A apresentação serviu para dar visibilidade ao papel protagonista que os jovens e as mulheres rurais realizam na incorporação das tecnologias digitais na agricultura familiar.
São José, 17 de outubro de 2024 (IICA) – Estender a conectividade nas zonas rurais e desenvolver as habilidades digitais dos agricultores familiares deve ser uma prioridade regional, advertiram autoridades dos setores público e privado no lançamento de um relatório sobre a situação das tecnologias digitais na ruralidade da América Latina e do Caribe.
A primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, a Secretária de Agricultura de Honduras, Laura Suazo, e o Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, foram parte do lançamento do documento, elaborado pelo IICA em colaboração com seus sócios do setor privado: Bayer, Microsoft e GSMA.
A apresentação serviu para dar visibilidade ao papel protagonista que os jovens e as mulheres rurais realizam na incorporação das tecnologias digitais na agricultura familiar.
O evento, em formato híbrido, foi realizado para coincidir com a comemoração do Dia Internacional das Mulheres Rurais.
“Derrubar obstáculos, diminuir brechas. O papel crítico das mulheres e dos jovens para a adoção de tecnologias digitais na ruralidade da América Latina e do Caribe” é o título da pesquisa, que retoma dados estadísticos de três pesquisas anteriores realizadas pelo IICA e seus sócios e apresenta os resultados de 31 entrevistas em profundidade realizadas em 14 países da região.
Na apresentação foram palestrantes Alejandra Castro, Vice-Presidente de Assuntos Internacionais e Estratégia de Sustentabilidade da Bayer, e Lucas Gallitto, Diretor para a América Latina da GSMA, organização que representa aos operadores de redes móveis e promove políticas públicas para garantir a conectividade.
Sandra Ziegler, Especialista do IICA em Conectividade e Educação e autora do pesquisa, apresentou detalhes sobre os resultados, enquanto Trigidia Jiménez, líder rural boliviana reconhecida pelo IICA e integrante da Rede Nacional de Saberes e Conhecimentos no cultivo tradicional de cañahua, ofereceu a perspectiva dos agricultores familiares sobre o papel das tecnologias digitais no agro.
Também falaram Nancy Andrea Moreno Lozano, responsável pela Direção da Mulher Rural, Ministério de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Colômbia, e Maria Eduarda de Lima Vasconcelos, mulher rural de solo 25 anos e Coordenadora-Geral de Juventude Rural do Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil.
Não deixar ninguém atrás
A Primeira-Ministra de Barbados considerou que as tecnologias digitais são fundamentais para não deixar ninguém atrás no processo de transformação pelo que está passando a agricultura.
“A produção de alimentos é essencial para todas as economias do Caribe e a única forma de assegurar sua sustentabilidade e competitividade é por meio de ferramentas tecnológicas. Melhorar o acesso para os agricultores familiares, eliminando obstáculos e hiatos, é promover a transformação da agricultura”, disse Mia Mottley.
A líder de Barbados deu detalhes sobre as políticas públicas que têm sido desenvolvidas no seu país para levar a agricultura digital para os pequenos produtores. “Desde 2020 aumentamos em 60% a conectividade em zonas rurais e hoje Barbados está entre os países com maior conectividade do Caribe. Isso facilita aos agricultores não só a educação e o acesso à informação, mas também a integração na economia nacional”, assegurou.
Laura Suazo enfatizou o papel dos agricultores familiares como fornecedores essenciais de alimentos para as sociedades e se referiu à importância de que tenham acesso às tecnologias.
“Devemos dar fim no mito de que a tecnologia é somente para os que a possam pagar”, assegurou.
Nesse sentido, se referiu ao papel do financiamento para assegurar o acesso: “São cruciais os mecanismos tanto de financiamento público como privado. São necessários créditos, se for possível sem taxa de interesse, para conseguir que os pequenos produtores tenham acesso às tecnologias. Outro tema é que a América Latina é uma das regiões onde é mais caro o acesso à internet. Porém ano após ano se incorporam pessoas, não deixa de ser um serviço suntuário”.
Novas gerações
Alejandra Castro agradeceu ao IICA em nome da Bayer pela sua liderança neste estudo. “O material identifica onde estão os desafios com respeito a tecnologias digitais e zonas rurais e nos orienta sobre onde colocar os nossos maiores esforços”, disse.
“Precisamos urgentemente”, adicionou, “que as novas gerações se apaixonem pela agricultura, o que melhor do que as tecnologias digitais para que se sintam atraídos”.
Lucas Gallitto explicou que a GSMA é uma associação global de operadores móveis e comentou que a boa notícia é que nos últimos anos aumentou a participação em banda larga móvel na região, mas 40% dos latino-americanos ainda não têm acesso a ela.
“Mulheres e jovens são os mais afetados pela falta de infraestrutura tecnológica nas zonas rurais. É essencial a articulação entre governos e operadores móveis para mudar essa realidade”, declarou.
Sandra Ziegler explicou o conteúdo do trabalho e enfatizou que investir na formação e educação é crucial para que as comunidades rurais aproveitem as tecnologias digitais.
A especialista assegurou que, como resultado do trabalho, foram registrados três modelos de adoção tecnológica nas zonas rurais: adoção intensiva, que inclui recursos variados e está relacionada com altos níveis de educação; incorporação para o apoio na cadeia de valor, ligado ao uso de plataformas, aplicativos e redes sociais, muito estendido entre os jovens; e a ausência de uso por restrições do entorno, que se deve ao isolamento geográfico e às condições de vida.
“Entender esses três modelos diferentes é crucial para projetar políticas públicas que respondam às necessidades dos habitantes das zonas rurais. Fechar a brecha digital na região requer um esforço importante e conjunto”, concluiu.
Pelo seu lado, a engenheira agrônoma e agricultora boliviana Trigidia Jiménez declarou que é necessário criar centros pilotos de estabelecimentos rurais com tecnologias digitais para demonstrar os benefícios. “A forma de aprender é vendo. Quando a gente vê os resultados, imita e assume o novo”, assegurou.
“Devemos conservar o conhecimento ancestral como um diamante, porque ensina uma forma saudável de produzir alimentos. Mas não podemos ficar somente no ancestral. Devemos nos adaptar às mudanças e oportunidades que nos oferece a revolução tecnológica”, disse.
Manuel Otero entrou em detalhes sobre as transformações que já estão ocorrendo na agricultura e destacou três elementos críticos para que ocorra de forma beneficiosa para os habitantes rurais: “Precisamos de uma nova geração de políticas públicas que reflita os novos desafios da agricultura; também precisamos de mais e melhor financiamento; e devemos favorecer o acesso às novas tecnologias, sobre tudo por parte das mulheres e dos jovens, que estão destinados a ser os protagonistas da transformação”.
O Diretor Geral do IICA assegurou que as digitais são tecnologias habilitantes. “Na medida em que aumentamos a conectividade e alfabetização digital, podemos contribuir para superar os níveis de pobreza e insegurança alimentar e dar às zonas rurais a noção de futuro que precisam”, finalizou.
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