O prêmio é parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural para o reconhecimento dos homens e das mulheres que deixam rastro e fazem a diferença no meio rural da América Latina e do Caribe.
São José, 1 de junho de 2021 (IICA). A produtora de café Elvia Monzón, Presidente da Associação Integral de Cafeicultores Rancho Viejo (AIDEC), da Guatemala, receberá o prêmio “A Alma da Ruralidade”, que o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) outorga a líderes eminentes da ruralidade das Américas.
O prêmio é parte de uma iniciativa do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural para o reconhecimento dos homens e das mulheres que deixam rastro e fazem a diferença no meio rural da América Latina e do Caribe.
Além de receber o prêmio “A Alma da Ruralidade” como reconhecimento, os líderes rurais premiados pelo IICA serão convidados a participar de diversas instâncias assessoras do organismo especializado em desenvolvimento agropecuário e rural.
“Trata-se de um reconhecimento para os que cumprem o duplo e insubstituível papel: o de avalistas da segurança alimentar e nutricional e o de guardiões da biodiversidade do planeta por sua atuação na produção em qualquer circunstância. O reconhecimento, além disso, tem a função de promover exemplos positivos para as zonas rurais da região”, disse o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero.
No âmbito da iniciativa, o IICA trabalhará para que o reconhecimento facilite vinculações com organismos oficiais, da sociedade civil e do setor privado para a obtenção de apoio às suas causas.
“Falamos de pessoas cuja pegada está presente em cada alimento que consumimos onde quer que estejamos, em cada lote de terra produtiva e nas comunidades em que elas e as suas famílias vivem. São homens e mulheres que deixam rastro e são a alma da ruralidade porque produzem, plantam, colhem, criam, inovam, ensinam e unem”, afirmou o Diretor Geral do IICA, Manuel Otero, ao lançar a iniciativa.
“São pessoas que encarnam lideranças silenciosos que é preciso visibilizar e reconhecer. São, sobretudo, exemplos de vida. Porque transformam, superam adversidades e inspiram”, acrescentou.
O IICA trabalha com as suas 34 Representações nas Américas na escolha dos primeiros #Líderesdelaruralidad.
Os resultados da primeira etapa da iniciativa serão apresentados ao Comitê Executivo do IICA, uma das instâncias de governo do Instituto.
Elvia Monzón: uma liderança fundamental para promover a presença feminina na cafeicultura da Guatemala
No seu 50º aniversário, Elvia Monzón recebeu um presente de que nunca esquecerá: o torrador com que tanto tinha sonhado para a Cooperativa Integral de Pequenos Produtores de Rancho Viejo, organização que dirige em San Antonio Huista, Guatemala.
“Foi uma coincidência inesquecível”, declarou a cafeicultora. “Em 19 de fevereiro, dia do meu aniversário, o PROCAGICA nos surpreendeu com o torrador. Olhava para aquele equipamento tão bonito e não sabia como iríamos manejá-lo”, contou.
Mas para Elvia, líder natural, este foi o menor dos problemas. O torrador chegou pouco antes da eclosão da pandemia da Covid-19, e a quarentena atrasou o treinamento no seu uso. “Aprendemos por nossa conta, observando os torradores na primeira visita, e o café saiu excelente”.
O torrador de café é parte do plano de fortalecimento das organizações de produtores promovido pelo PROCAGICA (Programa Centro-Americano de Gestão Integral da Ferrugem do Café) para melhorar a sua integração na cadeia do café. Com isso, a organização poderá gerar valor agregado e comercializar o produto a preços melhores.
Elvia cresceu em San Antonio Huista e desde pequena aprendeu sobre o cultivo do café.
“O meu pai plantava café, e desde os meus 7 anos ele me levava para a colheita. Naquelas ocasiões, não vinha gente de outros lugares, e ele e a sua família trabalhavam na colheita”, lembrou. “Quando completei 17 anos, me deu um terreno de 5 cordas, onde eu mesma fiz o meu viveiro e cuidei das minhas mudas desde então”.
