Essa foi a principal mensagem que o Nobel de Economia de 2019, Michael Kremer, dirigiu a ministros, vice-ministros e altos funcionários de Agricultura, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia de 40 países reunidos na primeira “Cúpula África-Américas sobre Sistemas Agroalimentares”, realizada na Costa Rica.
São José, 28 de julho de 2022 (IICA) — Os agricultores familiares da África e das Américas podem obter soluções efetivas e rápidas para os problemas mais severos que enfrentam por meio da agricultura digital, utilizando um smartphone como ferramenta central para transferir conhecimentos.
Essa foi a principal mensagem que o Nobel de Economia de 2019, Michael Kremer, dirigiu a ministros, vice-ministros e altos funcionários de Agricultura, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia de 40 países reunidos na primeira “Cúpula África-Américas sobre Sistemas Agroalimentares”, realizada na Costa Rica.
Kremer foi o conferencista convidado na sessão “Oportunidades em agricultura digital”, da qual participou o Ministro da Agricultura da República Dominicana, Limber Cruz; do Zimbábue, Davis Marapira; e de Assuntos Estrangeiros de Trinidad e Tobago, Amery Browne. Também falou na mesa o Diretor Executivo do Foro Africano para Serviços de Assessoramento Agrícola (AFAAS), Mohammed Silim Nahdy.
“Muitas vezes os agricultores vivem em zonas remotas e não têm informações sobre as novas tecnologias. Mas a agricultura digital tem o potencial de promover o acesso massivo das populações rurais às informações, que podem incorporar rapidamente os novos conhecimentos a suas tarefas cotidianas, com benefícios potenciais muito grandes, como já foi demonstrado em diversos países”, afirmou Kremer, reconhecido internacionalmente por seus estudos para aliviar a pobreza global e Embaixador da Boa Vontade do IICA em temas de Desenvolvimento Sustentável.
“Uma vez que o sistema de agricultura digital é implementado, o custo de acrescentar novos parceiros é extremamente baixo, tratando-se de uma abordagem que pode ser ampliada rapidamente”, explicou o especialista, que deu o exemplo de Etiópia, onde é utilizado um serviço de resposta de voz interativa para que os agricultores recebam mensagens personalizadas e automatizadas com informações meteorológica úteis para manejar seus cultivos.
Também contou o caso da Índia, que tem um programa para analisar a química e a saúde do solo local e entregar informações básicas sobre como melhorar práticas agrícolas específicas a todos os pequenos agricultores, de acordo com as condições particulares de cada zona. O Quênia é outro país que transmite a seus produtores informações úteis para definir quando realizar suas colheitas.
Para Kremer, a agricultura digital é um exemplo de inovação que traz soluções diante dos desafios da mudança do clima, que está afetando a produtividade agrícola em muitos países em desenvolvimento. O especialista acrescentou que os governos devem ser conscientes dessa realidade.
Kremer é um dos fundadores da Precision Development (PxD), organização que levou serviços agrícolas digitais a agricultores familiares da Ásia e da África para prestar assistência técnica e extensão rural, fundamentais para que o elo mais frágil do setor agropecuário possa obter melhores rendimentos e um aumento de receitas.
A PxD e o IICA têm uma parceria para levar serviços de extensão digital — que possibilitam uma comunicação de baixo custo, alto impacto e bidirecional, capaz de empoderar os produtores em grande escala — a países da América Latina e do Caribe, em um esforço conjunto para oferecer ferramentas que permitam aos agricultores de pequeno porte produzir mais e melhores alimentos em um âmbito de sustentabilidade e eficiência no uso dos recursos naturais.
O Brasil é o primeiro país beneficiado com essa iniciativa, com foco inicial na assistência remota a milhares de pequenos produtores da região Nordeste que vivem da criação de ovinos e caprinos e do cultivo de milho e feijão.
“Há cada vez mais provas de que os agricultores familiares podem reduzir suas despesas em fertilizantes se tiverem as informações que precisam para realizar uma gestão de nutrientes específica. Os conteúdos em áudio relacionados ao solo são simples de elaborar e simples de entender”, afirmou Kremer, que é professor da Universidade de Chicago.
Diante do cenário de crises superpostas pela pandemia de Covid-19, o conflito bélico no Leste Europeu e o impacto da mudança do clima, Kremer considerou que muito pode ser feito com a promoção do acesso à conectividade e a smartphones para mais agricultores.
“Temos mais oportunidade de integrar a agricultura digital com outros serviços. A extensão agrícola digital pode se integrar a serviços de previsão meteorológica aprimorados, que poderiam ajudar os agricultores a tomar decisões importantes sobre quando plantar, quando colher e, inclusive, que cultivos plantar”, afirmou Kremer.
“Conforme os padrões meteorológicos mudam, devido à mudança do clima, a digitalização pode ajudar os agricultores a se adaptar e a trocar informações”, acrescentou.
O Ministro dominicano Limber Cruz expressou que “nós que lideramos a implementação das políticas públicas para populações historicamente relegadas temos enormes desafios que não podem ser esquecidos. É indispensável democratizar o acesso às tecnologias da informação e ao conhecimento, para que seus benefícios efetivamente cheguem a nossos produtores e produtoras reais. Isso implica o acesso à banda larga para os territórios rurais, bem como uma profunda transformação nos processos de gestão do conhecimento que permitam aproximar as pesquisas e o conhecimento por um processo de comunicação amigável”.
Cruz lamentou o fato de que “essa conversa não tenha ocorrido antes”, uma vez que, acrescentou, “o futuro dependerá de como podemos executar tudo o que foi mencionado para monitorar, avaliar e levar a sério as oportunidades que estão a nossa disposição para avançar na agricultura digital, cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e, ao mesmo tempo, ajudar aqueles que não têm acesso aos alimentos no dia a dia”.
Mohammed Silim Nahdy, por sua vez, focou na baixa produtividade da agricultura africana. “Quase 70% dos habitantes — afirmou — vive da agricultura e depende dela, e quase 60% da terra é arável ou cultivável. Setenta por cento da população é jovem e, portanto, a digitalização é uma boa oportunidade para atrai-los para a atividade agrícola”, comentou.
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