Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

Agricultura

Conselho das Américas e IICA: é imprescindível melhorar a situação das comunidades rurais para se alcançar a sustentabilidade da produção de alimentos

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Peritos discutiram o futuro do modo de produção e consumo de alimentos e a situação das comunidades rurais nas Américas.

Consejo Americas

Washington, 10 de agosto de 2021 (IICA) – Para se assegurar a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares é preciso construir um ambiente de bem-estar para os agricultores e as comunidades rurais – neste ponto concordaram ministros da agricultura latino-americanos e caribenhos e altos executivos de companhias globais em um painel de alto nível reunido pelo Conselho das Américas e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

O painel foi aberto com uma palestra do laureado cientista Rattam Lal, considerado a maior autoridade mundial em ciências do solo, e teve a participação do Ministro da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, Luis Basterra, do Ministro da Agricultura da Guiana, Zulfikar Mustapha, da CEO da Pepsico América Latina, Paula Santilli, do Gerente Global de Sustentabilidade e Administração de Negócios da Bayer, Klaus Kunz, e do Diretor de Assuntos Governamentais Globais da Walmart, Christian Gómez.

A apresentação e o encerramento estiveram a cargo de Eric Farnsworth, Vice-Presidente da The Americas Society/Conselho das Américas (AS/COA), e de Manuel Otero, Diretor Geral do IICA. Steve Liston, Diretor Sênior do Conselho das Américas, atuou como moderador.

O painel foi reunido como parte de uma série de mesas-redondas organizadas para se discutir o futuro do modo de produção e consumo de alimentos e a situação das comunidades rurais nas Américas.

Os debates vêm ocorrendo no contexto da preparação para a Cúpula de Sistemas Alimentares 2021, convocada pelas Nações Unidas. Nos dois primeiros encontros, foram discutidos os benefícios do comércio internacional para os que moram no campo e como se pode aproveitar a revolução digital para melhorar a qualidade de vida dos agricultores.

“Sistemas alimentares sustentáveis são aqueles que garantem segurança alimentar e nutricional para todos sem comprometer o sustento econômico, social e ambiental das futuras gerações”, explicou o professor Lal, que se associou ao IICA em 2020 para o lançamento da iniciativa “Solos Vivos das Américas”, cujo objetivo é articular esforços públicos e privados no combate à degradação dos solos.

O cientista afirmou que os atuais sistemas agroalimentares não acabaram com a fome e a desnutrição, não proporcionaram uma dieta saudável com alimentos seguros para toda a humanidade, degradaram os solos, contaminaram as águas, agravaram o aquecimento global e diminuíram a biodiversidade.

“Existem 3 bilhões de pessoas que não podem se permitir uma dieta saudável e 690 milhões com problemas crônicos de desnutrição, número que, devido à pandemia, aumentou em 83 a 132 milhões. O sistema precisa mudar”, concluiu Lal.

O especialista, que dirige o Centro de Gestão e Sequestro de Carbono (C-MASC) da Universidade Estadual de Ohio, detalhou o impacto da pandemia no agravamento das desigualdades e no aumento da pobreza.

Em seguida, explicou que a transformação dos sistemas agroalimentares deve basear-se na identificação e implementação das políticas, das inovações e das instituições necessárias para mitigar os impactos negativos da agricultura, a qual, por sua vez, deve ser resiliente diante de fenômenos como pandemias e eventos climáticos extremos.

Lal insistiu em que o foco seja colocado em se conseguir a produção de alimentos saudáveis, com emissões negativas de gases de efeito estufa, e enfatizou a necessidade de se aplicar impostos à produção de alimentos não saudáveis e de se avançar em sistemas de etiquetagem que favoreçam bons hábitos de parte dos consumidores.

O ministro argentino Luis Basterra considerou que, na discussão global em andamento sobre o futuro dos sistemas alimentares, “está em debate o futuro do gênero humano no contexto de um mundo que está sentindo os efeitos do desenvolvimento. Não é um processo recente, pois teve início com a era industrial”.

