São José, 2 de dezembro, 2025 (IICA) — Autoridades e representantes dos serviços sanitários de 24 países das Américas, juntamente com especialistas de organismos de cooperação e atores do setor privado, analisaram o impacto da inteligência artificial (IA) no fortalecimento dos sistemas sanitários e fitossanitários, visando ampliar seus usos, tornar mais seguro e agilizar o comércio agrícola na região.
O encontro ocorreu no âmbito do seminário técnico “Aproveitar a IA para um comércio seguro na América Latina e no Caribe (ALC): inovações para a transformação sanitária e fitossanitária”, organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e o Fundo para a Aplicação de Normas e Fomento do Comércio (STDF).
O evento de três dias ocorreu na sede central do IICA, em São José, Costa Rica, e permitiu aos mais de 50 especialistas participantes conhecer experiências e avanços concretos no uso de tecnologias digitais e inteligentes, que ajudam a detectar riscos, prevenir doenças e modernizar os sistemas sanitários e fitossanitários.
A IA está acelerando a detecção de riscos na sanidade agropecuária e inocuidade dos alimentos (SAIA), fortalecendo as respostas precoces a surtos e pragas e tornando os processos de inspeção e rastreabilidade mais eficientes, o que permite uma tomada de decisões mais bem informada e o aumento da transparência entre países. Isso se traduz em um comércio agroalimentar mais ágil, seguro e confiável para a ALC.
“A inteligência artificial já não é uma ideia futurista, ela já está transformando os nossos serviços SAIA; as aplicações baseadas em IA já mostram resultados concretos, modelos epidemiológicos mais precisos, análises de dados automatizadas e controles fronteiriços mais eficientes. A região é ideal para promover essas inovações, graças a um comércio agrícola dinâmico e ecossistemas de inovação em crescimento”, comentou o gerente do programa de Sanidade Agropecuária, Inocuidade e Qualidade dos Alimentos do IICA, José Urdaz.
O Subdiretor de STDF, Peter Donelan, destacou que a América Latina e o Caribe estão na vanguarda da adoção de soluções inovadoras e em consonância com os âmbitos éticos e de governança que se desenvolvem globalmente, e que já estão melhorando a gestão de riscos e reduzindo custos. Ele destacou que integrar a inovação em políticas e capacidades, juntamente com a colaboração entre governos e parceiros internacionais, é fundamental para ampliar seu impacto.
“A digitalização e a IA estão transformando a maneira como gerimos a inocuidade e facilitamos um comércio mais seguro e sustentável. A inovação só gera impacto real quando integrada de maneira intencional em políticas, sistemas e capacidades. Nenhum país pode enfrentar esses desafios sozinho; trabalharmos juntos nos permitirá construir sistemas que protejam a saúde, abram mercados e transformem vidas”, assegurou.
O Fundo para a Aplicação de Normas e Fomento do Comércio (STDF) é uma parceria mundial que ajuda os países em desenvolvimento a melhorar suas capacidades em sanidade animal e vegetal e segurança alimentar para facilitar o comércio internacional. Isso é feito pelo apoio à implementação de normas internacionais relacionadas com o Acordo MSF da OMC e fomentando o uso de boas práticas.
Experiências e casos de sucesso
No seminário foram realizadas sessões que incluíram a apresentação de experiências da Argentina, por meio de seu Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (SENASA), Belize, Brasil, Canadá, Chile, Equador, Peru, Saint Kitts e Nevis e Uruguai, países que já aplicam a IA para melhorar a vigilância sanitária em cultivos como banana, batata, abacate, cítricos e sementes de ervas-daninhas, entre outros, mediante o uso de apps, plataformas preditivas, drones, imagens de satélites e algoritmos para detecção precoce de pragas e doenças, fortalecer a rastreabilidade, automatizar processos e orientar melhor os esforços de inspeção.
O próprio SENASA, por meio de seu Diretor de Estratégia e Análise de Risco, Esteban Sampietro, apresentou o Plano de Controle de Resíduos e Outros Poluentes em Alimentos de Origem Animal (CREHA), que busca proteger a saúde de consumidores e garantir a abertura e a manutenção de mercados internacionais.
“Pegamos diversos sistemas já operacionais de rastreabilidade animal, declarações de abate, registros produtivos, certificação eletrônica de produtos e a rede de laboratórios e os reunimos no SISMU, um único sistema inteligente que treinamos com múltiplos parâmetros sanitários, produtivos e estatísticos e, assim, conseguimos que o sistema recomendasse amostras de maneira automática. Isso permitiu elaborar e implementar um plano completamente baseado em risco, mais eficiente, focado e transparente”, detalhou Sampietro.
