Agricultoras da América Latina e do Caribe contam suas histórias de esforço e de luta contra a desigualdade de direitos no Dia Internacional das Mulheres Rurais
São José, 19 de outubro de 2021 (IICA). Agricultoras de diversos países da América Latina e do Caribe que cotidianamente trabalham para construir uma vida melhor para elas e suas comunidades foram as protagonistas da comemoração do Dia Internacional das Mulheres Rurais organizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Durante o ato, que também contou com uma mensagem da Ministra da Agricultura do Chile, María Emilia Undurraga, foram ouvidos relatos em primeira pessoa que refletem a crescente liderança das mulheres no campo e se colocou o foco na necessidade de visibilizar os hiatos de desigualdade que as afetam.
Entre as mulheres rurais, os índices de pobreza, marginalidade e insegurança alimentar são muito superiores tanto aos dos homens que vivem no campo quanto aos das mulheres que moram nas cidades.
“As mulheres cumprem um papel fundamental no desenvolvimento rural, pois colaboram de forma significativa com a economia local, promovem a erradicação da pobreza, enfrentam a mudança do clima, asseguram a educação e a alimentação de suas famílias e fortalecem o tecido social”, disse Undurraga.
A ministra advertiu que é tempo de trabalhar em conjunto para melhorar a qualidade de vida das mulheres rurais e mencionou a violência intrafamiliar e as barreiras ao acesso a novas tecnologias como algumas das questões mais urgentes a serem abordadas. “As mulheres têm um papel fundamental na promoção de mudanças positivas nas comunidades rurais”, afirmou.
Por sua vez, Sussy Rodríguez de Zura, Chefe de Acompanhamento do Escritório de Políticas e Planejamento Setorial do Ministério da Agricultura e Pecuária de El Salvador, afirmou que as vulnerabilidades das mulheres rurais foram agravadas pela pandemia de Covid-19 e pediu por “apoio para auxiliar na erradicação da violência e da pobreza dos setores rurais”.
Participaram da jornada: Jolie Pollard, produtora de produtos naturais à base de algas naturais para cuidados com o cabelo, de Belize; Jussara Dantas, fundadora de uma cooperativa agropecuária na região Nordeste do Brasil; Evelyn Alvarado, produtora de cacau da Costa Rica; Petrona Pérez, cafeicultora da Guatemala; e Lucila Quintana, do Peru, promotora da atividade associativa dos agricultores.
“Quando se vive em uma pequena comunidade rural com poucos recursos, as limitações podem ser um incentivo para a inovação. As mulheres rurais podem vencer obstáculos e fazer coisas novas”, disse Pollard.
Jussara Dantas explicou que a cooperativa agropecuária reúne cerca de 270 agricultores na zona semiárida do estado brasileiro da Bahia. “Ela é composta por cerca de 70% de mulheres — especificou — que cultivam frutas nativas e as transformam em doces, geleias e compotas. No início, tivemos muitas dificuldades para comercializar os produtos, mas conseguimos inseri-los no mercado nacional e internacional”.
Dantas disse que, hoje, as mulheres são parte ativa em toda a cadeia produtiva dos alimentos e que são necessárias ações urgentes para alcançar a igualdade de gênero, o que inclui o acesso a áreas de capacitação e espaços de decisão política.
Evelyn Alvarado enfatizou que “a pobreza nas zonas rurais tem o rosto de uma mulher”. E justificou: “A mulher pode ter boas ideias, mas é muito complicado conseguir financiamento, pois não dispõe de bens em seu nome que as respaldem. Nas zonas rurais, o homem é dono de tudo, inclusive de terras e animais”.
Petrona Pérez contou a história de como começou ainda menina no cultivo do café em uma aldeia da Guatemala, quando seu pai emigrou para os Estados Unidos, e como ela mesma também saiu para vendê-lo. “As pequenas produtoras devem ser apoiadas, sobretudo com educação, pois tudo é muito custoso às mulheres rurais”, afirmou.
“O setor rural precisa da associatividade de pequenos produtores para ter organizações representativas”, disse a peruana Lucila Quintana. “Hoje — acrescentou — as mulheres estão nos órgãos de governo de nossas cooperativas, mas ainda há muito a fazer para favorecer o desenvolvimento de capacidades, a inclusão digital e o acesso às novas tecnologias da informação e da comunicação”.
Durante o ato, que ocorreu de maneira virtual, foram reconhecidas a colombiana Liliana Jiménez Molina e a jamaicana Tamisha Lee, ambas de importante trajetória no setor agrícola, como delegadas da Plataforma Hemisférica de Mulheres Rurais.
A plataforma é um espaço na Web que o IICA lançou em agosto com o objetivo de gerar redes, facilitar o acesso a oportunidades de capacitação e promover o intercâmbio de experiências que contribuam para o empoderamento das mulheres das Américas que vivem e trabalham no campo.
Jiménez é uma produtora de cacau e destacada defensora dos direitos das mulheres rurais do departamento colombiano de Cundinamarca, e também foi reconhecida pelo IICA como #LíderdelaRuralidad.
A colombiana agradeceu o IICA por “levar a bandeira da igualdade de oportunidades das mulheres rurais” e ressaltou o valor da Plataforma Hemisférica: “Estou comprometida em promovê-la para que nós, mulheres rurais, possamos influenciar e promover mudanças estruturais”. Jiménez convidou as agricultoras da região a ingressar e se registrar na plataforma.
Lee, presidente da rede de mulheres produtoras rurais da Jamaica, defende as mulheres rurais de seu país, do Caribe, e do mundo. Em julho passado, ela participou da Pré-cúpula de Sistemas Alimentares das Nações Unidas, em Roma, onde pronunciou uma declaração em nome das agricultoras.
“A Plataforma — comemorou — nos oferece uma ferramenta para promover sistemas alimentares inclusivos que facilitem a saúde, o bem-estar e as práticas agrícolas inteligentes. A pandemia gerou impactos econômicos que aumentaram as desigualdades; por isso é necessário que nós, mulheres, nos ajudemos umas a outras e que os homens se juntem a nós”.
Por sua vez, o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, indicou que o Dia Internacional das Mulheres Rurais não é uma data para celebrar. “Comemoramos essa data para indicar que temos uma dívida pendente com as mulheres rurais e devemos passar das palavras à ação”, disse.
Otero expressou que as 58 milhões de mulheres rurais da América Latina e do Caribe são responsáveis pela segurança alimentar e a preservação da biodiversidade, mas sofrem uma flagrante desigualdade que se manifesta em todos os âmbitos do desenvolvimento da vida rural.
“Apenas 30% possui terras agrícolas, as quais são de menor tamanho e de pior qualidade. A pandemia, com as restrições de distribuição, aumentou o risco de as mulheres sofrerem violência de gênero, o que foi constatado em diversos países da região. As mulheres rurais, além disso, recebem só metade das receitas das mulheres urbanas e um terço, em relação aos homens”, especificou o Diretor Geral do IICA.
Otero anunciou que em breve o IICA convocará uma segunda reunião do Foro de Ministras e Vice-Ministras de Agricultura das Américas, que ocorreu em julho no âmbito da Pré-cúpula de Sistemas Alimentares com a missão de promover políticas públicas que empoderem as mulheres rurais e promovam o reconhecimento pleno de seus direitos.
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