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Abbigale Loncke-Watson, uma empreendedora que conecta o campo, a energia e o desenvolvimento local na Guiana, é reconhecida pelo IICA como Líder da Ruralidade das Américas

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Abbigale fundou a WeLead Caribbean em 2017, uma organização para promover a formação, o acesso às redes e a autonomia econômica das mulheres da Guiana.

Georgetown, Guiana, 5 de dezembro, 2025 (IICA). Abbigale Loncke-Watson representa uma nova geração de empreendedoras caribenhas que unem dois mundos: o do desenvolvimento comunitário e o da inovação empresarial.  Desde sua Guiana natal, e com uma trajetória que inclui a saúde, a formação e o setor energético, impulsiona a independência econômica das mulheres rurais e promove um modelo de crescimento inclusivo. “Nada acontece por acidente”, disse Abbigale. “É preciso ser intencional, ter um propósito claro e avançar nele”. 

Porém hoje dirige empresas no competitivo setor energético, suas raízes estão no interior rural da Guiana, na região de Esequibo. “A minha família está profundamente ligada ao campo. Os meus avós e meus pais nasceram em comunidades rurais, e grande parte da minha infância foi passada lá”, lembra. Dessa vida entre campos e rios aprendeu valores que hoje define como essenciais: a solidariedade, o esforço compartilhado e a capacidade de encontrar soluções com poucos recursos. Foi precisamente essa experiência que a levou, anos depois, a fundar sua primeira empresa, o primeiro degrau na sua destacada carreira.

Pelo seu trabalho em prol do empoderamento das mulheres produtoras rurais do seu país, e pelos seus esforços por mostrar que o setor de energia pode conviver com a proteção do meio-ambiente, Abbigale foi laureada como Líder da Ruralidade das Américas pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e receberá o prêmio Alma da Ruralidade. O reconhecimento é parte de uma iniciativa do IICA para destacar mulheres e homens que deixam sua marca e fazem a diferença no continente impulsionando a sustentabilidade e a segurança alimentar e nutricional.

De volta para o campo

“Tudo começou quando o meu avô ficou doente”, começa contando a jovem empresária da Guiana. “Não tínhamos ninguém para cuidar dele, então eu procurei mulheres da zona com experiência em enfermagem e criei uma pequena agência de cuidados domiciliários”. O que começou como um serviço familiar logo se converteu em uma oportunidade para outras mulheres. “Eu me dei conta de que muitas tinham as habilidades necessárias, mas não a confiança, o apoio e as ferramentas para começar um negócio. Aí entendi que deveria ajudá-las a encontrarem o seu próprio caminho”. Foi assim que nasceu o seu compromisso com o desenvolvimento das mulheres rurais, um esforço que nunca abandonou.

Essa primeira experiência foi a semente da WeLead Caribbean, a organização que fundou em 2017 para promover a formação, o acesso às redes e a autonomia econômica das mulheres da Guiana. Por meio de programas de formação, mentores e feiras comerciais, a WeLead acompanha as empreendedoras de diferentes regiões do país, de Esequibo até Berbice.  “Queremos que as mulheres tenham as ferramentas e também saibam como usá-las”, explica. “A formação é só o primeiro passo; o importante é a aplicação prática, que possam voltar para suas comunidades e transformar suas realidades”.

Nos últimos anos, a WeLead desenvolveu dezenas de cursos sobre gerenciamento de pequenas empresas, marketing, alfabetização digital e finanças. Também organiza o Academy for Women Entrepreneurs, uma iniciativa que combina formação on-line e práticas presenciais. Nas regiões rurais, os programas se adaptam às circunstâncias familiares: oferecem cuidado infantil, horários flexíveis e modalidades híbridas para facilitar a participação. “Não se trata somente de ensinar, mas também de entender as responsabilidades que essas mulheres têm nos seus lares. Se queremos que elas cresçam, devemos criar condições para que possam fazê-lo”, assegura Loncke-Watson.