Na sua juventude, ainda solteira e com ajuda dos irmãos, tirava até 15 quintais de café do terreno. Casou-se aos 20 anos, e a sua vida transcorreu normalmente até 2001, quando o marido emigrou para os Estados Unidos e ela ficou sozinha cuidando de quatro filhos menores, de 12, 10, 5 e 3 anos.
Elvia, porém, não perdeu a vontade de progredir.
“Os meus filhos me empurraram para seguir em frente; eu queria trabalhar duro pela minha família. Como cultivava café, precisava me capacitar para melhorar a produção. Procurei então um grupo de amizades e me incorporei à associação AIDEC”, que é a Associação Integral de Cafeicultores Rancho Viejo.
Em 2013, ela era a única mulher do grupo, integrado por mais 15 homens.
“Não foi fácil para mim, pois os homens me perguntavam para que eu me capacitava se sozinha não podia fazer o trabalho; mas eu sempre me defendia dizendo que podia compartilhar os conhecimentos com outras pessoas”, afirmou.
“Quando ingressei, comecei a aconselhar as demais mulheres a que procurassem receber o apoio das diferentes instituições; outras duas entraram no meu segundo ano de cooperativa”, acrescentou.
Esse papel de liderança ressoou na Associação Nacional do Café, a Anacafé, da Guatemala.
“Ela motivou mais mulheres”, disse Magdali Martínez, especialista em desenvolvimento integral da entidade.
“Dona Elvia tem influência, e os homens líderes da comunidade reconhecem a sua liderança e a respeitam. A princípio houve certa resistência, mas agora a reconhecem e a sua própria organização a coloca à frente de todos os projetos”, contou.
A participação da mulher nas organizações produtivas é fundamental, afirmou María Febres, Representante de IICA na Guatemala. “Elas têm demonstrado liderança, perseverança e, sobretudo, transmitem confiança aos seus parceiros devido aos resultados alcançados. Para elas, o caminho não é fácil, devem trabalhar muito e demonstrar que realmente podem contribuir para conseguir mudanças, quebrando, dessa maneira, estereótipos e alcançando cargos gerenciais de muita responsabilidade”, opinou.
Quando, em 2015, começou a dirigir a AIDEC, Elvia já tinha conseguido reunir mais de 10 mulheres. Em 2017, a organização se transformou em cooperativa, e ela assumiu a sua presidência. Atualmente, a organização tem 56 membros, dos quais 15 são mulheres.
“Estamos comercializando cerca de 1.500 quintais de café pergaminho e, com ajuda da ACODIHUE (Associação de Cooperação para o Desenvolvimento Integral de Hueuetenango), conseguimos achar mercado. Temos tido o acompanhamento da Anacafé e do IICA, por meio do PROCAGICA, e conseguimos renovar a maior parte dos cafezais, pois eles nos têm apoiado com fertilizantes, adubos orgânicos e fungicidas”, informou.
Atualmente, vive com dois dos seus filhos e uma menina que adotou. Mantém no seu terreno 20 colmeias, que produzem até 6 quintais de mel. Também cria coelhos e, como parte da diversificação de cultivos no seu cafezal, plantou abacateiros e vende em torno de 1.800 abacates. “Nunca nos falta comida”, assegurou.
A pandemia freou um pouco os planos de crescimento da cooperativa e o uso do torrador. A paralisação do transporte público deteve o processamento de café de aldeias próximas, uma vez que a maioria dos produtores locais transporta o café em micro-ônibus.
No pós-pandemia, Elvia espera tornar realidade outro sonho: o de que a cooperativa adquira um galpão para armazenar o café.
“Atualmente muitos parceiros vendem parte da sua produção a intermediários porque não temos onde guardar o café. Queremos comprar uma propriedade para fazer um armazém; não morrerei antes de ver em Rancho Viejo um lugar onde possamos armazenar o café e um mercado que nos pague um preço digno”, declarou.
O PROCAGICA é um programa executado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) com a União Europeia, que tem por objetivo melhorar as condições de vida da população rural das zonas produtoras de café da América Central e da República Dominicana.
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