Também foi ressaltado o caso de Saint Kitts e Nevis, onde, segundo a Oficial de Quarentena Vegetal do Departamento de Agricultura, Pesca e Silvicultura, Kadian Banton, o uso da IA se tornou um pilar para fortalecer a sanidade vegetal, uma vez que permitiu superar limitações técnicas e de pessoal.
“Há capacidades limitadas, não temos laboratórios de diagnóstico, entomólogos e outros recursos, e a IA mudou as regras do jogo para a sanidade vegetal. Ela está revolucionando a agricultura no país, ao oferecer informações em tempo real sobre a saúde do solo, condições de cultivos e padrões climáticos, permitindo aos agricultores otimizar o uso de recursos e aumentar o rendimento da produção, o que aumenta a eficiência geral das explorações agrícolas”, mencionou Banton.
“Há avanços na agricultura de precisão com análises preditivas, irrigação inteligente e detecção rápida de doenças, no monitoramento assistido por drones, que permite aos agricultores, tecnocratas e responsáveis políticos por tomar decisões informadas que podem reduzir os resíduos, aumentar a produtividade e promover a gestão ambiental”, acrescentou.
No evento também foram mostradas iniciativas regionais de como a IA está sendo utilizada de maneira colaborativa para apoiar a sanidade agropecuária e o comércio seguro, entre elas o Centro Regional de Inteligência Fitossanitária da Comunidade Andina (CRIFCAN) e as arenas virtuais do Organismo Internacional Regional de Sanidade Agropecuária (OIRSA).
A primeira visa fortalecer a prevenção e a gestão de pragas na Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, especialmente a do Fusarium Tropical Race 4 (TR4) na banana, por meio de um sistema avançado de monitoramento e análise de informações.
A outra é uma tecnologia de realidade virtual que gera espaços de simulação utilizados para capacitar profissionais em áreas de sanidade agropecuária, que permitem praticar procedimentos de detecção, inspeção e tomada de decisões em cenários realistas, sem os riscos do campo real, sobre temas de sanidade vegetal, inocuidade, saúde animal e quarentena.
O encontro incluiu uma sessão sobre oportunidades de financiamento e sobre como os países podem ter acesso a recursos para implementar e ampliar tecnologias de IA aplicadas à proteção sanitária e fitossanitária.
“A IA, para o desenvolvimento regional, requer complementaridade institucional: ela pode ser o catalisador de uma integração econômica mais profunda e eficiente, gerar valor. Temos que trabalhar de forma conjunta, e o FONPLATA pode ser o financiamento operacional”, indicou Gastón Gómez, Chefe de Operações com Garantia Soberana desse banco de desenvolvimento.
“Apoiamos muito essas iniciativas, o setor agrícola é fundamental e deve ser alçado para outro nível. A IA é um desafio para todos, mas também uma oportunidade para acelerar a inovação e repropor soluções inclusivas, acessíveis e com formação técnica”, afirmou Gloriana Jiménez, executiva de Instituições Financeiras e Programas Estratégicos do Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE).
Visão de futuro
No encontro, o Diretor Geral eleito do IICA, o guianense Muhammad Ibrahim, teve uma breve intervenção na qual ressaltou que a “IA e as ferramentas digitais serão cada vez mais importantes” para enfrentar os desafios agrícolas e de sustentabilidade, juntamente com o aumento de pragas e doenças que ameaçam a segurança alimentar.
“A cada dia vemos mais surtos de pragas e doenças de relevância econômica que ameaçam a segurança alimentar e a nutrição na região, como o Fusarium TR4, a larva da mosca-do-berne, a peste suína africana, a monilíase no cacau, de modo que devemos fortalecer a nossa capacidade para responder e reduzir os problemas. A capacitação e o desenvolvimento de capacidades são muito importantes, e essa é uma área em que o IICA vem trabalhando”, disse.
Ibrahim, que, em janeiro de 2026, sucederá o argentino Manuel Otero na direção do IICA, adiantou que a área de sanidade e inocuidade agroalimentar será uma das mais fortes em que o organismo hemisférico trabalhará.
Como resultado do evento, conforme especificou o especialista em SAIA do Instituto, Horrys Friaca, durante o encerramento, “os participantes concordaram sobre o grande potencial da IA para fortalecer os serviços SAIA e otimizar recursos em um contexto de alta demanda. Avaliaram o intercâmbio de experiências que permitiu identificar desafios comuns que o IICA e o STDF acompanharão para alcançar soluções práticas e quanto a oportunidades de financiamento e possíveis aliados, destacando o papel do setor privado como parceiro-chave”.
Mais informação:
José Urdaz, Gerente do Programa de Sanidade Agropecuária, Inocuidade e Qualidade dos Alimentos do IICA.
jose.urdaz@iica.int