Esses consumidores são os mais dispostos a aderir aos substitutos à carne convencional, mas há disposição de experimentar proteínas alternativas, como “carnes” baseadas em plantas ou em agricultura molecular, entre outros grupos ou mesmo a reduzir o consumo de proteína animal. É o que revela levantamento encomendado pela representação do IICA no Brasil
Brasília, 24 de junho de 2022 (IICA) Flexitarianos já equivalem a um quarto (26,5%) das pessoas em grandes centros urbanos no Brasil, Argentina e Uruguai, que relatam decisão de ir abandonando o hábito de comer carne, o que demonstra uma grande mudança cultural em consumos que afetam hábitos alimentares. É o que revela levantamento encomendado pela Representação no Brasil do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA) conduzida em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador; em Buenos Aires, Rosário e Córdoba na Argentina e em Montevideo no Uruguai.
Proporcionalmente, Argentina (37,3%) e Uruguai (35%) possuem mais flexitarianos do que o Brasil (17%), mas há mais brasileiros dispostos a experimentar opções alternativas à carne. Os flexitarianos ou semivegetarianos são os dispostos a mudar os hábitos alimentares e a cortar ou reduzir o consumo de proteína animal com objetivos como cuidar da saúde, do meio ambiente e do bem-estar animal. Entre os grupos que consomem carne bovina, suína, ovina ou caprina, 26,5% estão reduzindo o consumo, 41,5% estão tentando reduzir, enquanto 32% não estão tentando reduzir.
Onívoros (cuja alimentação inclui todos os grupos de alimentos) são a maioria dos consumidores nos locais de condução da pesquisa (64,25%), enquanto 6,5% se declararam vegetarianos (restrigem proteína animal na alimentação), 2%, veganos (evitam qualquer contato com proteína animal) e 0,8% pescatarianos (que se abstêm de comer carne animal à exceção de peixes).
“A carne não é vista como algo ruim, mas colide com o ‘matar para comer’, que começa a se instalar, mas ainda sem ser central na maioria da população. A substituição da carne começa a ser considerada como uma opção onde o seu sabor é, talvez, um valor central que explica o hábito em torno deste alimento”, avalia Mario Riorda, pesquisador e consultor para governos da América Latina, que é também diretor do curso de mestrado em Comunicação Política da Universidade Austral, na Argentina. Ele coordenou a pesquisa conduzida entre 31 de dezembro de 2021 e 24 de janeiro de 2022, encomendada por Gabriel Delgado, coordenador da região Sul do Instituto Interamericanos de Cooperação para a Agricultura e representante do IICA no Brasil.
“Somos países produtores de carne. Esta questão das mudanças dos hábitos alimentares envolvendo o consumo de proteína animal está muito relacionada à nossa economia, cultura e às nossas vidas. Por isso, tudo o que está acontecendo em termos de novos hábitos de consumo de carne, sobretudo entre as novas gerações, precisa ser acompanhado, já que se trata de uma mudança cultural muito profunda. Temos que acompanhar a percepção dos consumidores com relação ao consumo de proteína animal, ao cuidado com o meio ambiente e acompanhar também como se desenvolve a indústria emergente de proteínas alternativas, de carnes vegetais, de bioprodução de tecidos em biorreatores, entre outras técnicas”, pondera Delgado.
Um destaque do levantamento é a menor probabilidade de comer produtos à base de plantas ou produtos vegetais em vez de carne entre pessoas com mais de 40 anos: 37,8% dos pesquisados expressaram probabilidade total ou parcial de consumir produtos vegetais cujo sabor é praticamente igual ao da carne.
Alternativas – Dos entrevistados, 73,6% expressaram probabilidade total ou parcial de experimentar a chamada “carne limpa”, aquelas produzidas em laboratório a partir de células extraídas de animais. Entre eles, 62,6% expressaram probabilidade total ou parcial de comprar carne limpa regularmente. Por país, o Brasil, com 73,8%, está acima da Argentina, com 63,2%, e do Uruguai, com 61,6%. Já as pessoas com mais de 60 anos possuem maior resistência em testar a proteína desenvolvida em laboratório.
