
São José, 24 de março, 2025 (IICA) — Potencializar a transformação do setor agropecuário demanda incorporar a inteligência artificial na educação agroalimentar, fomentar a colaboração interinstitucional para fortalecer capacidades e o acesso à tecnologia, desenvolver reformas educacionais focadas na sustentabilidade e na digitalização e promover políticas públicas que respaldem a equidade, a segurança alimentar e a formação de novos talentos.
Essas foram algumas das conclusões alcançadas no encontro “Semeando talentos: promovendo a ciência e a inovação na Europa e nas Américas”, organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), em sua sede central, em São José da Costa Rica.
O evento de cinco dias convocou mais de 50 representantes da academia, centros de pesquisa e inovação, organismos de cooperação técnica e outros atores de países como o Brasil, Costa Rica, Chile, El Salvador, Espanha, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Peru e República Dominicana, para incentivar o intercâmbio de conhecimentos e experiências sobre a ciência, a inovação e a educação na agricultura, a fim de fomentar novas lideranças e o uso de tecnologias emergentes.
Como parte dos resultados, um total de 40 entidades das Américas e da Europa que participaram da reunião assinaram, juntamente com o IICA, uma declaração em que se comprometeram a dinamizar e atualizar seus programas e métodos de ensino para atender às necessidades dos atores do setor agroalimentar e incorporar novas ferramentas, conhecimentos e competências para revigorar uma liderança transformadora, assim promovendo uma educação mais flexível, adaptativa e inclusiva.
“É reconfortante ver o desejo de colaborar concretizado em uma declaração que envolve 40 instituições que facilitam o caminho. O desafio é grande, porque quando pensamos na transformação dos sistemas agroalimentares, somente com uma nova geração de líderes, jovens e mulheres que interpretem essa revolução tecnológica é possível avançar, com mais e melhores centros de ciência e inovação, universidades e empresas participando, em uma espécie de liderança coletiva”, afirmou o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, no encerramento do evento.
A denominada “Declaração de Coronado” contempla quatro compromissos.
O primeiro é fortalecer a colaboração entre instituições mediante a promoção de parcerias estratégicas de ação conjunta que promovam uma liderança transformadora no setor agroalimentar, além disso, aproveitar a experiência e o compromisso do IICA, da Rede de Gestão da Inovação no Setor Agroalimentar (Rede INNOVAGRO) e do Campus de Excelência Internacional Agroalimentar (CEIA3), integrado pelas universidades de Almería, Cádiz, Huelva e Jaén, lideradas pela Universidade de Córdoba, Espanha, para ampliar o alcance das ações e consolidar parcerias entre essas instituições como promotoras e catalizadoras da iniciativa.
“Essa declaração nos compromete a produzir mudanças para o bem da agricultura, mudanças e melhorias na educação e nos programas, introduzindo novas metodologias e instrumentos e, por meio da pesquisa, por fim possa se chegar à inovação. A nossa universidade está comprometida com a inteligência artificial, estarmos na vanguarda para que os nossos estudantes tenham a melhor formação. Essa iniciativa do IICA é extraordinária, devemos levar essa inovação a todos os cantos dos nossos territórios e aos produtores, desde o menor até o maior”, assegurou o Presidente da Rede INNOVAGRO e Reitor da Universidade de Córdoba, Manuel Torralbo.

O segundo compromisso da declaração é promover uma educação agroalimentar inovadora e sustentável com o desenvolvimento de programas educacionais que integrem, em um âmbito de ação ético e de responsabilidade, novas ferramentas, conhecimentos, tecnologias emergentes, inteligência artificial e práticas sustentáveis, bem como o fomento de enfoques interdisciplinares que respondam aos desafios atuais e futuros do setor, possibilitando uma formação ampla e inclusiva.
O terceiro é promover uma liderança transformadora, contemplando o apoio a iniciativas como a Escola de Líderes para a Transformação dos Sistemas Agroalimentares das Américas (ELTSA), reinaugurada pelo IICA, e aquelas focadas na formação de novos líderes capazes de promover o desenvolvimento sustentável do setor, onde o protagonismo deve recair na participação ativa de jovens, mulheres e comunidades rurais nos processos de transformação do setor.
Nesse sentido, foi solicitado ao IICA pedir à Junta Interamericana de Agricultura (JIA), seu máximo órgão de governo, o qual se reunirá este ano entre os dias 3 e 5 de novembro no Brasil, para reconhecer a necessidade e a importância de unir esforços e experiências para a construção e implementação de um campus virtual hemisférico agroalimentar a serviço das instituições educacionais do setor, inspirado no CEIA3, que nasceu em 2008 como um consórcio de cinco universidades andaluzas com o objetivo de fortalecer a pesquisa, a inovação e o vínculo com o setor produtivo.
“Devemos pensar em uma espécie de campus virtual, talvez agrupado por regiões, reconhecendo que as universidades, sem perder seu individualismo, poderiam fazer uma análise de competências e trajetórias, reconhecendo as lideranças em alguns temas. Isso não será feito de um dia para o outro, mas com debates e explicações. A questão está no papel, e precisamos ver como avançar. No IICA, estamos dispostos a dar apoio e, com a nossa escola de líderes, o programa de jovens talentos e outras iniciativas, como a cátedra de agricultura tropical, vamos impulsionar com tudo”, disse Otero.
O quarto compromisso foca em fomentar a cooperação regional e internacional, a fim de estabelecer e fortalecer redes de colaboração no âmbito global para compartilhar conhecimentos, boas práticas e recursos e facilitar um intercâmbio acadêmico e científico que contribua para a inovação e o desenvolvimento sustentável do setor agroalimentar.

“Estamos fazendo uma rede, um networking, que nos ajuda nessa sinergia, a somar esforços e experiências positivas já obtidas por outros países com os próprios agricultores, para que, em nossos trabalhos de extensão ou de formação de nossos agrônomos e veterinários, eles possam ser fortalecidos”, disse a Reitora da Universidade Nacional de Assunção, Paraguai, Zully Vera.
Durante o encontro, os mais de 50 especialistas convocados abordaram temas como os novos desafios na formação de profissionais do setor agroalimentar; a colaboração regional como estratégia para a integração de uma educação sem fronteiras; o avanço da educação não presencial na América Latina e no Caribe; técnicas inovadoras para identificação e captação de alunos potenciais com ferramentas de marketing conversacional (chatbots, WhatsApp API, AI); o potencial agroalimentar das universidades; a dinamização de ecossistemas de inovação regional; e a inteligência artificial aplicada na agricultura sustentável.
“No contexto mundial tão complexo no qual o desenvolvimento da agricultura e dos agroalimentos se encontra, esse tipo de instâncias é essencial. Precisamos trabalhar juntos, pois ninguém mais se salvará sozinho, para melhorar o ensino dos novos líderes, dos jovens profissionais, com quem contamos para transformar e melhorar os sistemas agroalimentares com pesquisa e desenvolvimento tecnológico utilizável e escalável, em um âmbito de sustentabilidade, de igualdade, para conseguir reduzir o hiato entre grandes e pequenos produtores”, concluiu a decana da Faculdade de Agronomia da Universidade de Buenos Aires, Argentina, Adriana Mabel Rodríguez.
