Com a premissa de que sem água não há agricultura e sem agricultura não há segurança alimentar, a iniciativa propõe consolidar as capacidades e promover alianças estratégicas público-privadas dos países da região para melhorar o gerenciamento integrado e eficiente do uso da água para a agricultura, apoiando aos ministérios e organismos internacionais.
São José, 29 de setembro de 2023 (IICA) – O lançamento técnico da Iniciativa Água e Agricultura reuniu o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) com os sócios relevantes que se juntaram ao projeto, concebido para impulsionar uma contribuição do agro frente à severa crise hídrica que tem afetado a produtividade de boa parte da América Latina e do Caribe.
Na apresentação e o debate do plano de ação participaram diretivos e especialistas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Mundial, CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e o Instituto Daugherty de Água para a Alimentação da Universidade de Nebraska.
Foram oradores, também, o Ministro de Agricultura do Chile, Esteban Valenzuela e o Ministro de Agricultura e Pecuária de El Salvador, Oscar Guardado Calderón. As palavras de abertura estiveram por conta do Diretor Geral do IICA, Manuel Otero. O evento ocorreu na sede do IICA em São José da Costa Rica, de forma híbrida.
Com a premissa de que sem água não há agricultura e sem agricultura não há segurança alimentar, a iniciativa propõe consolidar as capacidades e promover alianças estratégicas público-privadas dos países da região para melhorar o gerenciamento integrado e eficiente do uso da água para a agricultura, apoiando aos ministérios e organismos internacionais.
São quatro eixos de trabalho tendentes a conseguir resultados mesuráveis: produção e armazenamento de água por meio de boas práticas agrícolas; eficiência no consumo para a agricultura por meio da inovação tecnológica; fortalecimento da governança; e impulso aos investimentos para formação, armazenamento, distribuição e irrigação.
O tema é considerado estratégico para o IICA, que nos últimos anos tem apoiado aos países membros com mais de 70 ações de cooperação técnica em água para agricultura, em um contexto de mudança climática que, entre outros eventos extremos, têm gerado secas e provocado perdas substanciais em potências agroalimentares como Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai.
Nesta oportunidade foi anunciado o lançamento de um site da web sobre a Iniciativa Água e Agricultura, com informações sobre as estruturas legais em vigor sobre o tema em cada país da região. Também estará disponível um atlas de tecnologias, com todas as práticas inovadoras em execução, e publicações que poderão ser baixadas de forma gratuita.
O Ministro Valenzuela elogiou a tarefa do IICA na promoção do diálogo no nível continental e comemorou que no Chile foi aprovada recentemente uma lei sobre a irrigação, depois de vários anos de debates. “A lei respeita a natureza e prioriza a resiliência. É muito importante, porque este ano tivemos um pouco mais de água, mas continuamos com uma seca estrutural”, disse Valenzuela.
Por outro lado, Oscar Guardado Calderón enfatizou as dificuldades que se vivem na região por causa da crise hídrica: “Hoje mais do que nunca é necessário e quase obrigatório colocar vontade política e boas práticas administrativas e de gerenciamento público. Temos que compartilhar as experiências positivas dos países e é imprescindível desenvolver políticas públicas e construir uma agenda para unir esforços”.
Competição pelo uso da água
Rayén Quiroga, Chefe da Unidade de Água e Energia da Divisão de Recursos Naturais da CEPAL, disse que a América Latina e o Caribe têm sofrido nos últimos anos uma queda muito forte no seu crescimento econômico, que trouxe incrementos dos níveis de pobreza e aumenta a importância do uso eficiente dos recursos hídricos.
“Na região há um crescente conflito pelos usos alternativos da água e isso se apurou por causa da mudança climática. A contagem de água é quatro vezes maior do que a média mundial, mas está mal distribuída. E existem indicadores insuficientes para tomar decisões e concentrar investimentos”, disse Quiroga.
A especialista indicou que mais de 75% da água é utilizada na agricultura no continente. “A produção de alimentos é um fator muito gravitante para o gerenciamento da água e por isso nos juntamos a esta iniciativa do IICA”, sinalizou.
Christopher Neale, Diretor de Pesquisa do Instituto Global Daugherty de Água para a Alimentação da Universidade de Nebraska, contou a experiência desse estado do Centro-Oeste dos Estados Unidos.
“Nebraska é o estado dos Estados Unidos com maior superfície agrícola sob irrigação, com 3,4 milhões de hectares. 90% da água utilizada é superficial e além disso existem uns 96.000 poços. Temos uma alta produtividade agrícola”, disse Neale, que contou que o Instituto foi formado em 2010, tem cinco áreas de trabalho principais e conta com numerosos sócios do âmbito público e privado.
Fernando Miralles, Decano e professor da Universidade George Mason de Virgínia, apresentou os detalhes do Hydro-BID, ferramenta de simulação criada pelo BID para dar suporte à América Latina e o Caribe no gerenciamento e planificação do recurso hídrico.
“O sistema inclui uma base de dados analítica que contêm mais de 230.000 bacias delineadas e cursos fluviais na região. A segunda parte é um modelo de simulação”, explicou.
No segmento dedicado ao financiamento participaram especialistas do CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina, o Banco Mundial e o BID.
Franz Rojas, Diretor de Água e Saneamento do CAF, disse que no contexto da região convivem a irrigação familiar de pequena escala com a irrigação intensiva da produção agroexportadora, que requerem abordagens diferentes.
“Realizamos empréstimos com garantia soberana, mas também existem novos esquemas de financiamento. Atingir os Objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) requer os esforços de governos, mas também de novos atores nos temas de água e saneamento”, sinalizou.
Luis Loyola, do Banco Mundial, disse que o organismo multilateral está tentando fortalecer o financiamento privado. “Hoje existe na água um financiamento limitado tanto dos estados como dos atores privados. Não há uma sustentabilidade dos processos de investimento e ficam por fora os pequenos produtores, que são essenciais na nossa região”, advertiu.
Lucio García Moreno e Paula Roberts, do BID, explicaram o funcionamento dos fundos de água dessa instituição, mecanismos financeiros, de governança e de gerenciamento que integram aos atores relevantes de uma bacia para promover a segurança hídrica de uma zona metropolitana por meio de ações de conservação.
Manuel Otero enfatizou a importância do esforço em conjunto para encarar a crise hídrica. “As estratégias de cooperação têm hoje que reunir governos com organismos internacionais e organizações da sociedade civil. Este tema é tão sério e tão grave que requer o compromisso de todos para criar uma nova cultura de água”, sinalizou.
“A água”, concluiu, “é um recurso extremadamente finito. A agricultura está em um processo de transição e estão ocorrendo nas Américas coisas muito positivas. Mas também temos que realizar a transição com a água. Sabemos o que temos que fazer e para avançar nisso precisamos de vontade política, financiamento e abordagem interinstitucional”.
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