São José, 6 de dezembro de 2024 (IICA) — Os mais importantes organismos internacionais presentes na região se reuniram na sede central do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) para acordar e promover novas políticas públicas que fomentem uma transformação dos sistemas agroalimentares e favoreçam a produtividade, a sustentabilidade e a resiliência.
Trata-se de um seminário de trabalho de dois dias de duração que aprofunda o trabalho conjunto que os organismos internacionais vêm realizando de maneira sustentada nos últimos tempos, em um contexto de crescente complexidade devido aos desafios globais.
Temas como a sustentabilidade ambiental, a segurança alimentar, a bioeconomia, os serviços ambientais e a inovação tecnológica estão na mesa de discussão.
Juntamente com o IICA, participam o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Mundial, o CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe, a CEPAL, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Instituto de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI), a Parceria Biodiversity-CIAT, o Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) e a FAO.
Além de membros dos organismos internacionais, estão presentes, tanto na sede central do IICA como de forma eletrônica, funcionários de alto nível responsáveis pela elaboração e implementação de políticas públicas nas Américas, bem como representantes da academia e do setor privado.
O espaço visa fortalecer e acelerar na América Latina e no Caribe a transição para uma nova geração de políticas públicas, em uma conjuntura na qual os sistemas agroalimentares enfrentam demandas não apenas vinculadas ao combate à fome, mas também à conservação ambiental, ao desenvolvimento econômico e à equidade social.
“Nós os recebemos com o compromisso de sempre do IICA: construir uma agricultura sustentável, inclusiva e resiliente para as Américas. Estamos convencidos de que as transformações do setor nos próximos 30 anos serão tão disruptivas como as que se deram nos últimos 10.000 anos, pois assim o indicam os observadores mais importantes”, disse Manuel Otero, Diretor Geral do IICA, ao abrir as sessões de trabalho.
“Somos a maior região exportadora líquida de alimentos do mundo, e devemos abordar a nova fronteira do conhecimento para promover a prosperidade nas zonas rurais. Deve-se produzir mais alimentos usando menos a natureza, se quisermos fazer uma agricultura mais resiliente”, acrescentou.
Otero se referiu à incerteza que existe em termos ambientais, depois que a recente COP29, no Azerbaijão, deixou claro que persistem as dificuldades para a implementação do Acordo de Paris.
Nesse sentido, alertou que falta vontade política e financiamento para empoderar os agricultores e assegurar que sejam coprotagonistas dos novos enfoques que promovem uma atividade mais sustentável, resiliente e inclusiva.
Instou, portanto, a trabalhar de maneira conjunta na construção de novas políticas públicas, de uma nova institucionalidade e de uma nova narrativa que coloque o foco no papel da agricultura como uma solução para os desafios globais.
Parceria continental
As jornadas de trabalho no IICA estão vinculadas à vontade de fortalecer a Parceria Continental para a Segurança Alimentar e o Desenvolvimento Sustentável das Américas, que convocou o organismo hemisférico para promover a ação coletiva. Assim observou Joaquín Arias, Coordenador do Observatório de Políticas Públicas para os Sistemas Agroalimentares (OPSAa) do IICA e organizador responsável pelo encontro.
Jesús Antón, que lidera a gestão de gestão de riscos agrícolas da OCDE, explicou que a organização está aumentando sua presença na região e que três potências sul-americanas em produção de alimentos (Brasil, Argentina e Peru) estão em conversas para se incorporar. “É necessário que haja um intercâmbio, para que ambos nos nutramos mutuamente e construamos uma nova narrativa para a agricultura”, observou.
Miguel Guzmán (CAF), Especialista em Biodiversidade e Clima dessa entidade financeira multilateral que tem uma estreita parceria com o IICA, enfatizou a necessidade de potencializar a capacidade efetiva de que as políticas públicas se transformem em ações concretas. “Precisamos aprofundar o diálogo entre mitigação e adaptação, que, por sua vez, integra temas como o cuidado com a biodiversidade e a produtividade”, apontou.
Joanne Catherine Gaskell revelou que o Banco Mundial está disposto a participar como parceiro e aportar financiamento para a construção de novas políticas públicas na região. “Reconhecemos que esse tema é um desafio global, assim como para o continente”, disse.
“Não podemos ficar em um discurso que afirma que estamos em transição para uma transformação dos sistemas agroalimentares porque primeiro devemos ter muita clareza sobre os conceitos e saber o que significa cada um deles. Estamos vendo que o desafio da produtividade é muito relevante, assim como o da sustentabilidade”, afirmou, por sua vez, Pedro Martel, do BID.
Políticas transformadoras
Deissy Martínez-Barón, da Parceria Biodiversity-CIAT, expressou que o diálogo busca avançar para a obtenção de sistemas agroalimentares resilientes, adaptados aos diferentes agroecossistemas na região: “Devemos fazer isso com políticas transformadoras que respondam ao local e ao global. Hoje temos a crise climática, a insegurança alimentar e demandas sociais crescentes. Podemos aproveitar esses espaços e unir esforços para construir um futuro melhor”.
Andrea Padilla, da FAO, afirmou que a ONU apelou por avanços urgentes na transformação dos sistemas agroalimentares. “Existe a convicção — disse — de que existe um grande potencial para alcançar a sustentabilidade. Os nossos eixos são: nutrição, produção, ambiente e vida melhor”.
Valeria Piñeiro, do IFPRI, focou na importância do trabalho conjunto para acordar uma nova narrativa. “O impacto não será o mesmo se estivermos unidos. Precisamos de evidências. E o bom dessa iniciativa é ir da evidência à implementação”, apontou.
Pela CEPAL, Mónica Rodrigues apelou a pensar em longo prazo. “Precisamos responder aos desafios dos próximos 50 anos, e estamos tentando entender o que está acontecendo no mundo e na região e quais são as novas necessidades. Hoje, a agricultura não deve responder apenas à segurança alimentar, mas também ao cuidado ambiental e ao desenvolvimento”, observou.
Muhammad Ibrahim, Diretor de Cooperação Técnica do IICA, fez uma reavaliação dos programas que o IICA está abordando e ressaltou a urgência de avançar para sistemas de medição mais precisos para iniciativas de políticas públicas e projetos de capacitação. “Precisamos entender melhor — concluiu — a relação entre o bem-estar das pessoas e o uso de recursos. É importante que sejamos mais proativos nisso”.