Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

Agricultura

Raúl Ortiz, cafeicultor venezuelano que levou para a sua região um sistema inovador para promover o agroturismo, é reconhecido pelo IICA como Líder da Ruralidade das Américas

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Raúl lançou a marca de café Los Pajaritos, juntamente com a fazenda de mesmo nome, um projeto de integração vertical agroindustrial para favorecer a venda do café e o desenvolvimento dos cafeicultores.

São José, 3 de novembro de 2025 (IICA). Raúl Ortiz se apresenta como graduado em contabilidade pública e como cafeicultor do estado Anzoátegui, na Venezuela. É que, há mais de uma década, ele vem trabalhando para combinar o melhor dos dois mundos, o comercial e o agrícola, promovendo um salto dos produtores de café da região para produtos de maior qualidade que representem vendas melhores e uma crescente exposição ao negócio do agroturismo.

“Trabalhar com café e turismo — disse o produtor de Mundo Nuevo — é um privilégio que conecta a paixão de um agricultor com a alegria de mostrar os frutos de sua colheita”.

Por seu trabalho em prol da promoção das comunidades cafeicultoras de sua região e da inovação no terreno do agroturismo, Ortiz foi homenageado como Líder da Ruralidade das Américas pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Raúl receberá o prêmio “Alma da Ruralidade”, parte de um projeto do IICA para dar visibilidade a homens e mulheres que marcam e fazem a diferença no campo do continente, figuras essenciais para a segurança alimentar e nutricional e para a sustentabilidade da região e do planeta.

“Tenho a sorte de poder fomentar uma economia de inclusão, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento do país”, assegura o produtor venezuelano. Mas Ortiz também é um exemplo de como todo o continente está se adaptando aos novos tempos e novas coordenadas da economia agrícola. No seu caso, acoplando-se à demanda crescente de cafés especiais.

Além do título de contador público, Raúl tem um mestrado em Finanças, ambos os diplomas obtidos na prestigiosa Universidade do Oriente. Sua história de vida começou na localidade de Los Pajaritos, “um dos povoados mais remotos do país”, disse, onde os produtores se dedicam ao café e às hortaliças. A paisagem não poderia ser mais bela: Los Pajaritos está na zona montanhosa de Turimiquire, onde a natureza “nos ensinou a conservar o ambiente”.

Depois de cursar o ensino fundamental em Mundo Nuevo e o ensino médio ainda mais longe, saindo da casa às cinco da manhã para chegar na aula dentro do horário, Raúl marchou para a universidade, graduou-se e trabalhou por cinco anos na iniciativa privada, em empresas do setor da saúde. Junto com as sala de aulas universitárias na cidade de Barcelona, essa experiência empresarial, afirma, “abriu as portas ao conhecimento” e à ideia de lançar a marca de café Los Pajaritos, que está sendo desenvolvida em conjunto com a fazenda de mesmo nome.

Los Pajaritos, resume Ortiz, é um projeto de integração vertical agroindustrial” para favorecer a venda de café e o desenvolvimento dos cafeicultores vizinhos. Eles são incentivados a dedicar parte de seus cultivos a grãos de alta qualidade, que possam então ser vendidos a clientes que buscam cafés especiais, cada vez mais consumidos nas grandes cidades do mundo.

Cafeicultor de terceira geração, Ortiz começou cultivando dois lotes, que agora se transformaram em quatro, uma extensão de terra em uma zona de montanhas e rios onde também planta árvores para a sombra que o grão precisa para crescer de maneira saudável. No total, conta Raúl, em seus lotes são produzidos cerca de 100 quintais de café, um volume que não é muito alto, mas que se concentra em plantas de muito boa qualidade, afirma.

“O melhor café, nós selecionamos, transformamos e trazemos à cidade” de Mundo Nuevo, onde “buscamos clientes que possam pagar o preço desse tipo de grão”. Em troca, explica, “damos a garantia de que sempre terão um bom café, ao longo de todo o ano”.

Segundo Ortiz, esse modelo de negócios também serve como um exemplo para outros produtores, inclusive aqueles com quem está associado. A ideia é que adotem a prática de “dispor de pelo menos um 10%” de sua produção “para poder vender um bom produto” a clientes “que darão valor”, explica.

Esse trabalho de melhoria, continua Raúl, está resultando em uma economia sustentável para a região. “Vimos um crescimento exponencial onde, com esses 10% dedicados ao café de alta qualidade, muitos produtores conseguiram crescer mais ou menos 30%” em relação aos volumes de 2017.

