Ministras e vice-ministras da agricultura das Américas lançam foro para melhorar políticas e promover direitos para as mulheres rurais
Roma, 27 de julho de 2021 (IICA). No âmbito da Pré-Cúpula da ONU sobre Sistemas Alimentares, inaugurada nesta segunda-feira em Roma, foi aberto o Primeiro Foro de Ministras e Vice-Ministras de Agricultura das Américas, instância que terá como missão aperfeiçoar políticas públicas e visibilizar o lugar protagônico das mulheres no desenvolvimento rural, favorecendo o reconhecimento pleno dos seus direitos.
O lançamento, ao qual assistiram ministras, secretárias e vice-ministras de 12 países das Américas, constituiu um passo importante na institucionalização de um espaço que tem por finalidade propor políticas concretas que favoreçam o desenvolvimento sustentável dos sistemas agroalimentares por meio do reconhecimento à contribuição crucial que as mulheres rurais do continente fazem à erradicação da pobreza extrema e da fome.
A reunião que instituiu o Foro foi convocada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e realizou-se na Embaixada do Brasil em Roma, coincidindo com a primeira jornada da Pré-Cúpula sobre Sistemas Alimentares, que irá até 28 de julho na capital italiana.
Entre as participantes estiveram Samantha Marshall, Ministra da Agricultura e Pesca de Antígua e Barbuda, Tereza Cristina, Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, María Emilia Undurraga, Ministra da Agricultura do Chile, Tanlly Vera, Ministra da Agricultura e Pecuária do Equador, Jewel H. Bronaugh, Subsecretária de Agricultura dos Estados Unidos, e Natasha Kim, Vice-Ministra Adjunta de Agricultura e Agroalimentação do Canadá.
Também assistiram Martha Lucia Rodríguez Lozano, Vice-Ministra de Desenvolvimento Rural da Colômbia, Lily Pacas, Vice-Ministra da Agricultura e Pecuária de El Salvador, Judith Ordoñez Subsecretária de Pecuária de Honduras, Bettina Aguilera Paniagua, Vice-Ministra da Agricultura do Paraguai, María Isabel Remy Simatovic, Vice-Ministra de Políticas e Supervisão do Desenvolvimento Agrário do Peru, e Miriam Guzmán, Vice-Ministra de Desenvolvimento Rural da República Dominicana.
Cerca de 58 milhões de mulheres vivem nas zonas rurais da América Latina e do Caribe e são responsáveis por 80% da produção de alimentos, mas o seu trabalho é subnotificado e apenas 10% delas têm acesso ao crédito e só 5%, a programas de assistência técnica.
A apresentação do Foro, que em sua primeira reunião teve como lema “As mulheres à frente da transformação dos sistemas agroalimentares”, coube ao Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, e à Secretária-Geral Ibero-Americana, Rebeca Grynspan.
As ministras e vice-ministras participantes manifestaram o seu interesse em que o Foro se constitua em um espaço de diálogo e intercâmbio de informações para compartilhamento de experiências de gestão em acesso ao crédito, disponibilidade de novas tecnologias, posse e propriedade da terra e outras questões das quais as mulheres rurais das Américas, apesar da sua contribuição decisiva para a segurança alimentar regional e global, têm sido historicamente alijadas.
“Devemos discutir políticas públicas e intercambiar informações para ajudar as mulheres rurais no nosso continente. Estamos vivendo um ciclo de profundas transformações na nossa sociedade e o papel da mulher como agente de mudança é cada vez mais evidente. O empoderamento feminino é fundamental para garantir a segurança alimentar global”, disse a ministra brasileira Tereza Cristina.
A sua colega Tanlly Vera detalhou que pobreza, insegurança alimentar, desemprego e falta de proteção social figuram entre os desafios enfrentados pela mulher rural. “Chegou o momento”, anunciou, “de reconhecer e visibilizar o papel que desempenhamos no campo. Podemos contribuir muito para erradicar a fome e a pobreza e reduzir as desigualdades”.
Por sua vez, a ministra Marshall enfatizou as desvantagens das mulheres em relação aos homens e exortou a que se trabalhe na pós-pandemia da Covid-19 para mudar essa realidade: “Necessitamos formar as nossas mulheres para fortalecer as capacidades”.
Para María Emilia Undurraga, a variedade de objetos em que as mulheres trabalham no setor rural reflete sua heterogeneidade e riqueza. “Estamos conectados com o bem-estar de toda a população, especialmente dos habitantes das cidades. Por isso, é fundamental fecharmos os hiatos entre o campo e os setores urbanos”, afirmou.
No Canadá, a proporção de mulheres que trabalham em agricultura aumentou nas últimas décadas, disse Natasha Kim, que explicou que a remoção das barreiras que elas enfrentam para ganhar acesso aos mercados ou às cadeias de valor continua sendo uma tarefa pendente.
A subsecretária Bronaugh concordou com a afirmação de que as mulheres desempenham atualmente um papel central na agricultura e considerou que se deve assegurar que estejam “nas posições de liderança. Temos que pavimentar o caminho para que as jovens que se miram em nós ocupem mais lugares na mesa de decisão”.
A vice-ministra dominicana ressaltou que as mulheres trabalham nas zonas rurais, mas no momento da repartição dos ganhos não recebem o mesmo dinheiro, e defendeu uma distribuição mais equitativa. A colombiana Rodríguez enfatizou que é necessário propor-se um enfoque diferenciado para que as mulheres rurais tenham maior acesso ao crédito.
“Devemos zelar para que as mulheres recebam o preço justo. A transparência das cadeias produtivas é fundamental”, observou, desde El Salvador, a vice-ministra Pacas. Já a subsecretária hondurenha Ordóñez fez uma defesa enérgica da capacidade de administração das mulheres: “Quando recebe um empréstimo, a mulher faz uso melhor desse dinheiro”.
Mais da metade dos alimentos são produzidos por mulheres nas Américas, explicou Rebeca Grynspan, que frisou que as mulheres não são vulneráveis. “Não há”, disse, “uma vulnerabilidade intrínseca; existe uma vulneração de direitos. O que necessitamos é que nos vejam na nossa capacidade transformadora do mundo rural e da sociedade”.
Grynspan reivindicou que se deixe de pensar no mundo rural com a mentalidade do século XX e que as mulheres tenham acesso à terra e ao crédito. “Na pós-pandemia, necessitamos de uma ruralidade diversa para passarmos a uma nova normalidade, mais includente e melhor”, afirmou.
A importância da constituição do Foro de Ministras e Vice-Ministras das Américas em paralelo com a realização de um evento global em que se está discutindo o futuro dos sistemas agroalimentares no mundo foi o dado que Manuel Otero escolheu destacar na sua intervenção.
O Diretor Geral do IICA fez um reexame das estatísticas que refletem a invisibilidade e a violação dos direitos que as mulheres rurais sofrem no continente e ratificou o compromisso do Instituto com o empoderamento das mulheres e a sua participação plena nos processos produtivos com igualdade de direitos.
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