Em San Antonio Huista, Guatemala, uma cooperativa de jovens busca modernizar práticas ancestrais que entravam a produção e a comercialização de suas colheitas e, ao mesmo tempo, educar para que cada vez mais pessoas apreciem o sabor do melhor café.
Cidade da Guatemala, 25 de junho de 2020 (IICA) – Na frondosa região cafeeira de San Antonio Huista, se vivia um persistente paradoxo: os produtores consumiam café de baixa qualidade, porque vendiam suas melhores colheitas.
Mas as coisas começaram a mudar há alguns anos, quando um grupo de jovens de famílias cafeicultoras dessa região do norte da Guatemala decidiu que era hora de modernizar as práticas ancestrais que dificultam a produção e comercialização de seus cultivos e de aprimorar o gosto de seus compatriotas por um café de alta qualidade.
“Nos reunimos, primeiramente, seis jovens de um grupo de amizade e trabalho e nos organizamos, porque havia problemas na região da Huista devido a práticas muito atrasadas. Decidimos iniciar as novas tendências do mercado, entender o que o torrefador queria, buscar melhores mercados e usar melhores práticas de marketing”, contou ao IICA um dos fundadores, José López, de 28 anos.
Atualmente, o Vi Café possui 27 associados, com idades entre 24 e 33 anos. Sete são mulheres. Muitos, como José, têm estudos em agronomia e marketing.
“Promovemos nossos serviços e os produtores da região de Huista nos trazem amostras e os ajudamos a determinar a qualidade do café, quais melhorias necessitam fazer, onde podem vendê-lo”, destacou.
“Ensinamos que, se não realizam boas práticas agronômicas e de pós-colheita se afeta a qualidade e quem fez as mudanças sugeridas tem maior produção e melhor taxa”, acrescentou José.
A silenciosa e inadiável revolução nas práticas de cultivo de café é impulsionada na Guatemala pela Associação Nacional do Café (Anacafé) e conta com o apoio do PROCAGICA, um programa implementado pela União Europeia e pelo IICA.
Na Guatemala, 125.000 produtores e suas famílias dependem diretamente do café, e mais de 122.000 deles produzem em pequenas áreas, de acordo com a Anacafé, entidade privada de serviço público que representa o setor cafeicultor do país.
Como parte das iniciativas para promover mudanças, o Vi Café organizou em abril de 2019 o festival Huist Kapeh (Café Huista, na língua jacalteca), com a participação de cerca de 400 pessoas. O destaque foi a competição de cafés especiais. Foram premiados os 13 produtores que alcançaram a pontuação mais alta e conseguiram vender seus produtos por até 1.500 quetzales (US $ 195) por quintal (250 kg) de café pergaminho, bem acima da média de 600 quetzales (US $ 78).
Também foi realizada uma competição de baristas, na qual participaram representantes de 14 departamentos da Guatemala e foi inaugurado um laboratório de degustação, financiado pelo Fundo Nacional para a Reativação e Modernização da Atividade Agropecuária (Fonagro).
O laboratório funciona como eixo do controle da qualidade do café colhido pelas organizações de pequenos produtores da região, o que busca garantir o acesso a mercados que ofereçam melhores preços pelos cafés especiais.
“O laboratório e as oficinas de controle de qualidade que oferecemos são importantes para os produtores apreciarem o café e controlem melhor os processos de produção e armazenamento”, disse Roxana Montejo, engenheira agrônoma de 26 anos e atual presidente da cooperativa.
“Promovemos os cafés especiais no momento de instrução dos produtores, insistimos na umidade, mostramos a eles a relação entre sabor e lucro”, acrescentou.
O laboratório ajuda os produtores da região de Huista a determinar a qualidade do café que produzem, bem como quais melhorias eles podem implementar no complexo processo produtivo para obter um café que possa ser vendido a um preço mais alto.
A chegada do coronavírus
A Vi Café tinha tudo pronto para o segundo festival, quando o surto de coronavírus forçou as autoridades guatemaltecas a impor a quarentena.
“A atividade foi cancelada devido ao coronavírus, mas enviamos todas as informações e amostras aos compradores, alguns dos quais decidiram não comprar devido ao problema de transporte, uma vez que alguns municípios fecharam completamente a fronteira, como Jacaltenango. Os produtores de algumas aldeias não puderam sair nem vender seu café pela mesma razão, mas, mesmo assim, puderam posicionar alguns lotes a um bom preço “, afirmou José López.
A quarentena obrigatória na Guatemala também levou ao fechamento da recém-inaugurada Loja de café Vi Café, para a qual a cooperativa contou com o apoio do PROCAGICA.
“Em nossa região, as pessoas estão acostumadas a consumir o pior café, para vender o melhor. Nas cafeterias não costumam vender café, e se o vendem, não é de qualidade”, explica Montejo.
“É aí que entra o trabalho do laboratório e, especialmente, da cafeteria, onde o apoio do PROCAGICA nos veio como “uma mão na roda”; constatamos que pessoas de diferentes origens gostam de cafés com preparações diversas e variadas”, afirmou o cooperativista.
A contribuição da UE, do IICA e PROCAGICA se expressa também em suprimentos, como móveis e acessórios para a cafeteria, além de fertilizantes, mudas e plantas de limão, banana e abacate, detalhou López.
Também subsidiou oficinas para treinar os produtores da região a fim de melhorar suas práticas de produção.
Um dos problemas estruturais da cafeicultura regional identificados no marco do PROCAGICA é a mudança geracional, explicou Harold Gamboa, coordenador geral do programa.
“O envelhecimento da população de cafeicultores e a falta de integração dos jovens que deem continuidade a esse trabalho, bem como sua integração nas redes e organizações de produtores, é uma preocupação frequente”, afirmou.
Gamboa destacou que, por isso, no âmbito do programa e em associação com grupos de produtores, instituições educacionais locais, centros de educação técnica e centros de ensino superior, estão trabalhando para oferecer programas de capacitação e assistência para que as novas gerações se envolvam e assumam tarefas na administração das propriedades agrícolas, agregação de valor, assistência técnica e apoio na implementação de projetos de empreendedorismo.
“A Vi Café é um exemplo claro de empreendedorismo local, promovido por um grupo de jovens visionários dispostos a mudar e melhorar a maneira de fazer as coisas no setor cafeeiro de sua região”, assegurou Gamboa.
Nas novas circunstâncias causadas pela Covid-19, a Vi Café está considerando a entrega em domicílio das bebidas, mantendo o objetivo educativo da loja: ensinar produtores e consumidores com informações de como preparar uma bebida de qualidade.
Agora, os jovens da Vi Café esperam que a pandemia passe para voltar à sua paixão pelo café com novo vigor.
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