Méndez, que pertence ao povo originário Lenca, foi criada em uma família de 13 irmãos que vivia do cultivo de grãos básicos e de hortaliças. Desde muito jovem alertou que os agricultores familiares só poderiam aspirar a melhorar sua qualidade de vida por meio da união, da cooperação mútua, da capacitação e da busca de vias diretas de comercialização.
Tegucigalpa, 27 de setembro de 2022 (IICA) — A agricultora hondurenha Eodora Méndez, que trabalha para que os habitantes das zonas rurais se organizem para ser mais eficientes tanto na produção como na comercialização dos alimentos, foi reconhecida como uma das “Líderes da Ruralidade” das Américas pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Em reconhecimento, Méndez receberá o prêmio “Alma da Ruralidade”, parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural para reconhecer homens e mulheres que marcam e fazem a diferença no campo do continente americano, essencial para a segurança alimentar e nutricional e a sustentabilidade ambiental do planeta.
Méndez, que pertence ao povo originário Lenca, foi criada em uma família de 13 irmãos que vivia do cultivo de grãos básicos e de hortaliças. Desde muito jovem alertou que os agricultores familiares só poderiam aspirar a melhorar sua qualidade de vida por meio da união, da cooperação mútua, da capacitação e da busca de vias diretas de comercialização.
Assim, capacitou-se em práticas agrícolas e em temas como acesso a financiamentos e se tornou a primeira mulher Presidente da Empresa Camponesa Agroindustrial da Reforma Agrária de Intibucá (ECARAI). Trata-se de uma organização que reúne pequenos produtores de diversas comunidades do departamento hondurenho de Intibucá. Graças a ela, 325 pequenos camponeses têm melhorado suas receitas pela produção e comercialização de grãos e hortaliças.
O prêmio Líderes da Ruralidade é um reconhecimento aos que cumprem um duplo papel insubstituível: ser avalistas da segurança alimentar e nutricional e, ao mesmo tempo, guardiões da biodiversidade do planeta pela produção em qualquer circunstância. O reconhecimento, além disso, tem a função de destacar a capacidade de promover exemplos positivos para as zonas rurais da região.
A mulher que apostou na união dos agricultores
Criada em uma comunidade rural do departamento de Intibucá, em Honduras, Eodora Méndez entendeu desde muito jovem que os agricultores familiares devem se unir e se organizar para que tenham melhores chances de progredir.
“Éramos uma família de 13 irmãos e nossos pais plantavam batata, milho, feijões e hortaliças. Eu via que as coisas eram difíceis e então dizia que era necessário nos unir a outros agricultores para fazer vendas em conjunto e sem intermediários nos mercados de Tegucigalpa ou San Pedro Sula, as maiores cidades do país, para obter melhores preços”, recorda.
A partir dessa convicção, Eodora se dedicou com paixão à vida cooperativa, com a ambição de melhorar a qualidade de sua comunidade. Para isso se capacitou não só em questões estritamente agrícolas, mas também em temas como o acesso a financiamentos e a contabilidade.
Assim, chegou à presidência da Empresa Camponesa Agroindustrial da Reforma Agrária de Intibucá (ECARAI), uma organização camponesa com visão empresarial que representa comunidades da zona alta do departamento de Intibucá, Honduras. Graças a ela, 325 pequenos camponeses se dedicam, com êxito e em conjunto, ao cultivo e à comercialização de grãos e hortaliças.
A ECARAI agrupa 13 cooperativas de base cujos membros cultivam uma média de 1,2 hectares de hortaliças de alto valor, especialmente batata. A empresa é dirigida por pequenos produtores do povo indígena Lenca, que evoluíram de uma agricultura de subsistência a um sistema de produção e negócios de escala.
“A empresa foi fundada em 1994, mas até 2005 quase não conseguiu avançar, pois as pessoas não tinham o conhecimento necessário para melhorar a produção e a comercialização. Então percebemos que era necessária uma mentalidade diferente, que colocasse em primeiro plano a capacitação e a organização”, conta Eodora.
