Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

Agricultura

Agricultura Urbana une sustentabilidade, renda, inclusão e segurança alimentar

Tiempo de lectura: 3 mins.

Em seminário promovido pelo Brasil e a Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas do Município de São Paulo, parceiros apresentaram estudos e casos de sucesso da quarta maior cidade do mundo

Hortas Urbanas São Paulo

Brasília, 6 de abril de março (IICA) – Ponto de confluência de temas urgentes como sustentabilidade, segurança alimentar, economia circular, inclusão e cidades inteligentes, a agricultura urbana desperta, cada vez mais, o interesse da sociedade e já é uma realidade vibrante em muitos países. Não à toa o webinar Conexões: Agricultura Urbana e Planejamento das Cidades, promovido pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura e a Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas do Município de São Paulo, no dia 6 de abril,  recebeu mais e 500 inscrições.

“Esses espaços urbanos conectam a agricultura ao trabalho e produzem renda, além de darem um novo significado para as cidades”, disse o diretor-geral do IICA, Manuel Otero na abertura do Seminário, ao destacar a importância de São Paulo, a quarta maior cidade e região metropolitana do mundo, como exemplo para outras cidades das Américas.

Um dos destaques do Seminário foi a experiência da capital paulista com hortas urbanas em baixo de espaços, antes ociosos, por onde passam as linhas de transmissão de energia elétrica. “Estamos desenvolvendo um projeto com as linhas de transmissão de energia. São 800 km onde temos pelo menos sete mil hectares, que estão sendo utilizados para produzir mais de cinco toneladas de alimentos em baixo dessas linhas e agora pretendemos utilizar 50 espaços para a produção de alimentos e energia solar”, contou o secretário-executivo de Mudanças Climáticas do Município de São Paulo, Antônio Fernando Pinheiro Pedro.

“A integração rural-urbano é algo cada vez mais importante e temos que acompanhar essa atividade em um momento tão particular do mundo. Não podemos esquecer que estamos vindo de uma pandemia e agora há uma Guerra em curso, com impacto na produção de alimentos e todas as soluções alimentares são relevantes”, destacou Gabriel Delgado, representante do IICA no Brasil. 

O diretor do Departamento de Estruturação de Equipamentos Públicos do Ministério da Cidadania, Luís Claudio Romaguera Pontes, destacou a importância das hortas urbanas diante do fato de que, atualmente, 85% da população brasileira vive em áreas urbanas.  “Até 2050, dois terços estarão vivendo em áreas urbanas, o que tem nos levado a estudar, analisar a pensar em políticas voltadas para as cidades”, disse. Em sua apresentação, Keliane Fuscaldi, coordenadora de Apoio à Agricultura Urbana e Periurbana do Ministério da Cidadania, mostrou que o Ministério mantém hortas urbanas com 15 estados.

Segundo Nelson Pedroso, consultor das Secretaria de Mudanças Climáticas, foram instaladas mais de 100 hortas urbanas na cidade de São Paulo e uma parceria com a empresa SunFarming vai unir hortas urbanas com sistemas agro voltaicos para aproveitar vazios urbanos, como terrenos baldios, muitas vezes usados indevidamente para descartes.

De acordo com Silmara Santos, coordenadora do Projetos de Sustentabilidade da Enel Distribuição de São Paulo, a ideia de criar o Hortas em Redes (sob as redes de distribuição de energia) surgiu do desejo de dar destino às áreas sob as linhas de transmissão, pois eram áreas degradadas, com acumulo de lixo, e uma parceria com uma ONG tornou as áreas e transmissão em espaços úteis e produtivos. “ O projeto aumenta a qualidade ambiental desses espaços, gera renda, reduz a vulnerabilidade das populações beneficiadas e contribui com a segurança alimentar”, disse.

Telhado verde

Décio da Silva, da SunFarming, explicou que o ideia de unir projetos de agricultura urbana com geração de energia solar, com hortas cultivadas em baixo das placas fotovoltaicas, começou na Alemanha e o primeiro projeto no exterior foi instalado na África e agora o plano é desenvolver projetos na América Latina.  “Na Turquia, por exemplo, temos projetos que usam mãos e obra de refugiado e investimos em educação agrícola”, disse.

Economia Circular – Em vários projetos apresentados durante o seminário, ficou claro que o reúso de água é um dos pilares da agricultura urbana. Carlos Pacheco, da Embrapa Hortaliças, mostrou os métodos e resultados de um experimento feito em parceria com o IICA na sede da Embrapa Hortaliças, no Distrito Federal, com um sistema simples de estação de tratamento, sem uso de energia elétrica, com capacidade para tratar esgoto de cerca de 300 pessoas, cuja água que resulta do tratamento dos efluentes é usada para irrigar alfaces. “O sistema é ideal para comunidades que não têm acesso a sistemas de tratamento convencionais e associa acesso ao saneamento básico e segurança alimentar”, disse Pacheco. Segundo ele, o experimento passou em todos os testes de qualidade.

Outro destaque foram os casos que associam agricultura urbana com compostagem. É o caso do Telhado Verde do Shopping Eldorado, onde uma diversa horta é cultiva em 6.800 m² desde 2012 com 30 diferentes tipos de hortaliças. Os rejeitos da praça de alimentação são compostados e o adubo produzido é utilizado no telhado verde e há parcerias com cooperativas e projetos sociais.

Potencial –  Segundo Jaqueline Ferreira, gerente de portfólio do Instituto Escolhas, estudo realizado em 2020 mostrou que áreas cultivadas com 200 hectares seriam capazes de abastecer com legumes e verduras 80 mil pessoas e gerar mil empregos. O experimento foi feito no bairro de Sapopemba, na periferia da capital paulista.  

Especializado em hortas na periferia de são Paulo, o Instituto Kairós mantém dez hortas na Zona Leste da Capital, uma delas há 36 anos.  “Fazemos o nexo entre hortas urbanas e compras públicas e, por meio de uma parceria com Embrapa, temos um curso de hortas caseiras com PANCs (plantas alimentícias não convencionais), que são resistentes e adaptadas ao clima”, disse Regiane Nigro. “As hortas adotam princípios da economia circular, com compostagem, e de captura de carbono pelo solo, complementou. 

“O principal fundamento de uma horta é agregação, pessoas, pois elas reúnem as pessoas e resgata o que convívio que estamos perdendo nas cidades. As pessoas começam a olhar mais para o lixo e a repensar todo o seu consumo e, logo, passam a pensar em todo o processo produtivo”, disse César Moreira, que depois de perder o emprego montou um negócio social, a Urban Farm Ipiranga, que entrega cestas orgânicas urbanas, capacitação e procura parceiros para tornar o tradicional bairro paulista, cenário da Independência, no primeiro bairro de hortas orgânicas da megalópole.

As pesquisadoras Liza Andrade e Natália Lemos, da Universidade de Brasília (UNB) chamaram a atenção para os desafios de garantir que os benefícios da agroecologia cheguem às populações vulneráveis e para a importância da regularização rural para fortalecer produtores de assentamentos, muitos voltados para a produção agroecológica. Segundo elas, no Distrito Federal, área de pesquisa das professoras da UNB, há regiões onde pequenos produtores da agroecologia que ajudam a conservar mais 120 nascentes, mas estão ameaçados pela especulação imobiliária. 

Link para assistir o seminário completo: https://youtu.be/m42Hcn1F56E

 

 

 

 

 

 

 

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