Buenos Aires, 8 de agosto de 2025 (IICA) — Uma nova narrativa que reflete o verdadeiro valor da agricultura como parte da solução aos desafios globais deve ser uma construção coletiva que inclua governos, produção e indústria e entenda as necessidades dos consumidores, disseram referências internacionais para um público massivo no Congresso da Associação Argentina de Produtores em Semeadura Direta (AAPRESID), em Buenos Aires.
Tratou-se de um painel de alto nível que a AAPRESID — entidade que é referência regional e mundial em produção e conservação do meio ambiente — organizou em parceria estratégica com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
O congresso, de três dias de duração, coloca em debate os temas-chave do futuro da agricultura, vinculando ciência e produção com foco nos cenários de inovação.
É o segundo ano consecutivo que o IICA tem uma participação de destaque nesse evento, um dos mais importantes do ano para o setor agropecuário na América Latina.
O título da discussão foi “Construindo uma nova narrativa: o futuro da agricultura e dos sistemas agroalimentares das Américas”, sendo um convite para pensar sobre como se constrói um olhar mais real da atualidade da agricultura e para onde ela se projeta.
Jack Bobo, Diretor Executivo do Instituto Rothman para Estudos sobre a Alimentação da Universidade de California, Los Angeles (UCLA); Kip Tom, Vice-Presidente de Política Agrícola do centro de pensamento America First Policy Institute (AFPI) e ex-Embaixador dos Estados Unidos nas agências da ONU em Roma; Walter Baethgen, Pesquisador Sênior na Escola de Clima da Universidade de Columbia; Marcelo Torres, Presidente da AAPRESID; e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA, foram os expositores.
Após o painel, Otero recebeu placas de reconhecimento por seu trabalho à frente do IICA da AAPRESID e do FONTAGRO, fundo que financia projetos inovadores em agricultura na América Latina e no Caribe.
A distinção do FONTAGRO foi entregue por seu presidente, Nicolás Bronzovich, que também conduz o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) da Argentina e indica que o apoio constante de Otero foi fundamental para promover iniciativas que promovem a inovação e a sustentabilidade no setor.
A placa da AAPRESID reconhece o compromisso do Diretor Geral do IICA com o desenvolvimento sustentável da agricultura continental, o diálogo e a integração regional, tendo sido entregue pelo Presidente Marcelo Torres.
Contra a desinformação e a polarização
“Hoje a narrativa que existe sobre a agricultura nos divide e torna tudo mais difícil, pois ela é apresentada como uma atividade que usa 40% da terra e 70% da água doce do planeta e, apesar disso, 800 milhões de pessoas vão para a cama com fome a cada dia. Por isso muitos pensam que a agricultura é um problema”, disse Jack Bobo.
O especialista em sistemas alimentares sustentáveis considerou que — em tempos em que a desinformação e a polarização estão disseminadas — a distorção da imagem da agricultura só pode ser resolvida por meio da colaboração entre os diversos atores.
“É necessário explicar às pessoas — disse — que a história da agricultura é uma história de êxito e motivá-las com a inovação. Hoje a expectativa de vida é mais alta do que no século XIX em todos os países do mundo, e isso é graças à existência de uma melhor alimentação e melhor nutrição. Embora seja inaceitável que ainda hoje existam 800 milhões pessoas com fome, isso representa 10% da população mundial, quando a proporção chegava a 30% há 30 anos”.
“As coisas não estão indo de mal a pior, mas estão melhorando e continuarão a melhorar, embora não tão rápido quanto necessário”, concluiu.
Kip Tom sustentou que a segurança alimentar é essencial para a segurança nacional e para o cuidado com a democracia dos países.
“Quando os solos são resilientes — refletiu —, as pessoas estão bem-alimentadas e a democracia prospera. Uma nação que não pode se alimentar não pode se defender. Cada colheita é um escudo para o país contra a dependência externa”.
Tom acrescentou que as Américas, como região, têm uma grande oportunidade na produção de alimentos: “Precisamos aumentar a produtividade e a eficiência, bem como reduzir a dependência de insumos importados e assegurar que o mundo demande nossos produtos. O hemisfério ocidental deve se fortalecer por meio da agricultura”.
Walter Baethgen considerou que, hoje, a agenda ambiental global é definida pela União Europeia, e isso deve mudar: “A definição precisa ser global, a partir de ações coordenadas no âmbito político e diplomático e com evidências científicas contundentes. Por isso é tão importante o papel do IICA”.
Baethgen disse que América Latina tem uma enorme riqueza de recursos naturais, e o desafio é usá-los de maneira sustentável e comunicar isso às pessoas que vivem nas cidades, afastadas dos processos de produção.
Quanto ao potencial da agricultura, disse que os solos são uma arma formidável de conservação ambiental: “Armazenam 860 gigatoneladas de carbono. Se conseguirmos aumentar essa quantidade em apenas 0,4%, estaríamos compensando 70% das emissões totais à atmosfera, três quartos das quais são geradas pela queima de combustíveis fósseis”.
“Estamos em um contexto muito desafiador. Há cada vez mais secas prolongadas, inundações e temperaturas extremas; estamos ameaçados porque a sociedade aponta o setor agropecuário como parte do problema, e não da solução; existe um desinteresse crescente dos jovens por ser parte da atividade agropecuária; a solução parece estar em afastar cada vez mais a agricultura das sociedades, que são sobretudo urbanas”, disse, por sua vez, Marcelo Torres.
O Presidente da AAPRESID enfatizou que o produtor deve ser protagonista das mudanças e se envolver nos processos de inovação. “O produtor que está isolado em seu campo e não se conecta com outros produtores ou com a ciência e a tecnologia está condenado. A agricultura tem um grande futuro, mas precisamos aproveitar essa crise para repensá-la”, alertou.
Manuel Otero exortou a trabalhar com todos os atores, assumir que a nova narrativa é uma construção coletiva e entender a psicologia do consumidor.
“Estou convencido de que a agricultura nas Américas às vezes padece de falta de autoestima. Precisamos acreditar mais em nós mesmos e, para isso, precisamos de uma nova narrativa que explique que a agricultura foi e é fundamental para o desenvolvimento do continente. Representamos cerca de 23% da produção agrícola global, de modo que somos os avalistas da segurança alimentar e da sustentabilidade ambiental do planeta. Estamos chamados a ser protagonistas, e devemos falar isso com firmeza”, sustentou.
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