Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

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A IA é uma aliada-chave para a transformação digital do setor agropecuário nas Américas, de modo que especialistas pedem a aceleração da sua adoção

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Tomás de Camino Beck, Diretor da Escola de Sistemas Inteligentes da Universidade Cenfotec da Costa Rica, foi responsável por abrir a jornada de dois dias de palestras, aprofundando casos de sucesso, impacto e inovação na agricultura com IA.

São José, 2 de outubro de 2025 (IICA) — A inteligência artificial (IA) traça uma rota para transformar a agricultura da América Latina e do Caribe (ALC) e, para sua adoção, é crucial ter acesso a dados de qualidade, conectividade digital, capacitação dos produtores, maior investimento em pesquisa, desenvolvimento e infraestrutura tecnológica, criação de cultura institucional e de inovação, bem como âmbitos éticos e regulatórios claros que gerem confiança e garantam um uso responsável.

Isso foi exposto no evento Inovando o setor agropecuário com a IA: da visão à ação, que marcou o encerramento da Semana da Agricultura Digital (SAD) 2025, organizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) juntamente com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), CAF-Banco de desenvolvimento da América Latina e do Caribe, Bayer, Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul (PROCISUR), Universidade de Córdoba da Espanha e AWS.

O encontro, denominado Dia da IA na SAD 2025, reuniu mais de 200 participantes em formato híbrido (presencial-virtual), entre especialistas, acadêmicos, pesquisadores e funcionários do IICA, com o objetivo de sensibilizar sobre o potencial transformador da IA no setor agrícola.

Durante dois dias de atividades, foram apresentadas experiências reais, tecnologias emergentes e reflexões estratégicas sobre o uso da inteligência artificial no setor agropecuário, por meio de nove exposições de alto nível, nas quais se abordaram diversos temas vinculados com a agricultura de precisão, automatização, uso de dados, conectividade, produtividade, sustentabilidade e cultura organizacional, entre outros.

Nas exposições, destacou-se que a IA já é uma ferramenta presente na produção agropecuária, com aplicações que vão desde a irrigação inteligente e o monitoramento de cultivos mediante drones, até o uso de sensores de baixo custo e modelos de previsão climática.

O Dia da IA na SAD 2025 reuniu na sede central do IICA, em São José, Costa Rica, mais de 200 participantes em formato híbrido.

Os especialistas concordaram que a chave está em desenvolver soluções abertas, escaláveis e adaptadas às realidades locais, para que os produtores se tornem protagonistas da transformação digital na região, e que a IA deve empoderar e não excluir.

“A região deve se apropriar dessas tecnologias, desenvolvendo-as de maneira aberta, acessível e adaptada à sua realidade. Democratizar o conhecimento é fundamental para avançar. A tecnologia não deve impressionar, mas empoderar; e, quando um agricultor se torna um artífice das soluções e a IA amplifica suas capacidades, falamos de uma verdadeira transformação”, ressaltou Tomás de Camino Beck, Diretor da Escola de Sistemas Inteligentes da Universidade Cenfotec da Costa Rica.

A IA não é mais o futuro, mas a ferramenta do presente. Ela permite automatizar processos, otimizar recursos e personalizar decisões no campo”, expressou, por sua vez, Julián Mauro, cofundador e Diretor da agtech argentina Autoplants, uma solução tecnológica que, com o uso de inteligência artificial, facilita a otimização do uso da água na agricultura, ao prever chuvas, geadas ou consumos de irrigação.

Durante a reunião, os especialistas também ressaltaram que os dados representam o ouro da inteligência artificial, e que sua qualidade, gestão e contextualização são essenciais para o êxito de qualquer modelo utilizado.

“Os dados são o ouro da inteligência artificial: sem informações confiáveis, qualquer modelo perde valor. Os modelos de IA se baseiam em dados, então eles precisam ser bons, se não, tornam-se obsoletos, e isso anda lado a lado com a Internet das Coisas (IoT). O diálogo e o trabalho interdisciplinar também é indispensável para o desenvolvimento de soluções ou modelos de inteligência artificial para inovar na agricultura”, argumentou Jesús Bejarano Quesada, professor da Escola de Engenharia de Biossistemas da Universidade da Costa Rica (UCR).

