Convocados pelo IICA para um diálogo sobre os desafios propostos pela conjuntura, representantes das companhias indicaram que a invasão da Rússia à Ucrânia, que já gerou aumentos de preços em produtos agropecuários, fertilizantes e energia, reforça a importância das políticas públicas de apoio aos agricultores familiares, principais abastecedores de alimentos na região.
São José, 12 de maio de 2022 (IICA).-Empresas do setor agroalimentar com atuação global — e forte presença nas Américas — concordam com a necessidade de elaborar estratégias conjuntas, que articulem os esforços dos setores público e privado destinados a enfrentar os riscos à segurança alimentar gerados pelo conflito bélico no Leste Europeu.
Convocados pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) para um diálogo sobre os desafios propostos pela conjuntura, representantes das companhias indicaram que a invasão da Rússia à Ucrânia, que já gerou aumentos de preços de produtos agropecuários, fertilizantes e energia, reforça a importância das políticas públicas de apoio aos agricultores familiares, principais abastecedores de alimentos na região.
Como a Rússia e a Ucrânia são importantes produtores de grãos, e a Rússia é também uma significativa exportadora de energia e de fertilizantes, a guerra gerou uma maior volatilidade nos mercados mundiais, que já atravessavam um período complicado, em um contexto de crise superpostas, pela pandemia de Covid-19 e os cada vez mais evidentes efeitos da mudança do clima.
Neste sentido, as diferentes crises que se retroalimentam estão fazendo a América Latina e o Caribe retroceder em termos de pobreza e segurança alimentar, região que está em uma situação difícil e da qual só poderá sair com um bom diagnóstico, disse o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, ao abrir o debate.
“Estamos falando de fenômenos externos, como a pandemia, a mudança do clima e o conflito bélico na Europa, que estão afetando a segurança alimentar e, nesse sentido, consideramos muito importante que o tema faça parte da agenda da Cúpula das Américas que ocorrerá em Los Angeles. É necessário que se realize um ´side event´ na Cúpula que firme compromissos sérios por parte dos governos da região, do setor privado e de organismos como o IICA sobre esse tema”, disse Paula Uribe, Diretora de Assuntos Governamentais da PepsiCo e Presidente do Grupo de Alimentos e Agronegócios do Americas Business Dialogue.
“A convocação é uma amostra do espírito de abertura do IICA e de sua vontade de cooperação com o setor privado”, destacou Facundo Etchebehere, Vice-Presidente Global para Assuntos Públicos da Danone, que ressaltou a necessidade de o setor agroalimentar ter uma forte presença na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 27), onde a agricultura deve ser considerada parte da solução aos desafios ambientais globais.
José Perdomo, Presidente da CropLife Latin America, afirmou que um dos grandes capitais da região é a presença de pequenos agricultores com o potencial de produzir mais daquilo que já produzem atualmente, se puderem ter acesso às soluções proporcionadas pela ciência e a tecnologia.
Matt O´Mara, Diretor Sênior da ADM, valorizou o papel desempenhado pelo IICA para assegurar que a agricultura esteja presente na mesa das discussões internacionais. “Nas atuais circunstâncias, a Europa e a América precisam se aproximar para discutir e acordar políticas agrícolas, sustentabilidade e a agenda sobre o clima”, especificou.
Ronald Romero, da Fresh del Monte, considerou que os produtores agropecuários, em geral, enfrentam limitações para transferir de maneira eficaz seus aumentos de custos para o resto da cadeia de suprimentos, o que eventualmente pode afetar sua capacidade para manter os níveis de produção e pode desacelerar o investimento em desenvolvimento sustentável e pesquisa, o que é mais provável com agricultores de pequeno e médio porte.
“Estamos preocupados em produzir cada vez mais, mas o que acontece em toda a cadeia de abastecimento é que existe uma altíssima percentagem de desperdício dos alimentos. E isso não pode continuar a acontecer”, afirmou Ricardo Coto, Diretor Global de Alimentos Frescos da Price Smart.
Servando Valdez, também da PepsiCo, considerou que as empresas “têm responsabilidades, bem como os recursos para dar suporte aos nossos agricultores, assegurando a compra de seus produtos mediante contratos anuais, sistemas de inovação e tecnologia para ajudar nesses tempos de crise. Além disso, todo o setor privado, inclusive os governos, devem ser coordenar para apoiar os pequenos e médios agricultores com esquemas de comercialização e produtividade, uma vez que são eles que enfrentam o desafio mais difícil”.
“Temos observado que os agricultores de médio e pequeno porte estão reduzindo a quantidade de insumos que utilizam na produção e, como consequência, teremos uma queda lógica dos rendimentos. Isso é preocupante para cultivos estratégicos na região, como milho, arroz e feijão, cujos preços aumentarão e, portanto, gerarão mais pobreza”, advertiu, por sua vez, Carlos Torres, Diretor Regional da Syngenta para a América Central e o Caribe.
Na mesma linha, Martín Zúñiga, Diretor da CropLife para a América Central e o Caribe, previu que a atual crise poderia voltar mais grave. “Atualmente — afirmou — o problema não é de disponibilidade de alimentos, mas de preços. Os Estados devem fazer um esforço fiscal para ajudar as famílias que não poderão comprar alimentos. Deve-se ajudar os agricultores que estão enfrentando problemas de custos, porque senão teremos não apenas um problema de preços, mas de escassez relativa de alimentos”.
Por sua vez, o Presidente da DSM Latin America, Mauricio Adade, advertiu que as complicações do atual cenário de forma alguma podem levar a pensar em adiar as prioridades ambientais. “Estamos vários anos atrasados”, apontou.
Manuel Otero entregou alguns dados que refletem o impacto direto que a crise no Leste Europeu tem na produção agropecuária e nas exportações da região e nesse sentido apontou que o preço dos fertilizantes é “o calcanhar de Aquiles” de muitos países das Américas.
O Brasil, por exemplo, importa 85% dos fertilizantes que consome da Rússia e da Bielorrússia. A Rússia é o principal destino das exportações de carne bovina congelada do Paraguai e da Colômbia e compra 20% das vendas de banana do Equador. Além disso, o aumento do preço de commodities alimentares impacta fortemente países vulneráveis, como o Haiti e os do leste caribenho.
O Diretor Geral do IICA lembrou que, em março passado, o Instituto lançou, poucos dias depois da invasão à Ucrânia, um Observatório de Políticas Públicas para os Sistemas Agroalimentares (OPSAa), o qual já se tornou um instrumento relevante para ajudar os países a navegar por esse período de incerteza e instabilidade.
“A segurança alimentar — concluiu Otero — está no topo da agenda global, conforme já foi explicitado pelos principais líderes mundiais. Devemos ter claro que a agricultura, além de abastecer de alimentos e gerar divisas e empregos, é, sobretudo, um instrumento para a paz. As Américas são avalistas da segurança alimentar e nutricional e da sustentabilidade ambiental global. E esse tempo de crise nos dá a oportunidade de aprofundar o caminho de uma produção sustentável”.
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