Concordaram com tal diagnóstico altos funcionários de países das Américas e representantes do setor privado, a academia e organismos internacionais, reunidos no painel “Digitalização da agricultura como determinante para a transformação dos sistemas alimentares: uma perspectiva das Américas”, organizado pelo IICA como um evento paralelo à Cúpula dos Sistemas Alimentares convocada pelo Secretário Geral da ONU.
Nova York, 24 de setembro de 2021 (IICA). A agricultura digital pode fazer uma contribuição substancial para transformar os sistemas agroalimentares e contribuir para que sejam mais sustentáveis e inclusivos, o que exige abordar as desigualdades no acesso às novas tecnologias, uma vez que limitam o desenvolvimento das potencialidades da população rural.
Concordaram com tal diagnóstico altos funcionários de países das Américas e representantes do setor privado, a academia e organismos internacionais, reunidos no painel “Digitalização da agricultura como determinante para a transformação dos sistemas alimentares: uma perspectiva das Américas”, organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) como um evento paralelo à Cúpula dos Sistemas Alimentares convocada pelo Secretário Geral da ONU.
O debate foi precedido por uma dissertação do Prêmio Nobel de Economia de 2019 e professor da Universidade de Chicago, Michael Kremer, reconhecido por seus estudos visando aliviar a pobreza global e promotor da digitalização da agricultura como uma ferramenta central para melhorar a qualidade de vida das populações rurais.
Os países das Américas chegam à Cúpula no fim de um extenso processo de diálogo, coordenado pelo IICA, que teve como resultado um documento no qual chegaram a um consenso sobre 16 mensagens chaves sobre o papel insubstituível da agricultura na segurança alimentar e que coloca em primeiro plano o papel desempenhado pelos produtores agropecuários.
As mensagens foram respaldadas na Conferência de Ministros da Agricultura das Américas realizada este mês, e uma delas indica que “as novas tecnologias contribuem para a harmonização da produção agropecuária com a saúde do ambiente e dos ecossistemas, aspecto indispensável para a sua resiliência”.
Participaram do debate: o Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural da Colômbia, Rodolfo Enrique Zea Navarro; a Secretária Geral da Comunidade do Caribe (CARICOM), Carla Barnett; o Secretário de Agricultura Familiar e Cooperativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, César Halum; o Diretor de Educação da Microsoft, Luciano Braverman; e a Diretora do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) na América Latina e no Caribe, Rossana Polastri.
A Enviada Especial do Secretário Geral da ONU na Cúpula dos Sistemas Alimentares de 2021, Agnes Kalibata, também participou do debate — moderado por Federico Villarreal, Diretor de Cooperação Técnica do IICA —, e o Diretor Geral do Instituto, Manuel Otero, encarregou-se da abertura e das considerações finais.
“Há muito entusiasmo acerca da agricultura digital. Parte disso está relacionado às novas tecnologias disponíveis para os produtores, que hoje têm acesso a telefones inteligentes com os quais podem se integrar às cadeias de abastecimento. Mas ao mesmo tempo há um ceticismo com a agricultura digital”, reconheceu Kremer.
Nesse sentido, o economista fez menção às potencialidades da extensão rural digital e seus efeitos sobre a produtividade e as receitas dos pequenos agricultores.
“Tenho feito pesquisas e compilado evidências de que a tecnologia mais básica, por exemplo, o envio de mensagens de texto, pode causar uma diferença significativa nos benefícios para os agricultores”, disse o Nobel e também Embaixador da Boa Vontade do IICA.
“As oportunidades para as populações rurais são maiores — acrescentou — quando é possível trabalhar em vários países e integrar experiências da região. As novas tecnologias da informação possibilitarão a transformação da agricultura. E alcançaremos isso mais rapidamente com o apoio do setor público”, afirmou.
O Ministro Zea Navarro falou da transformação tecnológica que está acontecendo no campo colombiano.
