Brasília, 23 de janeiro de 2025 (IICA) — Os governos dos países das Américas devem ser conscientes da importância da biossegurança para manter suas exportações agropecuárias e por isso devem financiar os serviços públicos veterinários de maneira adequada, afirmou o professor James Roth, Diretor do Centro de Segurança Alimentar e Saúde Pública da Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos.
Entrevistado pelo programa Agro América, transmitido pelo canal de TV brasileiro AgroMais, o especialista afirmou que o continente tem hoje uma boa situação fitossanitária nos principais países produtores e exportadores de proteína animal, mas deve estar preparado para responder rapidamente a eventuais surtos de doenças, de modo a proporcionar confiança a seus parceiros comerciais.
“Temos muita sorte nesse hemisfério. Canadá, Estados Unidos, Brasil, México e Argentina estão livres das doenças mais importantes que limitam o comércio mundial de proteínas animais. Especificamente, estão livres da febre aftosa e da peste suína africana. Isso cria as condições para gerar exportações para muitos países do mundo”, disse Roth, de Iowa.
No entanto, advertiu que é essencial que os países mantenham serviços públicos veterinários de alto nível, bem financiados e com profissionais muito bem treinados e que também os veterinários do setor privado estejam capacitados para responder rapidamente em caso de surtos de doenças que podem se alastrar rapidamente.
O especialista ofereceu a entrevista em um momento em que a Alemanha enfrenta um surto de febre aftosa. Esse mês, autoridades do país europeu comunicaram a detecção de um foco dessa doença afetando 3 búfalos-asiáticos (Bubalus bubalis) pertencentes a uma propriedade no estado de Brandemburgo, no primeiro foco declarado desde 1988, provocando o fechamento de mercados de exportação.
“A biossegurança é um tema extremamente importante, que deve ser levado a sério. Uma vez que uma doença entra, todas as exportações de produtos de origem animal de um país estão em risco”, afirmou Roth, que também observou que os produtores cumprem um papel essencial na questão: “Devem saber que precisam tomar precauções para o seu próprio bem. Somente o produtor tem a capacidade de manter os vírus fora de suas instalações”.
Roth apontou que países como os Estados Unidos e o Brasil, que alcançaram o status de livres de aftosa sem vacinação, devem ser especialmente precavidos: “Ser livres de aftosa sem vacinação nos torna muito vulneráveis, pois se o vírus entrar, os nossos animais não terão imunidade. Nos Estados Unidos estamos focados em educar os nossos veterinários e produtores para manter a doença fora do nosso território; se ela entrar, pode sair de controle rapidamente”.
Informações e recursos para produtores
O Centro de Segurança Alimentar e Saúde Pública da Universidade de Iowa foi estabelecido em 2001 com a missão de aumentar a preparação nacional e internacional para a introdução acidental ou intencional de doenças que ameacem a segurança alimentar e a saúde pública. Ele lida com doenças que afetam o gado e as aves domésticas e desenvolve inúmeros recursos, em cooperação com autoridades estatais e federais nos Estados Unidos.
O Centro lançou um portal de Internet para avicultores e pecuaristas que permite visitar fazendas virtuais para conhecer os riscos de doenças e saber que medidas de biossegurança devem ser tomadas. Ele é gratuito e está disponível em inglês e espanhol.
Assim, para os produtores e comerciantes de maior porte estão disponíveis os “Secure Food Supply Plans”, com recomendações em biossegurança, vigilância e recursos para prevenir ou responder a surtos de doenças (https://www.cfsph.iastate.edu/secure-food-supply/).
Para os produtores menores, o Centro produziu o que chama de “Biosecurity your way”, que orienta sobre como agir para cuidar dos animais e estabelecimentos (https://farmbiosecurity.cfsph.iastate.edu/es/).
Roth advertiu que a situação dos pequenos produtores é determinante para o comércio exterior dos países, uma vez que, caso seus animais sejam infectados, podem perder todas as exportações.
O especialista explicou que Estados Unidos tem um estoque de vacinas muito grande contra a febre aftosa, que planejam continuar aumentando, para poder responder de maneira rápida em caso de um surto.
“Confiamos muito na trajetória de luta da Argentina contra a febre aftosa, por exemplo, pois há 15 anos começamos a trabalhar com uma companhia que cumpre os padrões americanos de qualidade. Participei de várias visitas em que pude confirmar que, em conjunto com o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (SENASA), que é um laboratório de referência mundial em aftosa, é realizado um excelente trabalho. Os Estados Unidos tem muita confiança nos testes que fazem, os quais são essenciais porque não podemos ter o vírus em nosso país, sequer para testes. Essa é uma grande parceria que nos permite ter vacinas e assegurar que responderemos rapidamente caso tenhamos um surto”, explicou.
Roth também se referiu ao problema da gripe aviária, que desde 2022 tem afetado a produção avícola de nações da América do Sul, e recomendou que sejam tomadas prevenções especiais na região no próximo inverno austral. “Os países não podem fazer cortes no financiamento de seus serviços públicos veterinários, pois isso pode ter graves consequências para as exportações”, finalizou.
Agro América é um programa transmitido pelo canal brasileiro de TV Agro Mais, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, cuja produção é fruto de uma parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A transmissão apresenta a atualidade do setor agropecuário e da ruralidade nos países membros do IICA, com o objetivo de promover a troca de experiências e uma discussão sobre os desafios e as oportunidades da América Latina e do Caribe na área de desenvolvimento agropecuário e rural.
Veja a entrevista aqui:
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