Do total, 62,6% expressaram probabilidade total ou parcial de comprar as chamadas “carnes limpas” regularmente e 62,7% dos pesquisados expressaram probabilidade total ou parcial de substituir a carne convencional por carne limpa. Por outro lado, 60,3% dos entrevistados afirmaram ser total ou parcialmente improvável que pagassem um preço mais alto pela carne limpa do que pela carne convencional.
Com relação a produtos alternativos à base de plantas, 61,2% dos entrevistados expressaram probabilidade total ou parcial de experimentar e 63,2% dos entrevistados expressaram probabilidade total ou parcial de consumir produtos vegetais ou vegetais em vez de carne. Neste caso, o Brasil com 70,8%; Argentina com 56,9% e o Uruguai com 50,1%.
Sobre produtos vegetais cujo sabor é praticamente igual ao da carne, 37,8% dos pesquisados expressaram probabilidade total ou parcial de consumi-los.
Na média geral, metade prefere as carnes convencionais, mas a soma das carnes limpas e alimentos à base de plantas está próxima de 37%, mais de um terço
De acordo com o compilado O mercado de proteínas alternativas: tecnologias, consumidores e mercados, elaborado pelo economista e pesquisador em finanças agropecuárias Diego Gauda, a pedido de IICA Brasil, o mercado de proteínas alternativas está segmentado em cinco grandes categorias: as baseadas em plantas, em algas, em processos de fermentação e em proteínas cultivadas em laboratório.
“Existe um universo de novas tecnologias, que tentam competir no mercado de proteínas alternativas. O crescimento, a partir do ano 2000, dos mercados emergentes e a transição dietética feitas por esses países fez com que o consumo de proteína animal fosse mais necessário. Então, o mercado de proteínas é muito grande e as empresas utilizarão essas tecnologias para competir por esses mercados. Além disso, há também uma questão de substituir proteínas de origem animal clássicas por outros tipos de proteínas pelos benefícios ambientais e sociais”, disse o pesquisador. Segundo Gauna, em 2021 foram feitos investimentos de cinco bilhões de dólares em proteínas alternativas.
Convicções e Crenças – Entre os onívoros, pesa sobretudo o sabor, enquanto para os flexitarianos e pescatarianos pesam a contribuição nutricional dos alimentos. Vegetarianos e veganos levam em conta convicções éticas sobre o consumo de animais. A maioria dos pesquisados tende a evitar alimentos para cuidar de si e pelo sabor. Nos veganos, prevalece a convicção ética.
A religião é um fator que afeta os hábitos alimentares, mas não explica as grandes transformações culturais que começam a ser evidentes, especialmente porque as fortes diferenças de hábitos ocorrem no judaísmo e no budismo, que não descrevem a opção da grande maioria da população na região.
Hábitos – A maioria dos inquiridos tende a preparar as suas refeições sob alguma forma de cozimento. Observa-se que onívoros e veganos preferem preparar seus alimentos assados ou grelhados. Os flexitarianos e pescatarianos tendem a preparar as suas refeições no forno, enquanto os vegetarianos preferem preparar as suas refeições em guisados ou salteados.
Apenas 26,6% dos pesquisados tendem a pedir ou comer fora de casa 1 a 2 vezes por semana. Quase 40% acreditam que exageram na comida mais de uma vez por semana. Apenas 27% concordam que sua dieta varia diariamente. A esmagadora maioria acredita que há interesses comerciais no tratamento dos alimentos na mídia.
Clique aqui para ara acesso à pesquisa completa sobre Hábitos Alimentares – coordenada por Mario Riorda, pesquisador, consultor para governos da América Latina e diretor do mestrado em Comunicação Política da Universidade Austral – Argentina (disponível em espanhol).
Clique aqui ara acesso ao estudo sobre mercado de proteína alternativa – Diego Gauna, economista e pesquisador em finanças agrícolas e pecuárias (disponível em espanhol).
Clique aqui para assistir ao Diálogo IICA Brasil entre Gabriel Delgado e os consultores:
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Comunicação IICA Brasil
(61) 99138 4898