas e pertinentes”, observou.
A Vice-Chanceler Rodríguez Mendoza fez um apelo à ação conjunta entre governos, sociedade civil e setor privado para implementar políticas públicas que reconheçam e fortaleçam o papel das mulheres rurais nos sistemas agroalimentares, trabalho que está em andamento em Honduras. “Somente por meio da colaboração e do compromisso poderemos alcançar uma mudança significativa e duradoura. Não esqueçamos a importância de quantificar os cuidados nos entornos rurais e seu impacto nas políticas de igualdade”, disse.
Otero, por sua parte, destacou o papel central das mulheres rurais nos sistemas agroalimentares e falou das disparidades por elas enfrentadas, como o acesso limitado a recursos e insumos agrícolas e a sobrecarga de tarefas de cuidado, o que gera a defasagem de 24% em produtividade em comparação com os homens.
Mencionou que, apesar de sua importância, as mulheres ganham, em média, 20% menos que os homens em trabalhos agrícolas, o que impacta negativamente, não só em suas vidas, mas também na economia global.
Justine Hendricks, Chefe Executiva do Farm Credit Canada, ressaltou a importância da análise das barreiras enfrentadas pelas mulheres no acesso ao financiamento e a falta de dados sobre seu papel no êxito da indústria agrícola. “Se essas barreiras forem removidas, as mulheres poderão desbloquear o crescimento e o êxito a longo prazo tanto para suas famílias como para a indústria em geral”, afirmou.
Também falou sobre o apoio do Farm Credit Canada à saúde mental das mulheres rurais, que são essenciais para o funcionamento das operações agrícolas. “Essa carga adicional vem acompanhada de isolamento, falta de redes sociais e de reconhecimento por seu trabalho”, observou.
Alejandra Mora sublinhou a necessidade de se fomentar a liderança e a participação das mulheres em todos os níveis, especialmente no meio rural. “A liderança não se faz da noite para o dia, e é fundamental mudar a narrativa para incorporar as habilidades e destrezas das mulheres nos espaços de tomada de decisão”, afirmou.
Torres Small enfatizou que as mulheres são componentes essenciais do sistema agroalimentar mundial, mas que nem sempre são reconhecidas como tais. “Nos Estados Unidos, realizamos investimentos significativos em assistência técnica, capacitação e sistemas alimentares regionais e locais, oferecendo recursos muito necessários para apoiar mais mulheres na agricultura”, informou.
Ademais, destacou os esforços do USDA para garantir um acesso mais equitativo a seus programas, especialmente no que se refere ao financiamento, que é crucial para o acesso à terra. “Eventos como este foro oferecem o lugar perfeito para o intercâmbio de ideias e a continuação dos esforços que já estão em andamento em nossos respectivos países, a fim de garantir que as mulheres agricultoras tenham as oportunidades de que necessitam para crescer e se desenvolver”, pontuou a funcionária estadunidense.
A seu turno, a colombiana Moreno Lozano enfatizou que as mulheres rurais são as principais cuidadoras, mas não recebem compensação por esse trabalho essencial. “Fortalecemos o conceito de cuidado rural a partir de uma visão prática, incorporando projetos produtivos que impulsionam a sustentabilidade agroalimentar e a economia do cuidado, especificamente o cuidado rural”, afirmou.
Explicou que a economia do cuidado não deve se limitar ao lar, uma vez que as mulheres melhoram sua qualidade de vida, seu entorno, suas comunidades e seu território. “O cuidado comunitário implica que as mulheres afetam positivamente a vida de suas vizinhas e de todas as pessoas ao seu redor, transformando seu ecossistema quando sua qualidade de vida melhora”, observou.
Lançamentos e colaborações estratégicas
No âmbito do foro, foram lançadas iniciativas desenhadas para melhorar as oportunidades econômicas das mulheres rurais, entre as quais o “Curso de Empoderamento e Habilidades Comportamentais para Mulheres Rurais”, desenvolvido em colaboração com a Comissão Interamericana de Mulheres (CIM), e o “Curso Introdução às Finanças Básicas para Mulheres Rurais”, realizado em parceria com a Fundação Microfinanças BBVA (FMBBVA).
Ademais, foi apresentada a versão em inglês do “Curso de Introdução ao Empreendedorismo para Mulheres Rurais” (Introduction to Enterpreneurship Course for Rural Women), iniciativa liderada pelo IICA.
Essas ferramentas formativas representam um passo fundamental para melhorar as condições de vida e as oportunidades econômicas das mulheres rurais, que muitas vezes enfrentam barreiras significativas para ter acesso a recursos financeiros e formação em habilidades comportamentais.
Resultados do Foro e publicação sobre a economia do cuidado
Nas discussões do foro, destacou-se que o trabalho de cuidados não remunerado representa, em termos econômicos, até 21,3% do produto interno bruto (PIB) global, com as mulheres contribuindo com 75,5% para esse percentual.
Essa realidade, baseada em dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), reforça a necessidade de se incorporar a medição da economia do cuidado nas políticas públicas para valorizar adequadamente esse trabalho invisível.
Ademais, foi apresentada a publicação “A economia dos cuidados nos territórios rurais”, um relatório que analisa em profundidade como a feminização do trabalho de cuidados afeta as mulheres rurais na América Latina e no Caribe.
O estudo oferece recomendações concretas para reduzir as lacunas de gênero e melhorar a cobertura de serviços de cuidado em zonas rurais, onde a disponibilidade é consideravelmente menor que em áreas urbanas.
A modo de balanço, Priscila Zúñiga, Gerente do Programa de Equidade de Gênero e Juventude do IICA, ressaltou a importância do espaço para se entabular um diálogo aberto e colaborativo, em que os participantes possam contribuir para a igualdade de gênero nos sistemas agroalimentares. “Este foro nos permite romper o protocolo e nos olharmos cara a cara para discutir e avançar em temas cruciais para as mulheres rurais”, afirmou.
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