A abundância dos recursos naturais da região, combinada com as novas demandas globais de uma produção mais sustentável e com as modificações do painel geopolítico global, contribui para a convergência de fatores favoráveis a uma transição mais rápida para um modelo que enfatiza a biologia.
São José, 13 de julho de 2022 (IICA) – A guerra no Leste Europeu, ao mesmo tempo em que provoca forte impacto econômico e social negativo na América Latina e no Caribe, cria condições para acelerar o desenvolvimento da bioeconomia.
A abundância dos recursos naturais da região, combinada com as novas demandas globais de uma produção mais sustentável e com as modificações do painel geopolítico global, contribui para a convergência de fatores favoráveis a uma transição mais rápida para um modelo que enfatiza a biologia.
Foi isso que defenderam os peritos convocados pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) para discutir o cenário da crise no âmbito da Conferência Internacional de Bioeconomia Aplicada 2022, organizada pelo Consórcio Internacional de Bioeconomia Aplicada (ICABR).
O ICABR é um consórcio internacional de especialistas em bioeconomia, agricultura, biotecnologia e pesquisa que constitui um dos espaços mundiais mais importantes da bioeconomia acadêmica. Dele participam universidades da envergadura de Rutgers, Berkeley, MIT, Campinas, UC Davis, Wageningen e Saskatchewa, entre muitas outras. Entre os objetivos do ICABR destaca-se o fomento à colaboração entre universidades, centros de pesquisa, governos e empresas privadas, bem como a promoção da aplicabilidade dos resultados da pesquisa (sobretudo em políticas públicas).
Como parte dessa Conferência, o IICA organizou o painel “Bioeconomia e impactos da guerra Rússia-Ucrânia na América Latina e no Caribe”, em que se abordou o potencial da região em áreas como biocombustíveis líquidos, biogás, combustíveis para aviação, biotecnologia e bioinsumos.
A discussão foi organizada por Hugo Chavarría, Gerente do Programa de Bioeconomia e Desenvolvimento Produtivo do IICA, que também participou de duas plenárias da Conferência como palestrante.
“Trabalhamos arduamente para posicionar a América Latina e o Caribe nesses espaços mundiais da bioeconomia. Esta é a única forma de a região se visibilizar no mais alto nível e ser protagonista nas discussões e decisões dos atores mais influentes da comunidade acadêmica e dos sistemas de ciência, tecnologia e inovação da bioeconomia no mundo todo”, disse Chavarría.
O especialista afirmou que a região tem os recursos para acelerar o desenvolvimento da bioeconomia e um cenário favorável, mas que é necessário potenciá-la pelo trabalho em conscientização, formação de capacitação, fortalecimento de estruturas normativas, fomento de mercados e pesquisa e desenvolvimento.
A bioeconomia, que consiste na industrialização sustentável dos recursos e princípios biológicos, permite a formulação de novas estratégias de desenvolvimento produtivo para se enfrentar o desafio das crescentes demandas de alimentação e energia da população mundial, ao mesmo tempo em que contribui para mitigar o impacto sobre o meio ambiente e os recursos naturais.
As oportunidades
“A guerra impactou uma região já fortemente afetada pela pandemia da Covid-19. Em 2020, a América Latina sofreu uma contração de 7% no PIB, a maior em 120 anos. Isso levou ao crescimento da pobreza, que hoje afeta 200 milhões de pessoas, 86 milhões das quais estão em situação de pobreza extrema”, disse Eduardo Trigo, uma das referências globais em matéria de bioeconomia e assessor do Diretor Geral do IICA.
Trigo concentrou-se, não obstante, nas oportunidades: “Uma das características da região é a abundância de seus recursos biológicos. Por esse motivo, a bioeconomia, que consiste no aproveitamento dos recursos biológicos, é uma resposta lógica, talvez não no curto prazo, mas em termos de visão do desenvolvimento”.
“A região, e em especial os países tropicais, poderia usar melhor sua riqueza biológica para o fortalecimento de sua segurança alimentar. Isso não é um processo novo na América Latina e no Caribe. Pelo menos 11 países têm estratégias para o aproveitamento desses novos caminhos de desenvolvimento. Isso não é falar de potencialidades, mas de coisas que já estão acontecendo na região e que têm dimensão real”, indicou o especialista.
Materialização das expectativas
Agustín Tejeda, Gerente de Estudos Econômicos da Bolsa de Cereais da Argentina, falou dos impactos disruptivos gerados pela guerra e pontuou que, devido ao aumento de preço dos insumos, um produtor da Argentina ou do Brasil precisa de 50% a mais em dólares de investimento para obter os mesmos produtos,
No entanto, Tejeda observou que, em um prazo maior¸ se abrem oportunidades para a consolidação da região como fornecedora global de alimentos e energia nos próximos anos. “Já estamos vendo um aumento no uso de produtos de origem biológica que podem substituir os produtos de origem fóssil. Talvez a maior oportunidade seja a que temos de consolidar uma visão própria, destacando-se que não existe uma abordagem única da sustentabilidade, mas que tantas são as abordagens quantas são as realidades produtivas existentes”, afirmou.
Tejeda disse não ter dúvida de que a região tem potencial para aumentar as exportações e aproveitar as oportunidades da bioeconomia: “Para que essas perspectivas se materializem, precisa-se de uma revisão da estratégia de inserção internacional e da geração de consensos no nível regional sobre a formulação de políticas de desenvolvimento produtivo e de negociações internacionais”.
Jorge Bedoya, Presidente da Sociedade de Agricultores da Colômbia, informou que seu país produz 73 milhões de toneladas de alimentos, mas importa 13,8 milhões de toneladas. “Tudo o que vem ocorrendo desde a invasão da Ucrânia gerou uma tremenda pressão nos custos de produção dos alimentos mais importantes para a população colombiana, como o frango, o porco e o leite. Temos uma inflação anual de mais de 23% em alimentos”, observou.
Bedoya destacou que a Colômbia pode ser menos dependente das importações: “Temos dado passos importantes na produção de biodiesel e do etanol. Temos uma fronteira agrícola de 40 milhões de hectares, água e a presença de investidores nacionais e estrangeiros. Isso nos leva a crer que, no médio prazo, poderemos ter um cenário diverso”.
Agustín Torroba, Especialista em Bioenergia do IICA, prognosticou que a produção e o consumo de biocombustíveis líquidos vai se acelerar no curto e no médio prazos, e que a médio prazo outros crescerão, como o biogás e os biocombustíveis de aviação. “A situação gera uma oportunidade para os biocombustíveis porque estes são mais baratos que os combustíveis fósseis e se tornam como quew avalistas do abastecimento”, enfatizou.
Roberto Bisang, da Universidade de Buenos Aires (UBA), falou das oportunidades que se apresentam em biotecnologia, enquanto Nicolás Cock Duque, da Bioproteção Global, falou do papel que os bioinsumos podem ter na transição para uma agricultura mais resiliente. Por último, José Roberto Vega, diretor da LANOTEC Costa Rica, tratou das possibilidades das biorrefinarias (em particular, as baseadas no aproveitamento de resíduos) na produção de biocombustíveis ou de outros bioprodutos novos no cenário atual.
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