O Diretor Geral do IICA destacou que existe uma alta concentração do mercado mundial de fertilizantes químicos e que muitos países das Américas têm uma dependência excessiva das importações.
São José, 20 de maio de 2022 (IICA). — O aumento dos preços mundiais dos fertilizantes devido ao conflito bélico no Leste Europeu coloca em risco a produção agrícola nas Américas e a segurança alimentar global, sendo necessário um trabalho conjunto dos organismos internacionais de cooperação técnica e de financiamento na busca por soluções.
Assim advertiu o Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, ao falar para o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA).
“Essa crise não é neutra para os nossos países, uma vez que somos tomadores de preços no mercado mundial de fertilizantes. Os aumentos colocam em risco qualquer equação de rentabilidade da agricultura e aumentam o risco de os pequenos produtores serem excluídos”, disse Otero, convidado a fazer uma apresentação introdutória antes de o corpo debater e votar uma resolução chamada “O aumento dos preços dos fertilizantes e seu impacto no desenvolvimento de sistemas agroalimentares sustentáveis na região”.
A resolução aprovada, apresentada pelo Representante Permanente do Peru junto à OEA, Harold Forsyth, declara que o impacto dos altos preços dos fertilizantes na produção e suprimento de alimentos constitui um tema de grave preocupação para os Estados membros da OEA. O Conselho Permanente decidiu efetuar de agora em diante um acompanhamento da situação com participação de organismos regionais como o IICA, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a CAF — Banco de Desenvolvimento da América Latina.
O Diretor Geral do IICA destacou que existe uma alta concentração do mercado mundial de fertilizantes químicos e que muitos países das Américas têm uma dependência excessiva das importações. Nesse sentido, indicou que nações como a Costa Rica, a Guatemala, o Chile e o Brasil utilizam de 300 a 600 quilos de fertilizantes por hectare de terra arável.
Otero afirmou que outros países da região são importadores líquidos de alimentos e, logo, vulneráveis ao aumento de preços dos produtos agropecuários, tendo mencionado o chamado Triângulo Norte Centro-Americano e países do Caribe, especialmente o Haiti. Neste sentido, indicou que existe no Hemisfério uma grande heterogeneidade, uma vez que nações exportadoras de alimentos convivem com importadoras, grandes empresas com agricultores familiares e a produção em grande escala com a agricultura de nicho.
“Nessa diversidade — resumiu — está a nossa força nas condições atuais. Somos a região exportadora líquida de alimentos mais importante de mundo. O nosso continente é chamado a ser avalista da segurança alimentar, nutricional e da sustentabilidade ambiental do planeta”.
O Diretor Geral do IICA manifestou a vontade do organismo de trabalhar com outras entidades internacionais para encontrar soluções práticas para essa crise alimentar.
Informou também que o IICA lançou em março passado o Observatório de Políticas Públicas para os Sistemas Agroalimentares (OPASAa), que tem mostrado um instrumento relevante para ajudar os países a navegar por esse período de incertezas e de instabilidade marcado pela confluência de várias crises.
“Agradecemos a sólida intervenção de Otero sobre um tema que nos era desconhecido. A nossa organização deve se envolver no tema dos preços dos fertilizantes, uma vez que é vital para a sobrevivência do nosso povo. A segurança alimentar regional está em perigo. O fantasma da fome pode se apossar de boa parte de nossas sociedades”, destacou o embaixador Forsyth.
O representante brasileiro, Otávio Brandelli, expressou sua preocupação pelo fato de o Brasil, por sua condição de grande exportador de alimentos, ser importador de fertilizantes. “Um a cada quatro pratos servidos no mundo dispõe de alimentos brasileiros”, afirmou.
O Embaixador do Canadá, Hugh Adsett, agradeceu a Otero e pediu para não se esquecer de que a situação atual foi motivada pela invasão da Rússia à Ucrânia.
O chileno Felipe Sáez Marcuse valorizou a “pertinente apresentação” de Otero e considerou que o aumento do preço dos fertilizantes gera riscos para produtores e consumidores, bem como dificulta a recuperação econômica dos países da região.
O representante argentino, Carlos Raimundi, qualificou como “valiosa” a exposição de Otero e afirmou que, por a Argentina ser um país exportador de produtos e insumos agropecuários, “não estamos tão prejudicados pelo aumento dos preços, mas pela volatilidade do mercado”.
O Embaixador da Colômbia, Alejandro Ordóñez Maldonado, disse que a apresentação de Otero foi “ilustrativa” e afirmou que a situação reinante pode gerar uma diminuição da produtividade ou, até mesmo, a suspensão de plantios.
“As declarações de Otero foram claras e contundentes, fazendo uma leitura geral do tema alimentar em todo o continente. A contribuição do IICA nos ajuda a pensar em termos globais. O Uruguai é um país tradicionalmente agroexportador, como outros países sul-americanos. A produção de alimentos faz parte da nossa tradição e da nossa cultura, razão pela qual este é um tema de grande relevância”, expressou o Embaixador do Uruguai, Washington Abdala.
A Embaixadora da Guatemala, Rita Claverie Díaz, elogiou “o reiterado compromisso do IICA, por sua valorização da agricultura como uma penhora da paz” e advertiu que o aumento dos preços dos fertilizantes pode provocar uma diminuição de seu uso na região.
Por sua vez, o representante dominicano, Josué Fiallo, disse que a apresentação de Otero foi “valiosa” e considerou que “ações concretas e um trabalho coordenado para enfrentar essa situação, que é uma ameaça”, fazem falta.
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