O Presidente do Chile, Gabriel Boric, deu seu apoio à reunião, que teve como objetivo posicionar a agricultura como um setor relevante para oferecer soluções inovadoras à crise climática.
Santiago, Chile, 17 de abril de 2023 (IICA) — O setor agropecuário está comprometido em gerar cada vez mais alimentos para o mundo por meio de boas práticas que também contribuam para a mitigação da mudança do clima, afirmaram representantes de 24 países dos cinco continentes na Primeira Conferência Ministerial de Sistemas Alimentares Baixos em Emissões, realizada em Santiago do Chile.
O Presidente do Chile, Gabriel Boric, deu seu apoio à reunião, que teve como objetivo posicionar a agricultura como um setor relevante para oferecer soluções inovadoras à crise climática.
Boric afirmou que alcançar segurança alimentar é um dos maiores desafios da América Latina, e mencionou a importância da inovação, das novas tecnologias e da capacitação para construir uma agricultura mais sustentável.
O foco da conferência está na promoção da cooperação internacional para reduzir as emissões de metano, que é um dos gases de efeito estufa (GEE) que geram a mudança do clima. Em 2021, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de Glasgow (COP26), mais de 100 países assumiram o compromisso de reduzir as emissões globais de metano em 30% até 2030 e, ao mesmo tempo, gerar as condições para uma maior resiliência dos sistemas alimentares.
“Essa é uma instância histórica, onde há representantes dos cinco continentes que ousam discutir a importância da redução de emissões de metano na agricultura, o que ajudaria a aplacar a mudança do clima de maneira mais eficaz”, disse o Ministro da Agricultura do Chile, Esteban Valenzuela, Copresidente do evento, juntamente com o Ministro da Agricultura, Pesca e Alimentação da Espanha, Luis Planas.
“O convite é para ver se alcançamos um triângulo perfeito: produzir mais alimentos, com menos estresse ao meio ambiente e com um uso responsável da água. Essa é a nossa obrigação”, acrescentou Valenzuela.
A Conferência contou com o apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), representado por seu Diretor Geral, Manuel Otero.
O Ministro Planas considerou que a saúde dos ecossistemas, o bem-estar humano e o desenvolvimento sustentável são temas intimamente relacionados entre si, e não cabe avançar em algum deles de forma separada, apenas em conjunto.
O ministro espanhol disse que o setor agrícola deve se adaptar a um novo contexto: “Devemos pensar em que instrumentos e tecnologias são capazes de responder às necessidades atuais de produção de alimentos. Por isso é muito importante reconhecer o valor das diversas formas de conhecimento e pesquisa. Temos o desafio de nutrir e proporcionar alimentos para uma população crescente, utilizando meios naturais limitados e reduzindo o impacto sobre o ambiente”.
Também participou do encontro o Ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Fernando Mattos, que saudou a iniciativa de seu colega chileno de colocar na mesa um debate fundamental para o setor agropecuário.
“Em primeiro lugar, parabenizar o ministro do Chile e toda a sua equipe por trazer à discussão esse tema tão importante que está relacionado aos esforços para reduzir as emissões da agricultura. Isso é crucial para o futuro da nossa atividade e de nossos países, que têm vocação para a produção agropecuária”, disse Mattos.
E acrescentou: “Estamos cada vez mais vulneráveis a eventos extremos, como secas, inundações e incêndios. Todos, catástrofes climáticas que não são geradas pelo setor agropecuário, mas pelos países desenvolvidos, com seu estilo de consumo. Em todo o caso, devemos assumir o compromisso de continuar a melhorar o nosso desempenho ambiental para mitigar os efeitos da mudança do clima”.
Nesse sentido, o Uruguai deu passos fundamentais, dado que a maior parte da pecuária do país é feita em pastos naturais, o que favorece uma importante contribuição em termos de sequestro de carbono. O Uruguai também implementou um sistema para calcular as emissões por hectare e por quilo de carne produzida, uma ferramenta que confirma que o campo natural é capaz de capturar carbono.
O Diretor Geral do IICA, por sua vez, mencionou a necessidade de identificar soluções concretas e práticas para que os países, mediante suas políticas públicas, diminuam suas emissões de metano, mantendo e aumentando a produtividade de maneira sustentável para todo o planeta, o que reforçará a segurança alimentar e, como consequência, a paz.
Nesse sentido, afirmou que é um desafio inadiável a redução das emissões de metano, especialmente nas cadeias produtivas vinculadas à pecuária e ao arroz.
“A transformação, que já está em andamento, torna inadiável assentar as bases de uma agricultura baixa em emissões. A agricultura do futuro, que já está chegando, será sustentável, ou não será agricultura”, afirmou.
Otero detalhou as ações que o IICA está levando adiante em diversos países das Américas para reduzir as emissões de metano na produção de arroz e na atividade pecuária.
Em todo caso, o Diretor Geral do IICA afirmou que a pecuária é muitas vezes questionada de forma injustificada pela questão da mudança do clima.
“Gostaria de fazer uma defesa dessa cadeia produtiva — expressou — que injustamente se tem tentado colocar no banco dos réus, esquecendo-se que é um setor quase sempre localizado em zonas marginais e que não compete com outras cadeias, além de cumprir uma função social”.
“A pecuária é palco de múltiplas transformações, em busca de alcançar uma maior eficiência por meio da melhoria genética, da integração de sistemas agrossilvopastoris e da melhoria dos pastos, entre outras práticas”, acrescentou.
Otero concluiu colocando em primeiro plano o papel dos agricultores, atores insubstituíveis da segurança alimentar.
“Queremos que os agricultores — afirmou —, além de produzir, sejam prestadores de serviços ecossistêmicos, guardiões biodiversidade e protetores dos territórios rurais. Devemos dar-lhes a importância que eles merecem para que sejam, de forma definitiva, protagonistas de sua própria transformação”.
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