A pandemia de Covid-19 gerou um significativo aumento do comércio digital e tem provocado numerosas experiências valiosas para sistematizar e elaborar novas estratégias de desenvolvimento para as populações rurais da América Latina e do Caribe.
São José, 12 de abril de 2021 (IICA) — As ferramentas digitais oferecem uma oportunidade de ouro para os agricultores familiares para potencializar sua inserção nos mercados.
A pandemia de Covid-19, que gerou um significativo aumento do comércio digital, tem provocado numerosas experiências valiosas nesse sentido que devem ser resgatadas e sistematizadas para o estabelecimento de novas estratégias que ofereçam melhores possibilidades de desenvolvimento às populações rurais da América Latina e do Caribe.
Essa foi uma das conclusões tiradas da primeira jornada do Ciclo de Foros sobre Extensão e Comércio Digital da Agricultura Familiar, em que se busca analisar as necessidades, os desafios e as oportunidades de levar a digitalização à agricultura e aos territórios rurais.
O ciclo consta de cinco sessões no total, as quais ocorrerão em abril, e é um espaço para debater sobre os modelos institucionais de assistência técnica e extensão rural (ATER) digital nas cadeias produtivas, particularmente no cenário pós-Covid-19.
Trata-se de uma série de encontros virtuais organizados pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a Rede Latino-Americana de Serviços de Extensão Rural (RELASER), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e a FAO.
Como parte das estratégias para atender ao desafio da digitalização rural nas Américas, destacou-se no foro a parceria do IICA com a Precision Agriculture for Development (PAD), organização cofundada pelo professor da Universidade de Chicago, Michael Kremer, Nobel de Economia de 2019, para levar serviços de extensão rural com soluções de baixo custo, basicamente usando a telefonia móvel.
O IICA e a PAD desenvolvem, em conjunto com o MAPA do Brasil, um projeto de assistência remota que alcançará até 200.000 pequenos produtores da Região Nordeste do país que vivem da criação de ovinos e caprinos e do cultivo de milho e feijão para melhorar os rendimentos em sua produção e aumentar suas receitas.
A PAD também expôs iniciativas que desenvolve em países como Índia, onde, juntamente com o governo, desenvolvem o projeto Odisha, Índia: Ama Krushi.
“Por esse projeto, transfere-se conhecimentos e serviços de extensão a mais de um milhão de agricultores. Os beneficiários, que se dedicam ao cultivo de 20 produtos, recebem semanalmente chamadas de agentes de extensão por esse sistema ou por ligações para uma linha gratuita na qual suas consultas são atendidas”, disse Claudia Carbajal, Diretora Regional para a América Latina da PAD.
Por sua vez, Heiner Baumann, cofundador e Diretor Gerente da PAD, ressaltou como crucial o desenvolvimento de abordagens de baixo custo centradas nos agricultores. “Se conseguirmos implementar ações a baixo custo, poderemos alcançar não apenas milhares, mas milhões de agricultores”, mencionou.
Federico Villarreal, Diretor de Cooperação Técnica do IICA, disse que o comércio e a extensão digital estão entre as prioridades do organismo internacional especializado e são de grande importância para a agricultura e a ruralidade das Américas.
“As tecnologias têm transformado a maneira como nos comunicamos, como nos relacionamos, a nossa forma de pensar a tecnologia e de pensar nela. Deve-se procurar a competitividade nos diversos mercados e pensar na demanda mais do que na oferta”, assegurou Villarreal.
Também participou da sessão inicial Sandra Ziegler, Consultora do IICA, que expôs sobre os estudos “Desigualdade digital de gênero na América Latina e no Caribe”, “Conectividade rural na América Latina e no Caribe: Uma ponte para o desenvolvimento sustentável em tempos de pandemia”; e “Habilidades digitais na ruralidade: Um imperativo para reduzir hiatos na América Latina e no Caribe”, realizados, o primeiro, pelo IICA juntamente com a Universidade de Oxford, a Microsoft, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); e os outros dois, com a Microsoft e o BID.
De acordo com as pesquisas, Ziegler mostrou que os hiatos e as oportunidades são amplos em termos de digitalização rural. “Em média — afirmou —, 64% dos moradores rurais não têm acesso a uma conectividade significativa. A falta de habilidades digitais é uma limitação que, reunida à utilização e ao acesso desigual conforme o gênero, cerceia as oportunidades de desenvolvimento das mulheres”.
María Auxiliadora Briones, Presidente do FUNICA/RELASER, considerou que “a situação atual nos obriga, a todos os atores do setor, a focar na forma de produzir e levar serviços, para que essa produção seja de qualidade e possa abastecer o mundo de alimentos”.
Por sua vez, Octavio Sotomayor, oficial de assuntos econômicos da Unidade de Agricultura e Biodiversidade da CEPAL enfatizou que as regulamentações devem incluir as agendas digitais setoriais.
“Para fazer a transição para modelos produtivos sustentáveis, é necessário concentrar o investimento em recursos de baixo custo. As organizações locais devem ter um papel ativo na promoção desses investimentos”, expressou.
Luiz Carlos Beduschi, oficial de políticas do Escritório Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, enfatizou que os hiatos existentes entre países, territórios e populações devem ser reduzidos, pois tornam o cenário da agricultura 4.0 mais complexo: “Deve-se fortalecer o processo de construção de políticas públicas, pois nos aproximamos de um momento em que o acesso à Internet será tão importante quanto o acesso à luz elétrica”.
O próximo foro, denominado “Hispanoamérica” será realizado no próximo dia 14 de abril, às 8:00 horas, hora da Costa Rica.
Apresentações e informações gerais do ciclo de foros.
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