Flies vivia na cidade de Toronto com o esposo, Brent Preston, e os dois filhos pequenos, quando decidiram se mudar para o campo e instalar uma fazenda para o cultivo dos alimentos saudáveis que queriam dar a seus filhos, contribuindo, ao mesmo tempo, para a saúde do meio ambiente.
São José, 2 de maio de 2022 (IICA) – Gillian Flies, que pratica a agricultura regenerativa em sua fazenda na província canadense de Ontário e luta para todos os consumidores terem acesso a alimentos orgânicos, foi reconhecida como uma das “Líderes da Ruralidade das Américas” pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
O prêmio, denominado “Alma da Ruralidade”, é parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural para homenagear homens e mulheres que deixam rastro e fazem a diferença no campo do continente americano, elemento-chave para a segurança alimentar e nutricional e a sustentabilidade ambiental do planeta.
Flies vivia na cidade de Toronto com o esposo, Brent Preston, e os dois filhos pequenos, quando decidiram se mudar para o campo e instalar uma fazenda para o cultivo dos alimentos saudáveis que queriam dar a seus filhos, contribuindo, ao mesmo tempo, para a saúde do meio ambiente.
Assim, criaram A Fazenda Nova (The New Farm), em que produzem alimentos orgânicos com o uso da agricultura regenerativa, que ela define como um tipo de agricultura que deixa o solo e o meio ambiente em geral em condições melhores do que as anteriores. Na fazenda são treinados agricultores jovens interessados em aprender boas práticas.
Atualmente, Gillian Flies é presidente da Associação de Produtores Orgânicos Canadenses e Brent Preston, presidente da Associação de Agricultores Ecológicos de Ontário.
O Prêmio Líderes da Ruralidade é um reconhecimento para os que cumprem um duplo papel insubstituível: ser avalistas da segurança alimentar e nutricional e, ao mesmo tempo, guardiões da biodiversidade do planeta por meio da produção em qualquer circunstância. O reconhecimento, além disso, tem a função de destacar a capacidade de promover exemplos positivos para as zonas rurais da região.
Gillian Flies, a profissional que abraçou a agricultura para tornar o planeta um lugar melhor
Gillian Flies e seu esposo, Brent Preston, viviam com os dois filhos pequenos em um apartamento de dois quartos de Toronto, a cidade mais populosa e o maior centro financeiro do Canadá.
Tinham bons empregos, ela como consultora de organizações e ele como produtor de TV, e viviam bem. Quando, porém, se voltavam para o seu entorno, viam situações que os preocupavam: aquecimento global, mudança do clima, número crescente de pessoas com problemas de saúde, cada vez mais obesidade.
“Em determinado momento, nos demos conta de que todas essas coisas se relacionavam diretamente com a forma como produzimos os nossos alimentos. Então, faz uns 15 anos, decidimos nos mudar para o campo e montar uma fazenda orgânica para nos ocuparmos dessas questões, mostrando ainda que é possível fazer agricultura de outra maneira. Queríamos cultivar o tipo de alimentos que desejávamos dar a nossos filhos e, ao mesmo tempo, contribuir para fazer do mundo um lugar melhor, porque entendíamos que esperar pelas soluções trazidas pelos outros não era a opção”, conta Gillian.
Gillian e Brent mudaram então de vida e instalaram “A Fazenda Nova” (The New Farm) em Creemore, na província de Ontário, a uma hora e meia de distância ao norte de Toronto. Nenhum dos dois tinha conhecimentos técnicos sobre agropecuária, apesar de Gillian ter crescido em Vermont, na costa leste dos Estados Unidos, em um pasto de ovelhas que era o passatempo do seu pai.
A partir desse momento, aprenderam o novo trabalho graças às conversas com outros agricultores, ao que pesquisavam em livros e na internet e às importantes contribuições das organizações de produtores. Assim, em meio a erros e acertos, foram superando as frustrações do início e construindo um caminho para a produção de alimentos saudáveis, contribuindo para o bem-estar da sua comunidade e a melhoria do meio ambiente.
“Quando começamos a produzir alimentos”, recorda Gillian, “a primeira coisa que observamos é que havia uma barreira ao acesso aos alimentos saudáveis, produzidos de uma forma em que não se externaliza nenhum dos custos ambientais da atividade agropecuária. Esse tipo de produtos, no supermercado, são mais caros que os alimentos tradicionais”.
Gillian e Brent lançaram então o programa “Fazendas para a Mudança” (Farms for Change).
