Construir parcerias na luta contra a fome e a má-nutrição é o objetivo central dos debates, do qual participam funcionários de governos, representantes do setor privado, organismos internacionais, produtores agropecuários, acadêmicos, cientistas, educadores e estudantes.
Des Moines, Iowa, 20 de outubro de 2022 (IICA) — O mundo enfrenta desafios sem precedentes em termos de segurança alimentar, mas diversas ações que estão sendo implementadas no mundo para lutar contra a fome e a má-nutrição proporcionam esperanças para o futuro, disseram os especialistas no Diálogo Internacional Borlaug de 2022, considerado o maior foro internacional de agricultura do mundo.
Com o título “Alimentando um mundo frágil”, o Diálogo desse ano foca em como superar os choques que têm golpeado a estabilidade dos sistemas alimentares globais. A tríplice ameaça da pandemia de Covid-19, o conflito bélico no Leste Europeu e o impacto da mudança do clima gerou uma crise severa que afetou gravemente as populações mais vulneráveis.
Construir parcerias na luta contra a fome e a má-nutrição é o objetivo central dos debates, do qual participam funcionários de governos, representantes do setor privado, organismos internacionais, produtores agropecuários, acadêmicos, cientistas, educadores e estudantes.
A Presidente da Fundação WFP, Barbara Stinson, e o Enviado Especial para Segurança Alimentar Global do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Cary Fowler, realizaram a abertura do Diálogo.
“Estamos enfrentando problemas de uma enorme magnitude que desafiam a produção, a industrialização, o transporte e a distribuição de alimentos. A quantidade, a qualidade e a disponibilidade estão sendo afetadas, o que impacta nas comunidades vulneráveis. Isso se chama Covid, conflito e mudança do clima”, disse Stinson.
“De todo modo, em muitos lugares do mundo estão sendo feitas coisas incríveis para lutar com essa situação, e o nosso trabalho é mostrar isso. Queremos cumprir o segundo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que consiste em não haver fome em 2030. Alguns dizem que é impossível, mas nós dizemos que devemos tentar e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance”, acrescentou.
Fowler, um dos criadores do maior banco global de sementes e recentemente nomeado no Departamento de Estado, mencionou o impacto do aumento de preços dos alimentos e da energia e a crise dos fertilizantes, mas ressaltou que a mudança do clima é o mais preocupante.
“Faz muito tempo que as temperaturas estão mais altas do que a média, e isso tem um efeito muito profundo na agricultura. Devemos nos preocupar com o milho, o trigo, o arroz e a soja, mas também com cultivos menores. É imprescindível avaliarmos com precisão como a mudança do clima os afeta”, afirmou.
Durante três dias, as conversas priorizarão o nexo entre agricultura, segurança alimentar e mudança do clima, com ênfase na busca de soluções no terreno de mitigação e adaptação para favorecer a materialização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em 2030.
Fowler afirmou que as projeções de demandas futuras de alimentos indicam que, em 2050, haverá uma maior carência de produção de 50 a 60%. “As projeções agrícolas — afirmou — sustentam que a produção pode crescer nessa proporção, mas isso não contempla a influência da mudança do clima e de outros fatores disruptivos, como os conflitos e os aumentos de preços, que estamos vivenciando hoje”.
Nesse sentido, o especialista indicou que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 27), que acontecerá no próximo mês no Egito, será uma grande oportunidade para discutir a adaptação da agricultura. “Se não adaptarmos os cultivos à mudança do clima, será impossível responder à demanda”, advertiu.
O Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Manuel Otero, foi um dos oradores da jornada inicial do evento, organizado pela Fundação World Food Prize (WFP), em Des Moines, Iowa (Estados Unidos).
Ele fez isso no painel intitulado “Cooperação Dinâmica e Parceiros Incomuns”, com Godfrey Bahiigwa, Diretor do Departamento de Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Desenvolvimento Sustentável da Comissão da União Africana; e Jyostsna Puri, Vice-Presidente Associada do Departamento de Estratégia e Conhecimento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). A moderadora foi Barbara Stinson.