“Um país como a Argentina”, acrescentou, “pegou com muita firmeza o conceito de sustentabilidade. Existe o compromisso, que inclui os setores privado e público, de encontrar as melhores formas de produzir e preservar os ecossistemas. Podemos dizer com orgulho que grande parte do solo é cultivada no sistema de plantio direto, capturando-se parte do carbono perdido com práticas que em outras épocas o consumiam”.

Basterra também alertou sobre a necessidade de se discutir a implementação de um pagamento por serviços ecossistêmicos como uma maneira de favorecer a conservação ambiental. “A América”, disse ele, “é possuidora de grande biodiversidade e de ambientes que favorecem o sequestro de carbono. Deve haver uma transição justa e equilibrada para se atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), imprescindíveis para a sobrevivência da espécie”.

O ministro argentino destacou também a articulação entre os governos de todas as Américas para levar uma posição convergente à Cúpula de Sistemas Alimentares e agradeceu o empenho do IICA na busca desse consenso.

O ministro guianense Mustapha falou da necessidade de se empoderar os pequenos agricultores e as comunidades rurais com a montagem de infraestrutura e a transferência de tecnologia e políticas que assegurem uma retribuição justa para o seu trabalho.

“Devemos melhorar as condições para os verdadeiros geradores de riqueza, os produtores de alimentos”, disse Mustapha, que também defendeu a construção de infraestrutura que permita o processamento dos produtos nas zonas rurais para facilitar a agregação de valor e o aumento da renda das comunidades.

Mustapha também falou da vulnerabilidade dos países do Caribe frente à mudança do clima: “Na Guiana, sofremos inundações dramáticas; neste ano, ocorreu a erupção do vulcão em São Vicente e Granadinas, e todos os países estão em alerta diante de furacões cada vez mais fortes. Somos países e economias pequenas, que sofremos danos pesados nos nossos cultivos e na nossa pecuária. Recentemente, demos ajuda social a 52 mil pequenos agricultores, que são os mais afetados”.

Paula Santilli, da Pepsico América Latina, afirmou que a agricultura é essencial para a sustentabilidade da sua operação. “Somos um imenso negócio agroindustrial e necessitamos da agricultura. Sabemos que sem agricultores não há negócios. Por isso, estamos muito perto dos produtores, pequenos ou grandes e trabalhamos para que todos os nossos cultivos – milho, açúcar, batata – sejam 100% sustentáveis. Precisamos de ajuda para alcançar esse objetivo. Algo importante que estamos fazendo é divulgar novas práticas de agricultura regenerativa. Isso significa acrescentar componentes biológicos e utilizar a tecnologia para cuidar do solo”, afirmou a executiva.

Para Eric Farnsworth, o importante é que os agricultores e as comunidades rurais participem do debate sobre a transformação dos sistemas agroalimentares: “Não só porque são os mais afetados, mas também pelo seu conhecimento sobre o cuidado dos solos, a preservação dos recursos e a adaptação à mudança do clima, que são elementos-chave para a sustentabilidade da produção agrícola”.

Manuel Otero, que participou recentemente da Pré-Cúpula de Sistemas Alimentares em Roma, destacou o diálogo que aconteceu nesse encontro global, notando que também ficaram claras as diferenças de visão.

“Defendemos que a agricultura é a vida e o futuro do nosso continente. Mesmo que seja necessário fazer mudanças, o sistema de forma alguma é malsucedido. Sem produtores agrícolas é difícil pensar na transformação”, explicou.

O Diretor Geral do IICA enfatizou que agricultura e sustentabilidade são hoje inseparáveis. Observou ainda que existe uma dimensão ambiental da sustentabilidade, “mas também uma econômica e um rosto humano”.

“Existem 16,5 milhões de agricultores familiares”, concluiu, “que não recebem preços remuneradores para o que produzem. A falta de rentabilidade gera pobreza e migrações desordenadas aos centros urbanos. É imprescindível que as nossas zonas rurais sejam espaços de progresso e oportunidades”.

 

Mais informações:

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