
São José, 12 de março de 2025 (IICA) — Políticas públicas robustas e estruturas regulatórias favoráveis baseadas na ciência, instrumentos financeiros adequados, inovação tecnológica e digital, parcerias público-privadas, capacitação, assistência técnica e acesso a mercados são ferramentas cruciais para promover a mobilização de recursos econômicos para uma agricultura sustentável na América Latina e no Caribe, afirmaram especialistas e líderes globais em uma mesa-redonda de alto nível.
O evento chamado “Mobilização de recursos financeiros para a agricultura sustentável”, foi organizado em São José, Costa Rica, pelo Comitê Assessor de Negócios e Indústria (BIAC) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Bayer e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Ele reuniu membros do Business at OCDE (BIAC), braço institucional empresarial na OCDE que representa 10 milhões de empresas em todo o mundo, representantes da agroindústria, organizações agrícolas e de cooperação técnica, responsáveis políticos e instituições financeiras, entre outros, com o objetivo de identificar soluções práticas que promovam o investimento a longo prazo na agricultura sustentável, garantindo sistemas alimentares mais resistentes e produtivos em todo o mundo.
A abertura do encontro ficou a cargo de Hanni Rosenbaum, Diretora Executiva do Comitê Assessor de Negócios e Indústria da OCDE; Lloyd Day, Subdiretor Geral do IICA; e Elías Soley, Embaixador e Representante Permanente da Costa Rica na OCDE.
“Devemos garantir que os agricultores possam ter acesso aos recursos financeiros que precisam para a transição para práticas mais sustentáveis. A nossa capacidade para mobilizá-los de maneira eficaz determinará como construímos sistemas alimentares resilientes, empoderamos as comunidades rurais e fomentamos a sustentabilidade agrícola a longo prazo”, ressaltou Rosenbaum.
“A inovação tecnológica é urgente, e a agricultura digital será fundamental para proporcionar as ferramentas necessárias para tornar as práticas agrícolas sustentáveis e mais produtivas”, observou.
Soley destacou a necessidade de “políticas públicas baseadas na ciência e em dados para avançar para uma agricultura sustentável”. “Embora o apoio público à agricultura tenha crescido, ainda existe um enorme potencial para aumentar investimentos que fortaleçam serviços essenciais, como a pesquisa, a tecnologia e a infraestrutura. Mobilizar investimentos públicos e privados é essencial para promover a transformação agrícola, fomentar a resiliência climática e garantir um crescimento econômico inclusivo”, afirmou.
“Consideramos o financiamento um tema fundamental para garantir os recursos necessários para que os produtores possam continuar produzindo alimentos, desenvolvendo inovação, ciência e tecnologia. Esses espaços de diálogo são fundamentais para a construção de soluções conjuntas que concretizem a mobilização de financiamentos para os produtores de nossa região”, complementou o Diretor Geral Adjunto do IICA.
Participaram da mesa-redonda de alto nível: Víctor Carvajal, Ministro da Agricultura da Costa Rica; Marion Jansen, Diretora de Comércio da OCDE; Eugenio Diaz-Bonilla, Especialista em Sustentabilidade e Assessor Especial do IICA; José Perdomo, Presidente e Diretor Geral da CropLife LATAM; e Luis Pocasangre, Diretor Geral do Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE).
A conversa foi moderada por Alejandra Castro, Vice-Presidente de Assuntos Internacionais e Estratégia de Sustentabilidade, Bayer AG.
Ações e desafios
“Na Costa Rica, hoje podemos dizer que os nossos agricultores não desmatam e têm práticas ambientais responsáveis. Temos padrões elevados e dados suficientes para demonstrar que, de fato, eles fazem parte da solução para alcançar um ecossistema melhor”, indicou o Ministro Carvajal, ao explicar que, este ano, começaram com mecanismos financeiros para o dimensionamento de Ações Nacionalmente Apropriadas de Mitigação (NAMAs) em pecuária, café e cana-de-açúcar, promovendo a adaptação à mudança do clima e um programa de crédito com taxas de juros de 4%, por meio de bancos de desenvolvimento, para a implementação de tecnologias sustentáveis pelos produtores, para uma transição para práticas mais amigáveis ao ambiente.
