Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

Agricultura Productividade

Dayra Montenegro, produtora panamenha que voltou ao campo e modernizou a propriedade familiar após navegar entre diversos continentes, é reconhecida pelo IICA como Líder da Ruralidade das Américas

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Dayra é Presidente da Associação de Produtores Agropecuários de San Lorenzo, de onde compartilha seu aprendizado e acompanha outros agricultores na adoção de técnicas sustentáveis.

Cidade do Panamá, 10 de dezembro de 2025 (IICA). Dayra Montenegro nasceu e cresceu em San Lorenzo, província de Chiriquí, Panamá, em um lar onde o campo era tudo. Suas lembranças mais vívidas são da infância na propriedade da família, onde cada dia começava com a rotina de ir ao curral. “Meu pai nos levantava muito cedo para a ordenha. Não tínhamos que comprar nada, tínhamos de tudo ali. Se queríamos comer um banana, simplesmente pegávamos”.

Agora, depois de ter estado longe por muitos anos, Dayra está novamente na propriedade, fazendo uma pequena “revolução” com metodologias mais eficientes e sustentáveis que chegam também aos produtores vizinhos.

Sua aposta na revitalização da produção agrícola e na implementação de iniciativas que levam os produtores para novos horizontes é o motivo pelo qual Dayra foi homenageada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) como uma Líder da Ruralidade das Américas.

Montenegro receberá o prêmio “Alma da Ruralidade”, o reconhecimento com o qual o IICA pretende dar maior visibilidade a mulheres e homens que fazem a diferença nos campos do continente, pois são figuras fundamentais para a sustentabilidade e para a segurança alimentar e nutricional na região e de todo o mundo.

Da universidade aos cruzeiros, e de volta à terra

A vida rural era, para Dayra, um mundo livre e saudável, sem distrações tecnológicas nem pressões externas. “Não havia telefone, não tinha nada. Você brincava com o que tinha ali, não havia maldade. Todas os crianças, a partir dos sete anos, tinham tarefas e, depois das quatro da tarde, chegava a hora de brincar”.

Aos dez anos, porém, sua história deu uma reviravolta. Seu pai decidiu mandá-la, junto com seus irmãos, para a cidade de David, porque na comunidade rural não tinha mais do que uma escola primária. “Foi uma mudança total. Deparei-me com coisas que eu desconhecia, companheiros que haviam vivido na cidade e eram totalmente diferentes de nós”, conta.

Em seguida, continuou seus estudos até se graduar como licenciada em Registros Médicos. Seu sonho era ser advogada, mas as circunstâncias a levaram a escolher uma carreira mais compatível com as possibilidades de trabalho.

Terminada a universidade, começou a trabalhar em sua profissão. Mas logo chegaria a oportunidade de viver uma experiência que marcou sua visão de mundo: embarcou em um cruzeiro e trabalhou embarcada por nove anos, viajando pela Europa, Brasil, Argentina e Ásia. “Percebi que não sou uma pessoa para ficar trancada entre quatro paredes”, reflete.

Essa vida itinerante abriu seus horizontes, mas também reforçou uma certeza: sua verdadeira vocação estava na propriedade rural da família. Ao regressar ao Panamá, tentou novamente a vida urbana, mas o chamado da terra foi mais forte.

Decidiu retomar a propriedade de San Lorenzo juntamente com seu pai, que já tinha 76 anos. Não foi simples: ele, como muitos homens de campo de sua geração, desconfiava das ideias inovadoras que sua filha trazia. “Eu disse a ele: em vez de derrubar, vamos semear”. E a perseverança de Dayra deu frutos: pouco a pouco, com argumentos e trabalho, conseguiu convencê-lo e, juntos, começaram um processo de transformação.

Assim nasceu um modelo silvipastoril que combinou o plantio de árvores e pastos forrageiros com uma gestão sustentável dos recursos. Introduziu os pastos Cuba 22 e Marandú, que se tornaram um suplemento fundamental para o gado.

Também instalou a captação de águas e sistemas de irrigação simples que aproveitavam a chuva. “Para mim, o mais importante é a água. Se não há água, não há frutos. Se não há água, não há vida”, resume com convicção. Ao mesmo tempo, implementou práticas ecológicas, como o uso do bocashi — um adubo orgânico de origem japonesa preparado com esterco e folhas secas — e a recuperação de cercas vivas.

Nesse ponto, Dayra se detém e explica com paixão o que essas práticas significam: “As cercas vivas são árvores vivas, não postes secos. Isso dá vida à propriedade, pois servem de sombra para os animais e mantêm as pastagens verdes”. Na sua visão, plantar árvores é a melhor tecnologia para o campo: simples, acessível e repleta de benefícios. “Em vez desmatar, florestar: são as árvores que dão vida à água e à terra”, ressalta a produtora panamenha.

