São José, 13 de outubro de 2025 (IICA). A América Latina e o Caribe (ALC) têm a oportunidade de transformar seus sistemas agroalimentares em modelos mais sustentáveis, inclusivos e resilientes; mas, para isso, devem ser impulsionados por políticas coerentes, inovação institucional e tecnológica, uma governança fortalecida e ampla colaboração multissetorial.
Isso foi concluído por diversos especialistas no painel “Transformando os sistemas alimentares na ALC: das lições à ação”, no âmbito do diálogo hemisférico “Experiências transformadoras e escaláveis para uma nova geração de políticas públicas para os sistemas agroalimentares”, na sede central do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), na Costa Rica.
Participaram do encontro de alto nível: o Coordenador do Observatório de Políticas Públicas para os Sistemas Agroalimentares (OPSAa) do IICA, Joaquín Arias; o Chefe da Divisão de Meio Ambiente, Desenvolvimento Rural e Gestão do Risco de Desastres do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Pedro Martel; o Economista do Banco Mundial, Héctor Peña; o Executivo Principal da Direção de Programação do Setor Privado do CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe, Nelson Larrea; o Presidente da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Ricardo Marra; e o Diretor do Instituto de Pesquisas Agropecuárias (INIA) do Chile, Carlos Furche.
O evento, realizado como parte da comemoração do 50º aniversário do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI), foi moderado por Valeria Piñeiro, Representante Regional para ALC e Coordenadora Sênior de Pesquisa da Unidade de Mercados, Comércio e Instituições da entidade.
A discussão focou em como a evolução dos sistemas alimentares nos últimos 50 anos tem influenciado no panorama de desafios e oportunidades da ALC, na visão dos sistemas alimentares na região em 2030 e além, em quais intervenções de políticas e inovações institucionais demonstraram ter maior potencial de impacto e como podem ser escalonadas ou adaptadas aos diversos contextos dos países e como os governos, a sociedade civil e o setor privado podem colaborar de maneira mais eficaz para converter as visões de longo prazo em estratégias coordenadas e viáveis.
“Para transformar os sistemas agroalimentares, devemos alinhar objetivos, instrumentos e financiamentos, fazendo isso de maneira coerente e colaborativa”, afirmou Joaquín Arias, do IICA, ao ressaltar a importância de fortalecer a coerência nas políticas agroalimentares mediante um “enfoque de sistemas que integre os âmbitos econômico, social e ambiental”, enquanto ponderava sobre o valor do diálogo intersetorial e a geração de bens públicos regionais como dados e indicadores para promover melhores políticas.
Pedro Martel, do BID, enfatizou a importância de investir em conhecimento, governança pública e desenvolvimento tecnológico para fortalecer as políticas agroalimentares e indicou que essas ações, “de baixo custo e alto impacto”, geram informações, análises e capacidades institucionais fundamentais para enfrentar os desafios do setor.
“Investir em governança e em sistemas de informação não é uma despesa, mas um investimento essencial para que as políticas beneficiem todos os atores da economia”, observou.
Héctor Peña, do Banco Mundial, observou a necessidade de políticas agroalimentares adaptadas a cada país que integrem os pequenos produtores, promovam a sustentabilidade e o desenvolvimento e incluam ferramentas de inclusão financeira e mitigação de riscos. “Não podemos pensar em transformar os sistemas agroalimentares sem incluir aqueles que produzem a maior parte dos nossos alimentos”, afirmou, também priorizando o aspecto crucial de fortalecer a confiança nas instituições públicas.
Nelson Larrea, do CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe, também enfatizou a importância de canalizar financiamentos para os produtores por meio de bancos de desenvolvimento e agrários, aproveitando a tecnologia e a inovação — como a digitalização, a inteligência artificial e os mercados de carbono — para melhorar a inclusão financeira e a eficiência do crédito agrícola.
“É fundamental modernizar os bancos de desenvolvimento para melhor alcançar os que estão mais afastados do setor financeiro e gerar oportunidades reais de desenvolvimento”, afirmou Larrea, ressaltando a necessidade de que os países apoiem essas iniciativas.
Por sua vez, Ricardo Marra, Presidente da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, destacou o papel do setor privado e dos produtores para fortalecer a transparência e a previsibilidade do mercado agrícola; bem como a relevância de gerar informações objetivas, institucionalizar mercados competitivos e promover consensos entre os diversos atores da cadeia produtiva.
“Quando grandes, médios e pequenos produtores têm acesso às mesmas informações de preços e mercados, fortalece-se a tomada de decisões e a sustentabilidade do setor”, afirmou.
Carlos Furche, Diretor do INIA do Chile, fechou o painel argumentando que a transformação dos sistemas agroalimentares deve partir do fortalecimento da base produtiva — a agricultura e seus recursos naturais —, especialmente a água e o solo, juntamente com a necessidade de políticas que promovam seu uso sustentável, fortaleçam a sanidade animal e vegetal, promovam a digitalização do setor e gerem condições que possibilitem o investimento.
“O futuro da agricultura requer governança moderna, pesquisa, inovação e avaliação constante das políticas públicas”, concluiu.
Fortalecer a ciência e políticas baseadas em evidências
Durante a sessão especial do 50º aniversário do IFPRI, o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, destacou o papel essencial do conhecimento, da evidência científica e da cooperação internacional para transformar os sistemas agroalimentares da ALC.
Além disso, valorizou o IFPRI como um parceiro indispensável no esforço para entender e transformar as políticas alimentares em escala global, reconhecendo sua trajetória de cinco décadas na geração de evidências científicas para orientar decisões de políticas públicas.
“No IICA compartilhamos integralmente a visão do IFPRI de que a transformação dos sistemas agroalimentares requer políticas baseadas em evidências, investimentos sustentados em inovação e governança inclusiva. Reafirmamos o compromisso de continuar construindo pontes entre a ciência e a política, entre a pesquisa e a ação, que devem ser traduzidas em decisões de políticas públicas mais coerentes, coordenadas e transformadoras”, disse Otero.
Por sua vez, o Diretor Geral do IFPRI, Johan Swinnen, destacou que hoje, 50 anos depois da fundação desse Instituto, enfrenta-se “um conjunto de desafios mais complexos”, como “as desigualdades persistentes, os riscos climáticos e a volatilidade política e econômica”, mas que, com o mesmo espírito de colaboração que promoveu sua criação, continuarão trabalhando em seu “compromisso conjunto de erradicar a fome e a desnutrição”.
“Juntos, podemos traçar uma via para sistemas alimentares sustentáveis, inclusivos e resilientes para a ALC e para o mundo. A América Latina e o Caribe são atores críticos na segurança alimentar global e na sustentabilidade ambiental; seu setor agroalimentar proporciona meios de vida e desenvolvimento econômico em toda a região, beneficiando muitos”, comentou Swinnen.
O IFPRI, com sede em Washington D.C. e membro do consórcio CGIAR, é referência mundial em pesquisa aplicada à alimentação, à agricultura e ao desenvolvimento rural. Desde a sua criação, em 1975, ele colabora estreitamente com governos, organizações internacionais e centros de pesquisa para fortalecer a segurança alimentar e a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares no âmbito global.
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