Raúl Ortiz recebe os visitantes na Fazenda Los Pajaritos, onde compartilha os segredos da produção de café.

Um café nas padarias de Miranda e cafeterias de Anzoátegui

A marca de café Los Pajaritos, indica Ortiz, está registrada nacionalmente desde 2020 e conta com uma concessão para trabalhá-la por dez anos. “É um processo de industrialização”, indica contento. Embora ainda não tenham todo o maquinário necessário para o circuito completo de transformação do grão e precisem terceirizar alguns segmentos, “somos empreendedores que estamos avançando, comprando alguns desses equipamentos e promovendo um processo de formação, que é o mais importante”.

Inclusive delegando algumas partes do processo, ou alugando as máquinas, “nós sabemos manejar (o processamento do café) da melhor maneira”, declara Raúl.  

Grande parte da aposta inovadora gira em torno da comercialização e do agroturismo. Nesse processo de integração, ressalta o produtor venezuelano, em Los Pajaritos se encarregam de plantar, colher, processar e distribuir o café. “Também podemos servir uma deliciosa xícara”, promete. 

A qualidade desse café que cresce perto da cordilheira de Turimiquire pode ser comprovada “em várias padarias por aqui”, em hotéis do estado Miranda. E em cafeterias de Puerto La Cruz e Barcelona, em Anzoátegui, onde também é servido em alguns importantes hotéis, diz Ortiz. Ou pode ser degustado na fazenda, reservando uma visita pelas redes sociais (@cafelospajaritosve, no Instagram)

“Quando alguém vem à minha casa, passa a fazer parte da família, e assim o tratamos”, adianta Raúl, que aprendeu as regras da hospitalidade com seu pai, que, além de produtor agropecuário, foi o único enfermeiro da região durante muito tempo. “Uma das principais coisas que ele me ensinou é a humildade: inclusive em tempos de abundância — recorda —, quando ter uma propriedade era um negócio muito bom, é sempre importante servir às pessoas”.

São valores, diz Ortiz, que também se aplicam no momento de receber visitantes na fazenda. “Sempre que trazemos alguém para visitar nossa fazenda, explicamos como é a produção, como se planta e selecionam os grãos, os segredos da moenda; e falamos sobre as melhores formas de fazer a secagem”.

Depois da jornada, os visitantes têm a oportunidade de adquirir “o café que eu colho, sem ter que pagar os custos de intermediários ou do translado até os mercados municipais e outros pontos de comercialização”. Raúl define esse espaço como “quilômetro zero”, uma iniciativa a qual outros cafeicultores estão se unindo.

“É um tipo de conexão direta que nos ajuda a minimizar custos e ter um alcance maior para o nosso café e outros produtos agrícolas”, ressalta.

Sonhos coletivos, mais do que individuais

Seja para fomentar o processo tradicional de produzir café de alta qualidade ou de mobilizar o agroturismo, “uma das coisas mais importantes é se profissionalizar”, insiste Ortiz na entrevista. “Nós somos produtores de café, e isso é um talento. Mas quando se vai à universidade em busca de um diploma, adquire-se um tipo de conhecimento diferente do saber empírico que se obtém por ter nascido em uma fazenda e cultivado a terra”, confessa.

“É necessário sair — ressalta Ortiz —. Como seres humanos, temos a obrigação de obter conhecimento”, porque “isso nos abre muitas portas”. Mas ele adverte, não podemos esquecer da nossa própria identidade: “Se você nasceu em um povoado, deve se orgulhar de ter nascido em um povoado e, quando for à universidade, dizer que é de Los Pajaritos, que é o filho de um cafeicultor ou de um pecuarista, reforçando assim os valores de sua família”. 

“Essa identidade deve fazer parte da nossa cultura e, enquanto tivermos identidade, as pessoas vão querer voltar para o campo”, afirma o produtor.

Quando pedem que descreva como vê o futuro, Raúl não hesita: “Criar uma grande indústria a partir da fazenda Los Pajaritos. Peço a Deus apenas que me dê saúde e vida para alcançar esse sonho, que é mais coletivo do que pessoal”.

A marca criada por Raúl Ortiz promove a produção de cafés especiais e fomenta a integração de produtores locais na região montanhosa de Turimiquire. 

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Mais informação:
Gerência de Comunicação Institucional do IICA.
comunicacion.institucional@iica.int

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