“A organização — acrescenta — é muito importante, pois quando um agricultor anda só, as coisas são difíceis. Por exemplo, é complicado ter continuidade na produção para ter acesso aos mercados. Quando há mais atores juntos, todo funciona melhor. É mais fácil montar planos de plantio para assegurar a produção que os mercados precisam. Tudo se baseia em fazer um bom planejamento”.
Orgulho indígena
Com raízes indígenas, uma vez que pertence ao povo Lenca, que habita parte de Honduras e El Salvador, Eodora sempre foi apaixonada pela agricultura. Tinha apenas 15 anos quando pediu a seu pai que separasse um pequeno lote para ela, pois queria ter seus cultivos para gerar suas próprias receitas e não depender de ninguém. “Meu pai, já falecido, deixou-me lições muito boas para cuidar da terra da melhor maneira e me preparar para ser uma boa agricultura”, diz com orgulho.
Em seguida participou de um grupo de jovens que confeccionavam tecidos artesanais, antes de voltar à agricultura. Já casada, juntamente com seu marido, tiveram quatro filhos e se dedicaram ao cultivo de hortaliças e de grãos básicos, alimentos que sustentam cotidianamente as mesas dos hondurenhos e hondurenhas.
Mas ela sentia que precisava de mais, e por isso se capacitou e começou a participar das organizações comunitárias, esperando contribuir para o bem-estar de sua gente. Para isso, teve que enfrentar os preconceitos sociais sobre o papel da mulher.
“Eu preferi não ouvir — afirma — o que muita gente dizia. E tive a sorte de meu esposo reconhecer que os homens às vezes são machistas e não querem que as mulheres saiam de casa. Ele entendeu que eu queria trabalhar para que progredíssemos juntos”.
As primeiras colheitas de Eodora se deram graças ao financiamento do Programa Minha Terra, promovido pela Fundação para o Desenvolvimento Empresarial Rural, FUNDER. É uma organização sem fins lucrativos que promove a associação de famílias camponesas para favorecer uma produção sustentável em condições competitivas, em harmonia com o meio ambiente, com igualdade de gênero e que, por sua vez, proporcione aos agricultores receitas que estejam acima da linha de pobreza.
Em 2014, Eodora se uniu a ECARAI e em 2016 se tornou a primeira mulher presidente da empresa, cargo que ocupou até 2020 e para o qual foi novamente eleita em 2022.
Hoje, além disso, é a presidente do Consórcio Agrocomercial de Honduras, uma associação que busca tornar mais eficientes os processos de produção dos pequenos produtores e melhorar sua posição nos mercados. O Consórcio é integrado por ECARAI e outras sete empresas agrícolas dos departamentos hondurenhos de Intibucá, El Paraíso, Francisco Morazán, La Paz e Cortés.
O Consórcio oferece aos agricultores financiamento, assessoramento técnico e facilidade de comercializar seus produtos sob a marca coletiva El Agricultor, que oferece alimentos frescos e saudáveis aos consumidores.
“Os agricultores enfrentam problemas como pragas, doenças, aumentos dos custos de insumos e, certamente, o impacto da mudança do clima. Há secas bem longas que deixam os rios e os poços que usamos para irrigação sem água. E há tempestades muito fortes que levam os nutrientes do solo. Com a organização, também podemos combater essas dificuldades”, conta Eodora.
“Devemos proteger a agricultura. Se não mudarmos as práticas, um dia não poderemos mais produzir. Não queremos ficar para trás, por isso buscamos melhorias contínuas pela assistência técnica e por novas tecnologias. Também focamos na utilização de insumos que não sejam tóxicos, para cuidar o ambiente e da saúde do produtor e do consumidor”, acrescenta.
Eodora também se aproxima constantemente dos jovens para explicar as possibilidades oferecidas pela agricultura: “Alguns decidem sair do país, mas eu digo que, sem sacrifício, não se consegue nada em nenhum lugar. Eu explico que aqui temos os recursos naturais, e tudo é uma questão de alguém se propor e se capacitar para encontrar oportunidades”.
“Quando se busca formas de agregar valor aos cultivos, explorar diversas vias de comercialização, cuidar da sua terra e saber administrá-la, a agricultura pode ajudar muitas pessoas”, conclui.
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