São José, 5 de dezembro de 2024 (IICA) — O Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) definirá um roteiro antes da COP30, que será realizará no ano que vem no Brasil, com o objetivo de posicionar o setor agropecuário como essencial para a segurança alimentar, energética e climática do planeta.
Esse foi um dos acordos estabelecidos em um diálogo de alto nível em que o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, repassou os resultados da COP29 — recentemente realizada em Baku —, com três das figuras de maior trajetória para analisar criticamente a situação atual e futura das negociações ambientais e sua relação com a agricultura.
Participaram da conversa: Fernando Mattos, Ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai e Presidente da Junta Interamericana de Agricultura (JIA), órgão máximo de governo do IICA; Izabella Teixeira, ex-Ministra de Meio Ambiente do Brasil e negociadora-chefe do país na COP21, na qual e adotou o histórico Acordo de Paris; e o professor Rattan Lal, referência mundial em agricultura regenerativa e ciências dos solos, Prêmio Mundial da Alimentação e Embaixador da Boa Vontade do IICA.
Os três destacaram que o IICA deve desempenhar um papel fundamental na construção de uma agenda para a COP30, colocando o centro o papel insubstituível da agricultura como sustentáculo da segurança alimentar e energética global e lançando mais luz sobre o processo de transformação que está sendo realizado, com protagonismo da ciência e de novas tecnologias.
Nesse sentido, Mattos propôs que o IICA convoque uma reunião de ministros da agricultura com o setor privado e a academia, entre outras partes interessadas, para avançar em uma articulação eficiente com o país organizador da COP30, o Brasil, possibilitando um posicionamento adequado dos temas relacionados ao setor agropecuário em Belém.
O Agro na COP29 e na COP30
Há poucos dias, a capital do Azerbaijão convocou 65.000 pessoas de quase 200 países na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na qual o IICA e seus parceiros tiveram um pavilhão — denominado Casa da Agricultura Sustentável das Américas — que serviu para mostrar os avanços realizados pelo setor em prol de uma maior sustentabilidade e resiliência.
A próxima edição do maior foro de negociação ambiental do mundo será realizada no final do próximo ano em Belém do Pará, Brasil, na desembocadura do Rio Amazonas.
Espera-se que, na COP30, a agricultura ocupe um lugar central na agenda, considerando que o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, e que isso promova a vontade política global para acelerar a transição verde. Isso marcará uma mudança quanto às últimas duas COP, que aconteceram em países que são fortes produtores e exportadores de petróleo e gás natural (Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão).
“A agenda climática está em uma encruzilhada. Ainda não se vê a luz no fim do túnel. Sabemos para onde queremos ir, mas temos dificuldades sobre como chegar lá”, observou Otero.
“Na COP29, foram comprometidos 300 bilhões de dólares anuais de financiamento para a mitigação e adaptação nos países em desenvolvimento. No entanto, nós nos perguntamos por que chega tão pouco dinheiro à agricultura, se se diz que o setor deve estar no topo da agenda global por suas responsabilidades”, indagou o Diretor Geral do IICA.
Participação ativa
O Ministro Mattos qualificou como uma “excelente notícia” a próxima COP ser organizada no Brasil, e afirmou que “devemos construir uma agenda de apoio e participação ativa, uma vez que a agricultura e a segurança alimentar deverão ter um lugar mais destacado, sendo o Brasil uma potência agropecuária”.
Além disso, ressaltou a iniciativa do IICA de levar a voz da agricultura das Américas à negociação ambiental no Azerbaijão pela terceira vez consecutiva, e observou que a chegada da COP ao Brasil será uma grande oportunidade para os países latino-americanos de colocar em primeiro plano, juntamente com o organizador, a importância do equilíbrio entre as três dimensões da sustentabilidade, que inclui os aspectos econômicos e sociais.
“O resultado da COP29 não foi um fracasso total, pois no último momento a presidência conseguiu fechar acordos que dão alguma esperança. Houve uma posição firme dos países petrolíferos, bloqueando as declarações finais que ressaltavam a necessidade de acelerar o abandono gradual dos combustíveis fósseis. Hoje os desafios são muito importantes. Mas teremos uma enorme oportunidade na COP30 para dar maior força à segurança alimentar e à agricultura: se conseguirmos coordenar a nossa estratégia com o Brasil, aproveitarmos o aprendizado das três últimas COP e incorporarmos mais atores privados”, afirmou Mattos.
Izabella Teixeira ressaltou que a discussão sobre mitigação e adaptação à mudança do clima é essencialmente política, uma vez que o desenvolvimento está sendo discutido. “Por outro lado — acrescentou — não estamos mais falando de algo que acontecerá no futuro, mas de algo que já está presente”.
Teixeira, que é Assessora Especial do Diretor Geral do IICA para o G20 e as COP29 e 30, observou que os resultados de Baku não foram tão bons como se esperavam e que não houve avanços em estratégias para encaminhar a ambição das ações de combate à mudança do clima.
“Na COP28, em Dubai, foi ressaltada a necessidade de acelerar a transição para deixar os combustíveis fósseis. No Azerbaijão houve uma reação contra isso”, disse.
Teixeira enfatizou que a nova meta coletiva de financiamento climático não é suficiente para as necessidades dos países vulneráveis, e se referiu às dificuldades apresentadas pelo atual cenário geopolítico internacional.
“É muito importante — afirmou — como o Brasil manejará os resultados de Baku para elaborar a agenda da COP30. Isso inclui, certamente, como a agricultura será incorporada às discussões. Precisamos que a visão do Brasil e de toda América Latina seja determinante. Estamos diante de uma excelente oportunidade e de um grande desafio. A agricultura deve ser o elemento-chave”.
Nesse sentido, enfatizou a necessidade de que a região trabalhe de forma unificada na construção de uma nova narrativa que coloque em primeiro plano o papel da agricultura como parte da solução aos desafios globais, lado a lado com a ciência.
Liderança do IICA
O professor Lal, por sua vez, ressaltou a importância da decisão do IICA de novamente levar as visões da América Latina e do Caribe à COP29, em Baku, e observou que a participação foi um grande êxito.
O cientista, Prêmio Mundial de Alimentação de 2020, afirmou que muitos países latino-americanos são uma potência em produção de alimentos, e são também um modelo para o mundo, por suas práticas de conservação, que incluem o plantio direto, cultivos de cobertura e sequestro de carbono nos solos.
Lal disse que a agricultura pode ser a solução para um clima que já mudou, e ratificou a necessidade de que o carbono seja considerado um commodity, cuja absorção nos solos deve ser paga aos agricultores que realizam boas práticas.
“A COP30 do Brasil será uma oportunidade significativa para colocar o foco sobre o êxito do bioetanol produzido no país e é uma grande ferramenta para acelerar o abandono dos combustíveis fósseis. A agricultura deve mostrar que é parte da solução, e o IICA deve desempenhar um papel de liderança nesse objetivo”, concluiu.
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