O caminho não foi fácil. No início, até os vizinhos duvidavam de seus projetos. “Diziam que era algo que não podia ser feito, que a água não se ‘colhia’, que apenas produtos eram colhidos. E eu mostrei que era possível”. Com o tempo, sua propriedade se transformou em uma referência: hoje os vizinhos pegam sementes de lá para replicar as práticas em seus próprios lotes. Graças a essas mudanças, já não precisa alugar terrenos adicionais para alimentar o gado na época de seca, pois a sua propriedade tem forragem disponível o ano todo.

Montenegro destaca que o apoio técnico do IICA foi fundamental nesse processo. Graças a projetos e capacitações, Dayra e sua comunidade incorporaram novos conhecimentos e colocaram em prática sistemas produtivos mais eficientes. “O IICA foi como uma escola”. Organizaram-se práticas em sua propriedade, “eles nos ensinaram como plantar e como aproveitar um terreno pequeno”, conta, com o celular apoiado em sua caminhonete, com um árvore ao fundo (como não podia ser de outra maneira) e sob o sol quente da manhã em Chiriquí.

Aquelas visitas dos especialistas, as capacitações e o intercâmbio com outros produtores abriram novas perspectivas e permitiram multiplicar as boas práticas na comunidade. Mas a transformação não se limitou à produção: Dayra também assumiu um papel de liderança comunitária e hoje é Presidente da Associação de Produtores Agropecuários de San Lorenzo.

Nela, compartilha o que foi aprendido e acompanha outros agricultores na adoção de técnicas sustentáveis. “É importante haver árvores nas propriedades rurais, que se evite o uso de químicos e que se aprenda a organizar uma horta — explica —. Eu não sou mesquinha com o que sei, compartilho com os demais”.

Uma banana da propriedade rural tem outro sabor

Retomando a conversa sobre o contraste entre o campo e a cidade, Dayra diz que isso é notado, sobretudo, na mesa. E resume com um exemplo simples: “Você compra uma banana na cidade e ela não tem sabor. Você come uma banana da minha propriedade e ela é doce, totalmente doce. O arroz que você compra no supermercado não tem o mesmo sabor daquele que você mesmo colhe e beneficia”. Em seu lar, os pratos mais comuns são: arroz com feijão, guisado de frago, tajadas (de banana) maduras e sancocho com verduras da propriedade. “No campo se come de forma saudável, nada de químicos”, enfatiza.

Para Montenegro, o campo não é só um lugar de produção, mas também de valores. Ela se preocupa que muitos jovens se afastem da vida rural, atraídos pela cidade e pelo excesso de tecnologia. “Hoje em dia, a maioria dos jovens está afastada da prática, por exemplo, de se levantar às cinco da manhã para ordenhar uma vaca”.

“Preparar uma horta não é fácil, levantar-se e trabalhar ao sol tampouco — reconhece —. Mas a terra proverá”. Algum conselho para os pais preocupados com o futuro de seus filhos? “Que lhes incutam o valor da propriedade rural, que os ensinem a plantar, nem que seja em um vaso. Se nos acostumarmos que tudo pode ser comprado, isso se perderá”, lamenta a empreendedora panamenha. Os pais de família, acrescenta, “devem contar a seus filhos que o campo é um aliado, é um futuro possível”.

Como mulher, também teve que superar o preconceito. Em um meio historicamente masculino, Dayra demonstrou que o gênero não é uma limitação. “Tenho orgulho de ser uma mulher empoderada do setor agropecuário. Sei plantar, fazer uma horta e vacinar uma vaca, mas também sei usar um salto alto para ir à cidade. Para mim não é nenhuma dificuldade ser mulher no campo”. Hoje, ela combina o trabalho diário na propriedade com seu papel como mãe e líder comunitária, transmitindo um exemplo poderoso de constância e compromisso.

Imagina o futuro na mesma propriedade que a viu crescer, com mais árvores, mais conhecimentos aplicados e mais vida. “Em vinte anos, vejo-me trabalhando, aprendendo e compartilhando o que sei. Imagino-me sentada vendo tudo limpo, com pasto e árvores, praticando tudo o que aprendi”, conclui Dayra, sob o sol da manhã de Chiriquí.

Dayra Montenegro transformou sua propriedade em uma referência para a comunidade, inspirando outros produtores a adotar práticas ecológicas e a captar água.

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Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int

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