No evento, Fulvio Lizano Madriz, professor da UNA e da UNED da Costa Rica, falou sobre IoT na meliponicultura e expôs um protótipo de colmeia inteligente.

“A IA e a IoT são simbióticos; juntos, permitem tomar decisões automáticas baseadas em dados reais”, destacou Fulvio Lizano Madriz, professor da Universidade Nacional (UNA) e da Universidade Pública à Distância (UNED) da Costa Rica, que, no evento, apresentou um protótipo de colmeia inteligente para meliponicultura, capaz de medir a temperatura, a umidade, a luminosidade e a qualidade do ar.

E o uso da IA aplicada a cultivos teve seu espaço preponderante nas exposições para demonstrar que não devemos temer a utilização dessas ferramentas tecnológicas.

Fabián Fallas Moya, professor e pesquisador da UCR e do Instituto Tecnológico da Costa Rica (TEC), apresentou o PineSORT, um sistema de drones para o contagem de abacaxis, com o qual se pode planejar colheitas com maior precisão; enquanto Rodrigo Herrera Garro, cofundador e Diretor de Tecnologia da AinnovaTech, mostrou uma solução para a contagem automatizada na floração do mesmo cultivo.

“A democratização do conhecimento é essencial para escalar soluções como essa. Aproximar mais a academia e a indústria pode abrir mais portas na América Latina, além disso, é necessário investimento, outro dos grandes desafios”, assegurou Moya.

“A IA nos ajuda a unir mundos: medicina, agricultura, engenharia etc. O importante é ter dados de qualidade e vontade de inovar. O agricultor está disposto a tentar, não fecha portas, e isso gera oportunidades”, observou, por sua vez, Garro.

Fabián Fallas Moya, professor e pesquisador da UCR e do TEC, cuja exposição focou no uso de drones e na IA para o monitoramento avançado do abacaxi.

Aliada, não ameaça

Por sua vez, Adrián Miranda Cordero, Engenheiro Sênior de Soluções na Cloudera, fez um apelo para que não “tenhamos medo de usar a IA”. “A tecnologia não é inimiga, é uma aliada para tomar melhores decisões”, observou.

No evento também se ressaltou que a conectividade continua sendo uma das maiores barreiras. Superar o hiato digital no meio rural será fundamental para garantir que as ferramentas de inteligência artificial cheguem efetivamente aos agricultores.

Outro eixo de análise foi a necessidade de âmbitos éticos e regulatórios que acompanhem a adoção tecnológica e fomentar o investimento público e privado em pesquisa e desenvolvimento para que a ALC não fique atrasada na geração de conhecimento.

“O investimento público em P&D é fundamental para que a IA gere bem-estar e não aprofunde desigualdades, além de empoderar todos os setores da sociedade; precisamos desse esforço sistemático, de uma estrutura regulatória no âmbito regional e de nos integrar mais no âmbito do acesso a fundos. A inteligência artificial pode acelerar a inovação, mas sem políticas públicas claras, a região ficará atrasada”, advertiu Saúl Calderón Ramírez, professor e pesquisador da Escola de Engenharia em Computação do TEC.

Emmanuel Picado, Gerente de Tecnologias da Informação e Comunicação e Agricultura Digital do IICA, concluiu que o tema da IA é fundamental para o Instituto, por isso o compromisso é ir além da visão e passar à ação, para que a inteligência artificial se transforme em um motor de inclusão, produtividade e resiliência na agricultura das Américas.

“Devemos aprender mais, treinar, criar. Queremos fomentar e construir uma cultura de inovação aproveitando a IA”, concluiu.

Mais informação:
Emmanuel Picado, Gerente de Tecnologias da Informação e Comunicação e Agricultura Digital do IICA.
emmanuel.picado@iica.int

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