
São José, 28 de março de 2025 (IICA) — A nova fronteira do conhecimento permitirá resolver a tensão entre a necessidade de aumentar a produtividade e conservar o ambiente, uma vez que esses dois objetivos poderão convergir de maneira cada vez mais harmônica, afirmaram representantes de institutos de pesquisa e funcionários de organismos internacionais no Segundo Diálogo Regional sobre Ciência, Tecnologia e Inovação nos Sistemas Agroalimentares da América Latina e do Caribe.
A sede central do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) foi o palco desse encontro, um debate regional que faz parte das ações que estão sendo realizadas para fortalecer e renovar o FORAGRO, o Foro das Américas para Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Agropecuário.
O encontro convocou representantes de ciência e tecnologia para agricultura e sistemas agroalimentares da região, como institutos de pesquisa nacionais e internacionais, organismos de cooperação, academia, setor privado e organizações de produtores agrícolas.
O IICA exerce a secretaria executiva do FORAGRO, que foi estabelecido em 1997 como o mecanismo hemisférico multissetorial para o debate e a mobilização de acordos sobre temas de pesquisa e inovação que afetam o setor agroalimentar das Américas. Ele tem 73 membros, que incluem organizações dos setores público, privado, acadêmico, produtivo e sociedade civil, entre outros.
Participaram da abertura a Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Silvia Massruhá; a Especialista em Agricultura, Recursos Naturais e Desenvolvimento Rural do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Marion Le Pommellec; a Representante Regional do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI) para a América Latina e o Caribe, Valeria Piñeiro; o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero; e o Diretor de Cooperação Técnica do Instituto, Muhammad Ibrahim.

Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.
Transições simultâneas
Silvia Massruhá mencionou os grandes desafios que a agricultura enfrenta, pela necessidade de produzir alimentos de melhor qualidade para uma população crescente, e como esse contexto impacta as pesquisas de tecnologia agropecuária realizadas no continente.
“Estamos vendo várias transições que ocorrem de maneira simultânea. Vemos um consumidor mais preocupado com a forma de produzir, barreiras comerciais, transição energética. Precisamos usar mais dados e informações”, disse Massruhá, que, além da EMBRAPA, também preside o Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico Agroalimentar e Agroindustrial do Cone Sul (PROCISUR), que é um instrumento institucional de integração e articulação dos Institutos Nacionais de Pesquisa Agropecuária da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai Uruguai e IICA.
“Temos — acrescentou — o desafio de fazer uma agricultura multifuncional, resiliente e sustentável. Com ciência e tecnologia, a América Latina tem soluções para sistemas complexos e poderá continuar a ser protagonista da agricultura mundial, contribuindo para a segurança alimentar e a paz do planeta”.
“Inovar é mudar para melhorar”, disse Marion Le Pommellec, que, em nome do BID, alertou sobre a urgência de mudar de modelos.
“Devemos buscar — afirmou — modelos orientados para o impacto, a adoção e a implementação do conhecimento; modelos que estejam centrados no usuário final das tecnologias. Isso, de forma concreta, significa que as instituições envolvidas devem mudar paradigmas, pensar em novas ferramentas e trabalhar de maneira diferente para implementar esses novos modelos. Estamos falando de mudanças radicais que não serão fáceis, mas que consideramos indispensáveis. Acreditamos que, antes que investir mais em inovação, é necessário investir melhor, e é isso o que faremos no BID”.
Piñeiro falou em nome do Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), a maior rede mundial de pesquisa e inovação agropecuária, uma vez que o IPFRI é um de seus representantes na América Latina e no Caribe.
“O mundo enfrenta desafios interconectados, e a nossa missão é liderar a mudança transformadora em benefício dos pequenos agricultores, especialmente no Sul Global”, explicou.
Piñeiro considerou que a inovação tecnológica é um catalisador fundamental da transformação agrícola, e que ela não pode ser alcançada sem a colaboração de todos os atores essenciais. Nesse sentido, sustentou que os resultados já são demonstrados na realidade: “A difusão de tecnologias agrícolas aumentou a segurança alimentar. Iniciativas estratégicas conseguiram transformar a situação dos agricultores e a produção. O futuro da agricultura está marcado por uma evolução constante”.
Novos modelos de desenvolvimento
O diálogo na sede central do IICA acontece em duas jornadas e tem como foco a criação de um roteiro estratégico para a ciência, tecnologia e inovação na agricultura e sistemas agroalimentares das Américas. Também se propõe avançar em termos de cooperação horizontal e discutir vias para aproveitar melhor a participação da região nos principais espaços globais da ciência, tecnologia e inovação para o setor agrícola e os sistemas agroalimentares.
Muhammad Ibrahim fez um resumo das conclusões do Primeiro Diálogo Regional sobre Ciência, Tecnologia e Inovação, realizado em maio de 2023, e explicou o plano de trabalho proposto para o FORAGRO este ano, que inclui a elaboração de um roteiro regional estratégico de ciência e tecnologia para a agricultura e a construção de uma ferramenta virtual que reúna os conhecimentos, boas práticas e lições aprendidas.
“Esse encontro sinaliza muito claramente que a agricultura é estratégica para a implementação de novos modelos de desenvolvimento sustentável”, disse, por sua vez, Manuel Otero.
O Diretor Geral do IICA enfatizou que a nova fronteira do conhecimento oferece oportunidades sem precedentes para a América Latina e o Caribe, como aproveitar resíduos na criação de novos bioprodutos e restaurar ecossistemas ou melhorar o uso da água e do solo para enfrentar a mudança do clima.
“Sempre houve certa tensão entre o aumento da produtividade e a questão do cuidado ambiental. Mas graças às novas tecnologias, esses dois objetivos começam a convergir. Não perguntamos por que, existindo um novo mundo de desenvolvimentos tecnológicos, a agricultura de nossa região ainda não conseguiu capitalizá-los; ou por que, havendo instituições focadas em pesquisa para a agricultura nos países, não aproveitamos melhor as oportunidades. Precisamos de uma nova plataforma para a cooperação horizontal. E precisamos que as Américas tenham uma voz mais forte na agenda global de tecnologia agroalimentar”, concluiu Otero.

Marion Le Pommellec, Especialista em Agricultura, Recursos Naturais e Desenvolvimento Rural do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Valeria Piñeiro, Representante Regional do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI) para a América Latina e o Caribe; e Silvia Massruhá, Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
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