Abbigale fala com orgulho sobre os projetos que tem acompanhado. Em Esequibo, mulheres dedicadas ao agroprocessamento aprenderam a melhorar a apresentação e as etiquetas dos seus molhos e conservas. Em Linden, grupos de produtoras de mel conseguiram regulamentar suas marcas e abrir novos mercados. Em Berbice, outras aprenderam a fabricar óleos naturais e cosméticos. “Ver elas venderem seus produtos, se sentirem orgulhosas do seu trabalho, é o que me dá energia para ir em frente”, confessa.

A pandemia colocou à prova essa rede de empreendedoras. Com as feiras suspendidas e os canais de vendas fechados, muitas mulheres rurais acabaram com a produção sem saída. “Nesse momento nos demos conta de que tínhamos que nos reinventar”, conta Abbigale. A WeLead organizou mercados locais em Esequibo, promoveu os produtos nas redes sociais e fomentou o uso do Facebook para o comércio direto. “As redes sociais foram uma ferramenta incrível. Fizemos transmissões ao vivo, entrevistas, fotos…e a comunidade respondeu. Foi um renascimento para muitas delas”.

Abbigale é uma voz ativa nos debates sobre conteúdo local, inclusão e sustentabilidade na Guiana.

Que a riqueza se traduza em bem-estar para as comunidades

O seu trabalho com as comunidades rurais convive com uma carreira empresarial sólida. Loncke-Watson é CEO da Loncke Group, ao que pertence a MBW Energy Support Services, e cofundadora da Sispro Inc, uma empresa que recentemente obteve dois blocos petroleiros no processo de convocatória do Governo da Guiana. É um país que vive um auge energético sem precedentes, sua presença simboliza uma nova etapa: a das mulheres liderando um setor historicamente masculino. “Quando entrei ao mundo da energia, entendi que faltava uma visão feminina. As mulheres lideramos com empatia e visão de conjunto. Precisamos estar nesses espaços onde são tomadas as decisões que afetam o nosso futuro”, assegura.

A partir dessa convicção nasceu o Women in Energy Guiana, organização que lidera e que procura aumentar a participação feminina no setor energético. O seu objetivo é que as oportunidades do setor cheguem também às regiões rurais e aos jovens. “O desenvolvimento energético pode ser uma força positiva, mas só se inclui a todos. É necessário conectar o investimento com a capacitação local, com a educação e com o respeito ao meio-ambiente”. Na sua visão, o progresso econômico não pode ser separado da sustentabilidade. “O crescimento deve vir com responsabilidade. Devemos proteger os nossos ecossistemas e, ao mesmo tempo, criar empregos e oportunidades para a nossa gente”, assegura.

Abbigale é uma voz ativa nos debates sobre conteúdo local, inclusão e sustentabilidade na Guiana. Partindo da sua experiência empresarial, promove a ideia de que a energia pode e deve ser um motor de desenvolvimento territorial. “A riqueza gerada deve também se traduzir em bem-estar para as comunidades. O meu objetivo é ver as mulheres do interior participando dessa nova economia, não observando de longe”.

O seu estilo de liderança combina pragmatismo e propósito. “Eu sou tomadora de riscos, mas não gosto de agir sem uma direção”, diz com um sorriso.  “Cada passo que eu dou tem um sentido”. Essa filosofia, de tomar riscos deliberados, se repete nos seus discursos públicos e na sua vida cotidiana. Em uma das suas frases mais citadas, assegura: Faça mesmo com medo, mas faça de todas as formas”.

Olhando para o futuro, sua agenda está marcada pela formação e a expansão. Está planejando novos programas de simulação empresarial para mulheres rurais, e a organização do próximo Women Empowerment Conference, que reunirá empreendedoras de todo o país. Também trabalha em alianças com instituições educacionais e empresas privadas para criar mais oportunidades de emprego nos setores de energia e tecnologia. “O desenvolvimento real acontece quando as comunidades participam da mudança. Se as mulheres rurais prosperam, a Guiana prospera com elas”, enfatiza Abbigale, fechando um círculo que começou nos campos de Esequibo.

A WeLead desenvolveu dezenas de cursos sobre gerenciamento de pequenas empresas, marketing, alfabetização digital e finanças.

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Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int

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