“Procuramos organizar a produção com a tecnologia. Precisamos de bons mapas dos solos para conhecer suas aptidões, para usar a menor quantidade possível de adubos químicos e manter a produtividade. Também estamos incorporando ferramentas para prever o clima. Assim, há cultivos que antes eram plantados em abril e, hoje, graças à mudança do clima, são plantados em maio”, contou.
Para o ministro, as novas tecnologias servirão “para que sejam mais produtivos sem aumentar a fronteira agrícola e mais sustentáveis com o meio ambiente”.
Carla Barnett, da CARICOM, organização que congrega países do Caribe há quase 50 anos, considerou que “o mundo que conhecemos avança rapidamente com as tecnologias da comunicação e da informação; não devemos ficar para trás”.
Barnett revelou que a transformação digital já está em andamento na produção agrícola do Caribe, o que se manifesta em feitos como a eliminação dos intermediários por muitos produtores, que hoje vendem seus produtos pelas redes sociais.
A importância de facilitar o acesso às novas tecnologias da comunicação e da informação para os pequenos produtores foi abordada pelo Secretário brasileiro Halum. “No Brasil — justificou — temos grandes produtores agropecuários, mas quatro milhões de propriedades rurais são pequenas e dedicadas à agricultura familiar”.
O funcionário opinou que o desafio é universalizar a assistência técnica e a extensão rural, que hoje só alcança um a cada cinco agricultores familiares: “Onde há extensão rural e assistência técnica, o índice de desenvolvimento humano é muito maior e a entrada econômica por família chega a ser de duas a três vezes maior. O caminho é a agricultura digital”.
Luciano Braverman contou que a Microsoft trabalha em três linhas no que diz respeito à digitalização da agricultura: conectividade, desenvolvimento de habilidades e inovação.
“Hoje — reconheceu — vemos uma grande desigualdade e injustiça no acesso às tecnologias. Estamos perante um desafio que requer cooperação entre o setor público e o privado, pois é uma responsabilidade de todos romper as barreiras que dificultam o acesso dos agricultores às novas tecnologias, decisivas para melhorar a produção e as receitas”.
Rossana Polastri enfatizou que é crucial romper com o paradigma que vincula o digital ao urbano. “A agricultura digital — ressaltou — gera oportunidades para que os agricultores gerem valor agregado e recebam um preço justo por seus produtos. Os jovens podem desempenhar um papel essencial na sua incorporação, graças a sua energia inovadora e habilidades digitais”.
Polastri disse que “atualmente os serviços digitais não estão alinhados às necessidades da população rural na América Latina e no Caribe, de modo que o papel do Estado é crucial para promover investimentos que levem as novas tecnologias a áreas escassamente povoadas”.
Por sua vez, Agnes Kalibata conclamou a todos os atores dos setores público e privado a trabalhar em conjunto, “para determinar o futuro dos sistemas alimentares”. Nessa linha, convocou à discussão de mudanças nas formas de produção e comercialização que favoreçam “um crescimento inclusivo e a construção de um mundo resiliente”.
Por sua vez, Manuel Otero destacou que a agricultura digital pode fazer uma contribuição para todas as transformações dos sistemas agroalimentares que hoje são vistas como urgentes, inclusive o aumento da produtividade, a redução do impacto ambiental e a incorporação de jovens e mulheres a posições de maior liderança e tomada de decisões.
“Há um caminho incipiente e ainda desigual na chegada da agricultura digital na América Latina e no Caribe que nos oferece uma grande oportunidade. Há muito o que avançar, e o IICA quer estar perto dos países e trabalhar em conjunto com os diferentes organismos e o setor privado. Queremos nos somar a todas as coalizões e esforços colaborativos que sejam necessários. Aspiramos a uma melhor ruralidade, que deve passar por uma transformação e um empoderamento dos agricultores familiares. As condições estão dadas”, concluiu.
O IICA lançou meses atrás — em conjunto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), a Universidade de Oxford e a Microsoft — três documentos que refletem a desigualdade digital de gênero no âmbito rural, as carências de uma conectividade adequada na ruralidade e a necessidade de ampliar as habilidades digitais entre os habitantes do campo para desenvolver o seu potencial produtivo, social e econômico.
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