“O que fazemos é coletar dinheiro de grandes doadores e de membros da nossa comunidade, que é muito generosa, e com ele produzir e enviar alimentos saudáveis a organizações dedicadas à alimentação em Toronto e em outros lugares da província de Ontário. Já arrecadamos quase dois milhões de dólares para esse programa e enviamos milhares e milhares de quilos de produtos orgânicos para 15 organizações sociais”, conta ela.
A descoberta da agricultura regenerativa
Depois de alguns anos trabalhando em sua fazenda orgânica, Gillian e Brent chegaram à conclusão de que não estavam de acordo com algumas das práticas que realizavam, como a lavoura permanente, porque não eram boas para a saúde dos solos e do meio ambiente em geral.
“Embora a orgânica seja, de longe, a forma de agricultura mais benéfica para o meio ambiente, também gera problemas. Depois do Acordo de Paris sobre mudança do clima, assinado em 2015, começamos a ouvir falar da agricultura orgânica regenerativa e de como ela pode contribuir para os solos sequestrarem carbono. Quando começamos a investigar em profundidade as práticas regenerativas, nos surpreendemos com o seu potencial”, diz Flies.
“O carbono é necessário para a vida”, acrescenta, “mas o problema é como ele se distribui. Devido às práticas produtivas utilizadas nas últimas décadas, há demasiado carbono na atmosfera e pouco e insuficiente no solo. Assim, hoje na nossa fazenda nos concentramos em sequestrar mais carbono do que o que emitimos e em não aplicar ao solo agroquímicos nem nada que mate a vida. Nunca deixamos o solo descoberto. Por isso, somos agora uma fazenda de treinamento em que muitos agricultores jovens aprendem agricultura regenerativa”.
Gillian Flies é atualmente presidente da Associação de Produtores Orgânicos Canadenses e Brent Preston, presidente da Associação de Agricultores Ecológicos de Ontário.
“A agricultura regenerativa é”, na sua definição, “uma forma de produzir alimentos que deixa o solo mais saudável do que antes e melhora a situação ambiental em geral, pois sequestra carbono e reduz as emissões de gases de efeito estufa. As práticas da agricultura regenerativa incluem a redução ou a eliminação da lavoura, o uso de cultivos de cobertura em vez de fertilizantes nitrogenados e o não emprego de pesticidas, herbicidas e fungicidas. Esse método realmente beneficia a biodiversidade, porque inclui a plantação de árvores e a integração dos animais ao meio ambiente”.
A Fazenda Nova de Creemore, Ontário, foi a primeira fazenda do Canadá certificada em agricultura orgânica regenerativa, e os seus donos se surpreenderam tanto com os benefícios ambientais como com a rentabilidade. Hoje, eles promovem a transição de unidades produtivas de outros áreas do país para esse método, para que se tornem mais resilientes.
“Por meio das organizações com que eu e meu esposo trabalhamos, construiu-se uma coalizão de 24 entidades que representam mais de 20.000 agricultores, chamada Agricultores para Soluções Climáticas (Farmers for Climate Solutions), e estamos desempenhando um papel importante no chamado para uma agricultura amigável com as políticas contra a mudança do clima, e o mais estimulante é que o governo do Canadá está nos escutando e começando a destinar dinheiro para a implementação dessas práticas”, entusiasma-se ela.
Gillian está preocupada com a necessidade de atrair jovens para a agricultura e, neste sentido, sustenta que o primeiro passo é garantir a rentabilidade da atividade: “No Canadá, como em outros países, os agricultores não estão ganhando o suficiente e a maioria dos produtores tem uma segunda atividade para complementar a sua renda. As grandes empresas estão comprando cada vez mais terras para formar enormes conglomerados, e para os pequenos produtores é cada vez mais difícil competir. No entanto, há muito espaço para os governos incentivarem os jovens por meio do pagamento dos serviços ecossistêmicos que a agricultura pode oferecer. Falta também mais ajuda estatal aos agricultores familiares que produzem os alimentos que consumimos todos os dias. Nem tudo deve ser commodities agrícolas”.
“Nós, os agricultores”, conclui, “estamos na primeira linha do combate à mudança do clima. Não temos muito tempo e necessitamos de uma revolução na forma como cultivamos os nossos alimentos. Os governos e os consumidores precisam conhecer o papel da agricultura regenerativa e apoiá-la. Nós, os agricultores, devemos produzir alimentos em meio a um caos climático, e isso é difícil, mas também temos a enorme oportunidade de sermos parte da solução ao aquecimento global. E esta é a nossa responsabilidade”.
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