Marion Jansen, Diretora de Comércio da OCDE, enfatizou a necessidade de políticas públicas que introduzam tecnologias eficientes e fomentem a inovação. Além disso, destacou a importância de certificações para garantir o acesso a mercados globais. “Requer-se conhecimento, assim como políticas públicas que ajudem os agricultores, para que os países introduzam tecnologias, pesquisas e plataformas mais eficientes para o setor agropecuário, boas para a produtividade e sustentabilidade. Temos a liderança para produzir a mudança”, argumentou.
Em sua intervenção, Eugenio Diaz-Bonilla, Especialista em Sustentabilidade e Assessor Especial do IICA, destacou os principais fluxos de financiamento para a segurança alimentar e a nutrição na América Latina e no Caribe: o financiamento do consumo e a produção de alimentos; os gastos públicos; os fluxos internacionais de desenvolvimento; e o financiamento proveniente do sistema bancário e mercados de capitais. E enfatizou a necessidade de reorientar esses recursos para tecnologias sustentáveis que abordem os desafios ambientais, nutricionais e produtivos atuais.
Por sua vez, José Perdomo, Presidente e Diretor Geral da CropLife LATAM, focou no fato de a indústria da ciência dos cultivos investir mais de 8 bilhões de dólares anuais em pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias e insumos agrícolas, como sementes, químicos biológicos, entre outros, que aumentem a produtividade agrícola e garantam a segurança alimentar, mas que enfrentam desafios regulatórios cada vez mais complexos que desaceleram a inovação.
“A indústria agroquímica é a mais regulada do mundo, mais ainda do que a farmacêutica. Precisamos de regulamentações que nos permitam inovar, e uma proteção da propriedade intelectual que incentive as empresas a continuar investindo. Precisamos de uma agricultura sustentável, de proteção à biodiversidade e legar um mundo melhor às nossas gerações. E acreditamos firmemente que a tecnologia e a inovação são essenciais. Devemos buscar maneiras de direcioná-las e financiá-las para que os agricultores possam ter acesso a elas”, afirmou.
Por sua vez, Luis Pocasangre, Diretor Geral do CATIE, ponderou que é fundamental colocar a participação ativa dos produtores no centro de qualquer processo, uma vez que, afinal, são eles que se encarregam da implementação de boas práticas sustentáveis, e é aí que reside o sucesso agrícola.
“A inovação e a tecnologia, como a melhoria genética, são essenciais para enfrentar os desafios do setor; assim como a cooperação entre governos, setor privado e instituições de pesquisa, para garantir financiamento e o acesso a tecnologias. Mecanização e modelos produtivos adaptados à mudança do clima são urgentes para mitigar a falta de mão de obra e reduzir riscos. Por fim, fortalecer cooperativas, capacitar mulheres rurais e apoiar comunidades indígenas garantirá uma agricultura sustentável e rentável”, concluiu.
Essa mesa de diálogo faz parte da campanha Paz pela Alimentação, lançada pelo Comitê Assessor de Negócios e Indústria da OCDE em 2022. Essa é uma plataforma global dedicada a abordar os desafios da segurança alimentar mediante o fomento da inovação agrícola sustentável e o fortalecimento das cadeias de valor agroalimentares.
A iniciativa reúne as partes interessadas internacionais para melhorar as contribuições empresariais ao trabalho agrícola da OCDE, demonstrando um forte compromisso em alcançar os objetivos de sustentabilidade global.
Por meio desse evento também se buscou explorar a importância de mobilizar recursos financeiros para o desenvolvimento da agricultura regenerativa com as principais partes interessadas e a OCDE; identificar soluções concretas e associações para apoiar iniciativas de agricultura sustentável; melhorar a colaboração entre os governos, o setor privado e as organizações internacionais para promover o desenvolvimento da agricultura sustentável; e aumentar a importância dos temas agrícolas nas discussões globais, entre outras.
