Belém do Pará, Brasil, 18 de novembro de 2025 (IICA) — Uma agricultura que preserva o ambiente e responde às demandas dos consumidores é, paralelamente, a que gera maior produtividade e rentabilidade, afirmaram associações de produtores na COP30. Trata-se da conferência que acontece na Amazônia brasileira com a presença de mais de 50.000 pessoas de cerca de 200 países.
O pavilhão instalado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e seus parceiros no maior foro de debate ambiental do mundo foi cenário de um diálogo sobre a necessidade de produzir mais alimentos em um contexto de degradação dos recursos naturais.
Associações de produtores mostraram as soluções que os países do Cone Sul da América Latina já vêm implementando e que permitem abordar simultaneamente questões produtivas e ambientais com resultados concretos que melhoram as receitas dos agricultores e se aproximam mais das exigências crescentes daqueles que consomem.
Nesse sentido, ressaltou-se a necessidade de ajudar os agricultores na geração de serviços ecossistêmicos, por meio do oferecimento de novas tecnologias, financiamentos e estruturas regulatórias adequadas.
O evento foi organizado pela Associação Argentina de Produtores em Semeadura Direta (AAPRESID) e a Confederação de Associações Americanas para a Agricultura Sustentável (CAAPAS), em conjunto com o IICA.
As exposições dos oradores focaram no potencial para restaurar carbono nos solos que os países do Cone Sul têm, capazes de dar uma resposta regional aos desafios climáticos globais, bem como na necessidade de reforçar a posição da agricultura da região com dados e evidências científicas que demonstrem a sua contribuição em termos ambientais.
O ex-Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil e Enviado Especial do Setor Agropecuário à COP30, Roberto Rodrigues, abriu o evento com o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.
“No Brasil, desenvolvemos uma agricultura tropical sustentável e competitiva. Temos um papel crescente no âmbito mundial para a segurança alimentar e a segurança energética. Temos demonstrado que somos capazes de produzir mais, gerar empregos e receitas para contribuir no combate à pobreza e ajudar no enfrentamento dos desafios climáticos”, disse Rodrigues.
Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil; Marcelo Torres, Presidente da AAPRESID; Mailen Saluzzio, Gerente do Programa Internacional da AAPRESID; Daniel Trento, Assessor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA); e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.
Crises e aprendizado
Marcelo Torres, Presidente da AAPRESID, contou que essa organização nasceu há 36 anos no centro da Argentina, quando um grupo de produtores notou que os solos estavam se degradando e não havia conhecimento nem maquinário para abordar o problema.
“A crise — recordou —, trouxe aprendizados. A Argentina é um país muito extenso de norte a sul, com diferentes tipos de clima e de solos, de modo que tivemos que desenvolver diversas soluções. Fizemos isso com muito êxito, mas hoje vemos que o desafio é global e está relacionado com a baixa rentabilidade da agricultura, as exigências crescentes dos consumidores ou a falta de interesse dos jovens”.
Torres enfatizou que a ciência, os agricultores e a indústria devem trabalhar coordenadamente em indicadores precisos sobre o impacto da agricultura em temas como pegada de carbono, rastro hídrico ou uso agroquímicos: “Devemos dar uma mensagem ao mundo, sem arrogância, e por isso estamos aqui. Queremos construir um canal que vincule produtores e consumidores, com base científica e tecnológica, por meio de indicadores confiáveis e em uma redação facilmente entendida”.
Juca Moraes de Sá, Coordenador Técnico da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (FEBRAPDP), elogiou que os avanços da agricultura da América Latina e do Caribe na absorção de carbono nos solos tenham um lugar de destaque na agenda da COP deste ano.
Nesse sentido revelou que a semeadura direta, técnica que evita a lavoura do solo, começou no Brasil em 1972 com 200 hectares, e hoje soma 56 milhões de hectares.
“Conseguimos emissões zero ou mesmo negativas, que demonstram que a semeadura direta é um modelo que leva saúde ao solo, favorece a resiliência, uma maior produtividade e uma maior rentabilidade, além de preservar o solo para as gerações futuras. Os benefícios são para o produtor, para o planeta e para o consumidor. Esse é o nosso legado”, afirmou.
Daniel Trento, Assessor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), explicou que essa instituição estatal decidiu criar a AgriZone na COP30 para assegurar a participação do setor agropecuário no debate dos desafios climáticos.
“Muitas vezes — reconheceu — esquecemos que a COP é multissetorial e que a agricultura é o setor mais afetado pela mudança do clima, devido ao impacto de secas ou inundações. Somente na COP26, de Glasgow, em 2021, começou-se a falar de agricultura e, hoje, em Belém do Pará, o setor é protagonista. A EMBRAPA e seus parceiros, como o IICA, estão aqui mostrando que a agricultura pode recuperar terras degradadas e produzir mais, sem avançar um centímetro sobre a floresta”.
Trento enfatizou a questão do financiamento e da viabilidade econômica: “O produtor do Cone Sul é pragmático. Temos que buscar que as tecnologias para a agricultura reduzam custos, para assegurar que os produtores as incorporem”.
Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil; e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA.
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