Antes de sua participação nesse painel, Otero se reuniu em Des Moines com Fowler, com quem trocou pontos de vista sobre a segurança alimentar e o papel da cooperação internacional. Otero e Fowler concordaram sobre a importância da ciência e da tecnologia para transformar a agricultura frente aos novos desafios, presentes e futuros, e conversaram sobre as conquistas do trabalho do IICA na África.
“Apresentamos a Fowler a nossa iniciativa Solos Vivos das Américas, coliderada pelo Doutor Rattan Lal, e conversamos sobre a possibilidade de estendê-la para além da nossa região. Falamos sobre a África e a relação entre o IICA e as contrapartidas desse continente, detalhando a agenda de trabalho IICA-África, que inclui um observatório de políticas, a mencionada iniciativa Solos Vivos e a promoção da bioeconomia, para definir futuras ações conjuntas”, disse Otero sobre o encontro com o funcionário dos Estados Unidos.
América Latina e Caribe, ator chave
Em sua participação no painel, Otero se referiu à importância que a América Latina e o Caribe têm para a segurança alimentar global, uma vez que representam a região exportadora líquida mais importante do mundo. “Somos obrigados a nos converter em um ator fundamental para a segurança alimentar nutricional e, mais do que isso, também para a sustentabilidade ambiental, devido à riqueza de nossos recursos naturais”, indicou.
O Diretor Geral do IICA ressaltou, porém, que se trata de uma região heterogênea, uma vez que tem países grandes produtores e outros que dependem de importações. Isso se dá particularmente na América Central e no Caribe. “O Haiti merece um parágrafo à parte, pois vive um cenário de instabilidade e atravessa uma grave situação”, disse.
Otero advertiu que a segurança alimentar hoje está ao topo da agenda global, pediu pelo estabelecimento de políticas de longo prazo e enfatizou a necessidade de empoderar os pequenos agricultores.
“Temos 16,5 milhões de agricultores familiares na América Latina e no Caribe. Devemos dar-lhes as ferramentas para que sejam rentáveis, realizem boas práticas ambientais e sejam resilientes diante da mudança do clima. Devemos ajudar a mantê-los nas áreas rurais; seria terrível se migrassem para as cidades”, advertiu.
Finalmente, destacou o Diretor Geral do IICA, hoje o Instituto está definindo o seu papel no estabelecimento de novas estratégias de cooperação, observando o mundo a partir das Américas e promovendo a ação coletiva não só com os governos, mas também com o setor privado, as organizações da sociedade civil e a academia.
A sessão girou em torno da importância das parcerias globais, especialmente entre a África e as Américas, com particular importância nas associações entre o setor público, o privado e as organizações da sociedade civil.
“Quero chamar a atenção sobre um número. Um terço do total global de alimentos é produzido por pequenos agricultores; um terço das emissões de gases de efeito estufa vem dos sistemas alimentares; um terço da comida que se produz é desperdiçada. Devemos deixar de firmar compromissos e ser confiáveis em nosso trabalho”, ressaltou Puri.
A alta funcionária do FIDA disse também que “devemos focar nos diferentes atores dos sistemas alimentares, assim como na demanda. Os pequenos agricultores são as pessoas mais importantes na produção de alimentos, e também as mais negligenciadas”, acrescentando que “os desafios que temos hoje são globais. É fundamental nos concentrarmos em aumentar a produtividade e construir mercados, que são essenciais. Os atores do setor privado atualmente carecem fortemente de incentivos para desenvolver projetos em zonas rurais”.
Bahiigwa, por sua vez, ressaltou que a África é um continente onde a maior parte da população não pode ter acesso a uma dieta saudável, o que afeta a produtividade. “É decisivo para a África — destacou — reduzir a dependência das importações de alimentos que hoje chegam a 45 bilhões de dólares anuais, dinheiro que pode ser investido no bem-estar de nossos povos”.
O funcionário da União Africana lembrou que representava 55 países de “um continente que atravessa uma situação muito delicada quanto à segurança alimentar. Os desafios são muitos, inclusive o de aumentar a nossa produção de alimentos, porque só assim poderemos ter um futuro. Também é fundamental reduzir o desperdício de comida”.
E concluiu: “Apesar da situação complicada, a mensagem é de esperança, pois a África é um continente de oportunidades que está aberto para fazer negócios. Precisamos de investimentos, e convido às empresas a se interessar pela África”.
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