A Cúpula África-Américas é um encontro que propõe assentar as bases para uma maior colaboração entre os dois continentes perante as ameaças à segurança alimentar global.
São José, 29 de julho de 2022 (IICA) — O setor agropecuário é fundamental tanto para a adaptação à mudança do clima como para a sua mitigação, de modo que os países da África e das Américas devem trabalhar no desenvolvimento do imenso potencial que a produção de alimentos possui como parte da solução ao aquecimento global.
Assim foi afirmado por ministros dos dois continentes e especialistas que se reuniram na “Cúpula África-Américas sobre Sistemas Agroalimentares”, realizada na Costa Rica.
Participaram do encontro, que propõe assentar as bases para uma maior colaboração entre os dois continentes perante as ameaças à segurança alimentar global, ministros, vice-ministros e altos funcionários de Agricultura, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia de 40 países.
Hipólito Mejía, ex-Presidente da República Dominicana e Embaixador da Boa Vontade do IICA, e Eugenio Díaz-Bonilla, Pesquisador Visitante Sênior do Programa IICA/IFPRI, abriram o debate “Avançando na transformação dos sistemas alimentares após a Cúpula das Nações Unidas de 2021” com suas apresentações.
Também participaram: Clarkie Lobin Bazwell Lowe, Ministro da Agricultura, Irrigação e Desenvolvimento Hídrico de Malawi; Zulfikar Mustapha, Ministro da Agricultura da Guiana e Presidente do Grupo de Trabalho Ministerial Especial sobre Produção e Segurança Alimentar da CARICOM; Fernando Mattos Costa, Ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai; e Amadou Balde, Assessor Técnico Sênior do Ministério da Agricultura de Senegal.
“Hoje a atividade agropecuária enfrenta um contexto desfavorável, por uma pandemia ainda não plenamente superada, agravada pelo conflito na Europa. Devemos pensar quais são os riscos e as oportunidades que temos. Enfrentar os desafios significa aumentar as produções e a produtividade por unidade de superfície; assim como assegurar a sustentabilidade ambiental”, sustentou Mejía.
Mejía, que além de Presidente foi Ministro da Agricultura da República Dominicana, afirmou que as zonas rurais não só produzem alimentos, mas também constroem identidades e sentimento de pertencimento para as comunidades.
“Para converter desafios em oportunidades — sublinhou — é necessário articular a realidade de cada país com as necessidades globais, utilizando os recursos locais para gerar exportações, apelando às tecnologias de comunicação para aproveitar os nichos de demanda do que podemos produzir e fomentando a participação comunitária”.
“A África e as Américas devem dar um exemplo de unidade e integração para o mundo nesses tempos de crise”, exortou.
A necessidade de um plano
Díaz Bonilla ressaltou que é necessário definir as metas a serem alcançadas pela transformação dos sistemas agroalimentares e enfatizou que são necessários objetivos quantitativos, para em seguida elaborar instrumentos de políticas, custos e financiamentos.
“Há grupos especiais que devem ser considerados para a transformação, como os pequenos produtores, os grupos vulneráveis, as mulheres e os jovens. Será necessário articular a agricultura com a saúde, com o meio ambiente e com a agroindústria e trabalhar com o setor privado, além de articular com as agências de desenvolvimento”, descreveu Díaz Bonilla, profissional com mais de 40 anos de experiência como economista e diplomata especialista em temas de desenvolvimento e comércio, tendo trabalhado em diversos países.
Díaz Bonilla ressaltou que tanto a África como as Américas dependem muito do ciclo de matérias-primas ou de commodities. “Quando as commodities subiram, crescemos; e quando caíram, deixamos de crescer”, reconheceu.
Acrescentou que, quanto aos sistemas agroalimentares, os países atravessam dois processos diferenciados, que são os roteiros nacionais provenientes da Cúpula da ONU de 2021 e as negociações sobre a mudança do clima. “O setor agroalimentar é fundamental para a adaptação e a resiliência e, portanto, as duas questões não podem estar separadas”, considerou.
O Ministro Mattos disse que o enorme potencial para aumentar a produção que existe na América Latina e na África se vê alterado pela carestia dos insumos, que deve ser enfrentada com mais pesquisas e mais ciência, sempre com o critério da sustentabilidade.
“Mais biotecnologia e mais cooperação internacional, esse é o caminho que devemos percorrer. Uma instituição como o IICA deve desempenhar um papel muito importante, como demonstrado por essa aproximação de dois continentes chamados a ser grandes fornecedores de alimentos do mundo” acrescentou o Ministro do Uruguai.
O Ministro da Guiana, Mustapha, advertiu que, para consolidar a transformação dos sistemas agroalimentares, deve haver financiamento. “A região ainda apresenta grandes desafios em questões agroalimentares. Alguns deles são a infraestrutura débil, mecanismos de financiamento deficientes e a existência de diferentes barreiras ao comércio intrarregional”, apontou.
O Ministro da Agricultura de Malawi focou na necessidade de envolver os jovens na produção de alimentos, para garantir uma transformação dos sistemas agroalimentares para uma maior sustentabilidade.
“Os jovens — reconheceu — pensam que nós os deixamos de lado. Devemos envolvê-los e, como pais, devemos incluí-los, ou eles se unirão a outros setores, não à agricultura. Devemos procurar os que estão estudando nos colégios e universidades para que se envolvam na agricultura”.
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